18 de julho de 2010

O MODELO DO NEGÓCIO (ii)

MODELO DO NEGÓCIO (II) Juan Luis Cebrián é jornalista, diretor e fundador de um dos mais importantes jornais da atualidade. Ao lado dos americanos e dos ingleses, o El País, jornal espanhol, desfruta de prestígio e qualidade em todo o mundo. Líder em tiragem e circulação na Espanha e na Europa, nos últimos anos vem amargando tiragens cada vez menores e por um bom tempo viu também emagrecer o seu faturamento publicitário, especialmente em 2009. Sentado em sua vasta experiência e autoridade no assunto de comunicação, ele transmite algumas convicções e palpites para o futuro. A - A internet é um fenômeno de desintermediação. Que futuro aguarda os partidos políticos, sindicatos e os meios de comunicação num mundo desintermediado? B - Os jornais, tais como os conhecemos, se acabaram, adeus. Não significa dizer que deixarão de existir. É a constatação de que os impressos pertencem à sociedade industrial, e não estamos mais nela. Entramos na era digital, adeus sociedade industrial. No ano passado cerca de 600 jornais fecharam as portas nos Estados Unidos, alguns deles com muita tradição. Em geral, jornais nascem defendendo bandeiras políticas e, ao se manterem à custa das receitas publicitárias, preservam sua independência. Como esse modelo ficará? Que tipo de jornalismo queremos ter na rede? São veículos diferentes. Isso não está claro. C - Teremos de investir em capital humano na rede se quisermos fazer diferença: ter bons jornalistas, gente com preparo para enfrentar operações globais e mudar a nossa forma de pensar. Continuamos a fazer jornais como se fossemos o centro do mundo. Creio que já me livrei da dúvida se a internet é uma ameaça ou uma oportunidade. Estou convicto de que é uma oportunidade. Volto ao primeiro artigo dessa série quando um diretor de TV meu amigo disse-me que não o passaria para outras pessoas, embora tenha gostado, “porque o artigo era contra o ganha-pão dele”. Mas não é só ele, todo o mercado de comunicação chamado de velha mídia comporta-se assim. Mesmo constatando-se que a convergência de mídias vem se aprofundando, o modelo do negócio não aceita inovações. Isso porque os números financeiros são consideráveis. O mercado de publicidade no Brasil cresceu 25% no primeiro trimestre de 2010, comparando-se com o mesmo período do ano passado. Isso significa 5 bilhões e meio de reais. Desse bolo a TV aberta ficou com 63% do total. O restante foi dividido entre jornais, rádios, revistas, TV por assinatura e outras mídias. A web ficou no fim da fila com 4% do faturamento, a mesma do rádio e maior que a da TV por assinatura. Ficou com 234 milhões apenas. Mas o salto percentual é que assusta o setor. Foi de 37% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso considerando que a internet não tem a boa vontade da espinha dorsal do sistema, as agências de publicidade, que no final são as que ficam com a grande parte da bolada, pois Brasil é o país mais conectado à internet e o que menos investe em publicidade online, no mundo. Com esse diagnóstico chegou ao Brasil uma das maiores agências digitais do mundo, a americana Razorfish. E chegou comprando briga com a proposta de transparência e de educação aos clientes para acabar com essa diferença. E os sopapos não tardaram quando seu principal executivo, senhor Joseph Crump alardeou que é contra a prática de bonificação por volume, o BV, que faz a lucratividade das agências tradicionais uma festa. E mais disse outro executivo do grupo, Fernando Tassinari “é preciso educar as marcas para quebrar esse ciclo vicioso". - As agências não querem trabalhar no digital. Estão preocupadas com o dinheiro e não com investimentos, queremos mudar isso, disse o senhor Crump. Completou argumentando que o investimento maciço em TV descarta uma parcela importante da sociedade brasileira, afirma ele. Isso foi o suficiente para a Razorfish plantar um rosário de espinhos e punhais no seu caminho aqui no Brasil. No dia seguinte à declaração veio nota da Federação das Agências de Publicidade, FENAPRO, e comunicado de todas as instituições ligadas ao setor e notas das maiores agências do país onde ressaltavam “que ajudaram a construir o atual modelo, apóiam e o defendem como o melhor para o mercado”. E como argumento derradeiro ressaltou que conseguiram do presidente Lula uma Lei legalizando o tal do BV. Arrematando, o vice-presidente da FENAPRO, senhor Humberto Martins rosnou que “o mal do nosso país é aceitar passivamente que esse e outros Crumps, venha aqui e como verdadeiras vestais interfiram na nossa vida”, ou na festa, digo eu. Enquadraram a senhora Razorfish. Mais, saiba ela que é questão de tempo, a audiência e as tiragens é que irão mudar isso um dia. Uma hora o anunciante vai se dar conta. O Brasil é assim, sempre está na contramão do mundo. O Presidente da WPP, a maior agência de publicidade do mundo em faturamento, Martin Sorrel, atribui o grande crescimento dos Brics, (sigla que designa o grupo de países formado pelo Brasil, China, Rússia e Índia), ao investimento em mídias móveis e que com os consumidores passando cada vez mais tempo conectados à internet, a tendência é que os números sobre investimentos em novas mídias crescem em velocidade avassaladora. Segundo seu vice-presidente operacional, Michael Mendenhall “o maior atrativo das novas mídias é que os anunciantes podem ir além o modelo tradicional de uma mensagem para as massas e conversar com o consumidor”. Eles desejam sair do marketing invasivo para o de relacionamento. Hildeberto Aleluia é jornalista

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