10 de dezembro de 2014

ALGODÃO NO OESTE DA BAHIA

O cultivo de algodão nas fazendas do Oeste da Bahia desponta no cenário atual brasileiro como uma verdadeira ilha de produtividade. Com uma produção de 1,25 milhão de toneladas e utilizando o que há de mais moderno no processo de produção agrícola e graças a um trabalho duro e anos de pesquisas, o cerrado baiano já se apresenta hoje como um dos líderes mundiais em produtividade no cultivo e plantio de algodão, ocupando o segundo lugar na produção nacional, superado apenas pelo Município de Sorriso, no Mato Grosso.

O algodão, segunda cultura em tamanho de área na região (a maior é a de soja), surgiu na última década com maior destaque entre as culturas da região, com produtividade média de 270 arrobas por hectare, a segunda maior no ranking mundial, perdendo apenas para a Austrália (271 arrobas por hectare).

Levantamentos feitos pelo Conselho Técnico da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) confirmou as estimativas de pesquisas anteriores, indicando que os preços históricos da commodity antes do plantio levaram ao crescimento de 51% na área plantada, e o Oeste baiano colheu 1,5 milhão de toneladas de algodão em capulho, ou 601 mil toneladas de pluma. O Valor Bruto da Produção (VBP) do algodão chegou a superar o da soja, em termos financeiros, que tem mais que o dobro de área, ficando em R$ 2,53 bilhões, contra R$ 2,42 bilhões da oleaginosa.

Grandes saltos na produção de algodão, no oeste baiano, também foram registrados na temporada 2003/04, quando a área do cerrado subiu de 66,8 mil hectares para 163,5 mil hectares. No período 2010/11, o salto foi ainda maior – a região chegou a ocupar mais de 370 mil hectares com a cultura do algodão.

A produtividade média do cerrado baiano, no cultivo de algodão, de 270 arrobas por hectare, perde apenas para a Austrália (271 arrobas por hectare), e supera a média nacional (250,8 arrobas por hectare) e a da China, com 226,1 arrobas por hectare.

Os principais compradores de algodão do cerrado baiano são países asiáticos. Coréia do Sul (22%), Indonésia (16%) e China (13%) foram os maiores compradores na última safra.

Produtores e pesquisadores locais avaliam o resultado da safra como muito bom, não apenas para o Oeste, mas para todo o agronegócio brasileiro. Consideram que este ano a safra foi memorável. Representaram, na verdade, os primeiros grandes resultados de uma nova era.

Na última década, ocorreu uma grande valorização da produção agrícola no Oeste da Bahia. Trabalhadores e produtores ampliaram e modernizaram as lavouras e passaram a ser melhor remunerados. Isto é de grande importância para um segmento que tem a missão nobre, embora ainda pouco conhecida, de alimentar o mundo e garantir o atendimento à demanda de uma população brasileira, e mundial, que cresce em ritmo acelerado.

E todos esses impressionantes avanços ainda parecem sugerir que o grande e único desafio da agricultura do Oeste da Bahia não para por aí e segue firme nessa busca constante por melhorias na infraestrutura, nas condições de trabalho e nos ganhos por produtividade.

HILDEBERTO ALELUIA está estudando e conhecendo o Oeste da Bahia

12 de novembro de 2014

O OESTE DA BAHIA

É voz corrente entre eles mesmos que o agricultor brasileiro é muito bom da porteira para dentro. Da porteira para fora é um fracasso. E é a mais pura verdade. São eficientes no plantio e na colheita, como também em produtividade quando chegam até a superar níveis dos melhores países do mundo como Estados Unidos e Austrália.

Na soja e no algodão somos quase que imbatíveis. Mas na hora de reivindicar direitos, gritar por créditos, de mostrar ao país o quanto o agronegócio é importante, nem os produtores e nem o Ministério da Agricultura sabem como fazer. O resultado é um esforço heroico para produzir, armazenar, transportar e vender.

Apenas o oeste da Bahia, numa região também conhecida como Alto São Francisco que congrega 27 municípios e onde se destacam as cidades de Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, São Desiderio e Formosa do Rio Preto, produzem cerca de cinco por cento do PIB ( Produto Interno Bruto) agrícola brasileiro, e quinze por cento do PIB do estado da Bahia.

As estradas são precárias, não tem energia, o celular e a internet são deficientes, não existem armazéns para que os produtos aguardem preços melhores e o escoamento, quase cem por cento, é feito por via rodoviária. Apenas para escoar a safra de soja de um dos produtores de Formosa do Rio Preto são necessários 50 mil caminhões.

Se todo esse esforço não bastasse, os agricultores daquele eldorado são obrigados a conviverem com grileiros, assaltantes de insumos agrícolas e uma justiça omissa que não decide os muitos processos de reintegração de posse. A região é tão isolada e desprotegida que os juízes têm medo de decidir as graves questões fundiárias que assolam a região.

Dois por cento da produção do oeste baiano eram transportados por via fluvial chegando até o rio São Francisco. Todos os afluentes da margem direita do Rio estão secos diante da grave estiagem que assola a região. É o suficiente para a mídia do centro sul do País atribuir ao agronegócio a gravidade da situação. Ignorância e desinformação mais uma vez tomam o lugar da verdade.

Todo o agronegócio do oeste baiano está situado na margem esquerda do São Francisco onde os afluentes, apesar da seca, continuam caudalosos e são os responsáveis pela pouca quantidade de água que ainda abastece “o velho Chico”.

É mentira que o agronegócio seja responsável pela emissão de gás carbônico. É mentira que o agronegócio não preserva o verde e é mentira que o agronegócio não preserve a natureza. Quem duvida vá até lá conferir. Quem destroe os rios são as cidades. Todas elas jogam seus esgotos nas águas dos afluentes da margem esquerda.

Nenhum ecologista, nenhum “verde”, nenhum defensor do ecossistema levanta sua voz contra esse crime. É uma pena que o Brasil desconheça o que o Oeste da Bahia tem.

Hildeberto aleluia é jornalista e está conhecendo e estudando o oeste baiano.

A internet e o futuro das mídias

Marcio Salgado

A internet está promovendo a maior revolução a que o mundo já assistiu, com reflexos na vida cotidiana e nas mais diversas áreas do conhecimento humano. “O futuro da internet: o mundo da dúvida” (Topbooks, 2014), do jornalista Hildeberto Aleluia, apresenta argumentos e exemplos concretos que comprovam essa afirmação.

Com o advento da internet, as mídias tradicionais passam por grandes mudanças a fim de sobreviver, e as consequências são observadas desde já, mas são imprevisíveis para as próximas décadas. Doravante, o rádio, a TV e o jornal impresso jamais serão os mesmos.

No Brasil, de acordo com Aleluia, a internet segue “absoluta na preferência dos leitores, e a cada dia vai solapando os alicerces da velha mídia com a diminuição das tiragens impressas e a queda da audiência no sistema televisivo”(p. 58). Essas mídias tentam se reinventar, em geral recorrendo à própria internet, com chamadas para os seus sites, blogs e páginas disponíveis em tempo real. A divulgação das notícias hoje é instantânea e os veículos, mesmo as revistas que contavam com espaço maior entre uma publicação e outra, tiveram que se adaptar a essa realidade.

Contudo, em termos econômicos, todas essas mídias sobrevivem graças ao “modelo do negócio”, conforme adverte o autor. “Chega a ser um espanto. Um negócio que diminui a cada dia, apresentar um faturamento cada vez maior”(p. 113). Ele se refere à redução das tiragens, ao declínio no número de leitores de jornais e revistas impressos, e à queda de audiência das TVs e rádios. Esses meios ainda dominam o mercado publicitário, permanecem no topo do faturamento, pois contam om um sistema comercial bem estruturado. 

Na verdade, há uma briga de titãs entre a internet e as mídias convencionais pela busca de audiência, a conquista de novos públicos e, sobretudo, pela redistribuição de anúncios comerciais e aquisição de clientes no mercado. Conforme Aleluia, a internet vai ganhando os primeiros rounds, tendo golpeado a mídia impressa e destruído a indústria do disco e do CD.

No campo teórico as previsões são incertas e bastante polêmicas. Alguns argumentam que as mídias tradicionais estão vivendo os seus estertores. Outros, como o americano Henry Jenkins, acreditam numa “cultura da convergência” e numa possível sobrevivência das velhas mídias. No livro “O futuro da internet”, Aleluia elenca as diversas opiniões dos autores que expressam essas dissenções, sendo que ele próprio cita exemplos que indicam o nítido declínio das mídias tradicionais. E observa que os jornais impressos são uma coisa do passado. Eles têm um futuro terrível, mas não as notícias. Estas estarão sempre em evidência nas mais variadas plataformas de comunicação.

Um exemplo desse conflito atual dos veículos de comunicação é a postura adotada pelos jornais impressos com relação ao seu público-leitor. Com a diminuição das tiragens, eles criaram os sites de notícias e passaram a vender assinaturas. Em seguida estabeleceram barreiras para a leitura grátis, mas a iniciativa se revelou contraproducente. Aleluia observa que “os sites que começam a cobrar perdem imediatamente o interessado que se transfere para o grátis mais próximo”(p. 31).

Sobre a briga pela audiência entre a internet e as redes de televisão as coisas não são diferentes: “O You Tube está aí mesmo para tirar o sono da TV”(p. 55). Essa disputa tem ganhado contornos dramáticos, com as televisões apelando para todo tipo de expediente a fim de conseguir elevar os índices de audiência.

Citado por Aleluia, o jornalista espanhol Juan Luis Cebrián, diretor do “El País”, questiona o futuro que aguardam partidos políticos, sindicatos e os meios de comunicação no mundo contemporâneo, uma vez que a internet é um “fenômeno de desintermediação”. Ele argumento ainda que os jornais, tais como os conhecemos, acabaram, mas isso não significa que deixarão de existir. Os jornais impressos pertenceram à sociedade industrial, e não estamos mais nela.

Recebeu particular atenção do autor o tema da inclusão digital no Brasil. Embora estejamos crescendo no mercado mundial de inclusão digital, isso é motivo frequente de críticas. Baseado em pesquisas recentes, Aleluia observa que em comparação com outros países, até mesmo os latino-americanos, a nossa banda larga é muito cara e ruim. O governo federal criou o Plano Nacional da Banda Larga (PNBL), mas não conseguiu levá-lo adiante de forma a promover os resultados esperados. “O brasileiro paga hoje, em média, dez vezes mais caro que os habitantes de países desenvolvidos”(p. 104). 

Outro aspectos muito discutido entre os usuários da rede de computadores se refere à invasão de privacidade. O autor observa que os provedores de serviços on-line constroem dossiês sobre os hábitos dos seus usuários e sabem tudo sobre eles. Ou seja: tudo que fazemos on-line está armazenado em algum lugar e pode ser utilizado para o bem ou para o mal, em algum momento. Não é exagero. De fato, muitos internautas já tiveram problemas com a invasão das suas contas na internet.

Se costuma dizer que a internet é um território livre, mas, até pouco tempo, ela era terra de ninguém, pois não havia qualquer regulação do setor. Só recentemente foi aprovado no Congresso Nacional o Marco Civil para a internet, que regula essas questões do mundo virtual e atribui responsabilidades. Não se sabe ainda como funcionará na prática, porque no Brasil real o que não faltam são leis. Elas existem no papel, mas em geral não são aplicadas.

Marcio Salgado é escritor e pesquisador.

7 de julho de 2014

NATALIDADE NO BRASIL ( V )

Para corroborar argumentos que justificam o desleixo, o pouco caso, ou mesmo o abandono da educação no Brasil, dois fatos recentes acontecidos na cidade do Rio de Janeiro: O primeiro no Colégio Pedro II outrora uma referencia no ensino publico fundamental e de segundo grau no País. Cabeças coroadas do Brasil e de sua elite dirigente da última metade do século passado estudaram lá.

Se você quiser saber em detalhes a situação atual busque o jornal O GLOBO (www.oglobo.com.br) de 18 de junho de 2014 à página 32 no caderno de economia. Uma foto fala por si: uma unidade no bairro de São Cristóvão, a de ensino fundamental, foi interditada pela Defesa Civil. Ameaça de desabamento. Quinhentos alunos do ensino fundamental prejudicados. Em outra unidade, a do Humaitá, alunos do 6º ano do ensino fundamental estão sem acesso aos livros didáticos de Português, Matemática Ciências, História e Geografia. Deveriam ter sido distribuídos em fevereiro de 2014. Em junho ainda não haviam chegado. A matéria conclui que “uma visita a qualquer das 14 unidades do Colégio basta para concluir que todas elas necessitam de obras de infraestrutura com urgência”. Mas não é o suficiente. Os professores entraram em greve. Na mesma data o STJ ( Superior Tribunal de Justiça ) em Brasília, considerou a greve ilegal. Quem julga o descaso do Estado para com a educação? Ninguém. Quanta injustiça!

Se o exemplo acima não basta faz-se como o ex-governador do Rio, Sergio Cabral. Há pouco tempo ele inaugurou no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro a Escola Rodolfo Fernandes. Era para ser modelo. Aulas em período integral, computadores nas salas, ar condicionado e aparência de escola de primeiro mundo para mil alunos.

Como o nome da escola é uma homenagem a um executivo das organizações Globo, morto recentemente, toda a mídia do Rio de Janeiro lá estava. O aparato moderno e confortável foi só para a pose nas fotos de inauguração. No dia seguinte os agentes do Estado foram lá e retiraram tudo. Farta publicação sobre o assunto está no jornal O Estado de São Paulo.Vale a pena ler a edição (www.estadão.com.br ) de 10 de abril de 2014. A matéria é uma moldura da educação brasileira nos vários depoimentos dos professores. Um deles diz lá que “ nem todas as turmas tem todas as aulas”. Outro diz que nem sempre tem almoço para todos, alguns banheiros estão entupidos e a biblioteca não tem livros. Os poucos que existem amontoam-se num carrinho de supermercado.

O erro começou na idealização. Escola para mil alunos exige administração e orçamento de uma pequena cidade. E se a administração falha o resto vai para o brejo. Ao que parece esqueceram de uma boa administração lá.

NATALIDADE NO BRASIL (IV)

Relembre a cobertura das TVs sobre tragédias urbanas nas cidades brasileiras. A vítima que aparece dando entrevista é quase sempre uma mulher com um filho no colo e uma prole considerável em volta.

Só se tem noção da extensão desse país de miseráveis quando se anda de helicóptero, por cima. É um mar de casebres, esgoto a céu aberto e gente, muita gente. Somente a cidade do Rio de Janeiro tem mais de mil e duzentas favelas. O Estado finge que não vê, e a cada dia tem mais uma “casinha” sendo feita.

Não é mais a migração interna que vai para as favelas. Agora é quase que exclusivamente os descendentes dos favelados. Outro fato perturbador: a favelização já não é um privilégio das grandes cidades. No interior, nas pequenas e médias cidades o índice de favelização é crescente.

Com a distorção educacional, social e econômica própria do Brasil, não haverá economia que suporte esses índices de natalidade. O país tem gente demais e no entanto falta mão de obra especializada. Agora mesmo o Sindicato dos Proprietários de Caminhões de Carga diz que há vagas para cem mil motoristas de caminhões. Não se encontra no Brasil. Está indo buscar no exterior.

Isso não impede o IBGE ao justificar a atual taxa de natalidade do Brasil afirmando em seus relatórios que “a nossa taxa de natalidade está relacionada ao processo de urbanização, que gera transformações de ordem sócio-históricas e cultural da população. A instituição de métodos contraceptivos, melhores condições médicas e um aumento no nível de educação também se relacionam com a atual quantidade de filhos tidos pelas mulheres no Brasil em suas regiões”. Ele deve estar se referindo às classes das faixas A e B da pirâmide. Só pode ser. Porque lá embaixo, na base é uma tragédia.

Esse outro Brasil é o que nos coloca no numero 85 do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) para medir os índices de desenvolvimento das nações. Nosso índice de analfabetismo é considerado em 10 por cento da população. Em algumas regiões do país este índice sobe para vinte. Ainda segundo a ONU das 50 cidades mais violentas do mundo, 16 estão no Brasil. Das 10 mais violentas, três estão aqui.

Violência, crimes, roubos e assaltos não é mais privilégio dos grandes centros. A droga toma conta das pequenas cidades e com ela o flagelo dos jovens na criminalidade. Os números são assustadores. Morre mais gente em terras brasileiras, vítimas de violência, que em três países em guerra: Iraque, Síria e Afeganistão. Os políticos fecham os olhos. Vão rolando a bola. E alguém diz: chame a Polícia. Coitada da Polícia. Querem dela uma solução que cabe aos políticos e lhes falta coragem para agir.

Na respeitável revista inglesa The Economist da primeira semana de junho de 2014 dois professores, tiveram seu estudo sobre natalidade publicado. Eric Striesssnig e Wolfang Lutz, da Universidade de Economia e Negócios de Viena e Instituto Internacional de Analise de Sistemas Aplicada, em Laxemburg, Áustria, argumenta que “ao predizer as taxas de dependência (o numero de crianças e pensionistas comparado a pessoas em idades produtivas) a educação também deveria ser considerada uma vez que, nem todas os que estão em idade produtivas contribuem igualmente para apoiar a população dependente. Pessoas mais preparadas são mais produtivas e saudáveis, se aposentam mais tarde e vivem mais”.

NATALIDADE NO BRASIL ( III)

pesquisas e estatísticas são feitas, lidas e comentadas de acordo com as conveniências de quem as fizeram ou de quem as encomendou. Mas podem ser lidas e interpretadas de acordo com a realidade dos fatos. E os fatos nunca mentem. Mesmo para aqueles que desejam agredi-los. Senão vejamos:

Imagine uma pirâmide e a divida em três partes: A, B e C. Em cima da pirâmide estará à classe A, considerada como rica, informada, letrada e em condições de sustentar e educar convenientemente quantos filhos deseje. Pois saiba que no Brasil no topo dessa pirâmide imaginária a taxa de natalidade é uma das menores do mundo. Nessa parte da pirâmide calculo que estejam alojados de 10 a 20 milhões de brasileiros.

Descendo a pirâmide você vai para a faixa B onde se encontra a classe média, arremedados e outros. Essa parte, já bem maior que a primeira. Calculo , algo entre 40 e 60 milhões de pessoas. Aqui a taxa de natalidade sobe um pouco, mas nada que signifique mais que dois filhos por mulher. Essas duas faixas da pirâmide podem.

Apesar de não existir tanto dinheiro e posses quanto na faixa A, a faixa B também tem informação e cultura e sofre o diabo para ter acesso à saúde boa, saneamento, educação de qualidade e lazer. Nesta faixa B as pessoas se sacrificam, fazem esforços inimagináveis para educar e formar seus filhos; prepará-los para a vida; para o trabalho; para torná-los responsáveis e contribuintes da nação. E há excelentes escolas. Mas custam caro. No Brasil é assim: o que é bom é bom mesmo, mas para poucos. E o que é ruim, é muito ruim para muitos.

Ao descer mais um pouco você estará na faixa C. Nesta está concentrada o grosso da população brasileira. Calculo que seja muito mais de 100 milhões de brasileiros. São os considerados pelas estatísticas habitantes das classes C, D, E por adiante. São os pobres. Pelas estatísticas do IBGE atual são chamados de “nova classe média”.

Ganhou mais de mil e duzentos reais por mês é considerado por eles como classe média emergente. Imagino que eles não saibam que a verdadeira classe média, aquela da faixa B da pirâmide, paga por filho, da creche ao segundo grau, por mês, numa boa escola, uma mensalidade maior do que ganha de salário a chamada “nova classe média” cujos filhos vão para a escola publica.

Lá, já sabemos como funciona. Professor ganha mal, não tem acesso a reciclagem, a escola não tem carteira; não tem ar condicionado;os banheiros estão em estado de calamidade; os livros nunca chegam; o computador vive pifado; a grande maioria delas funciona meio período apenas e muitas vezes não tem vagas.

NATALIDADE NO BRASIL ( II )

O Brasil é realmente um país diferente. Já sabemos e vimos aqui que no primeiro mundo, com população esclarecida e afortunada, é cada vez maior o número de pessoas que não desejam ter filhos. Vimos que governos de algumas dessas nações fazem esforços com estímulos financeiros compensadores para que as pessoas tenham filhos. É o caso dos países nórdicos, por exemplo. Aqui entre nós, dos anos 90 do Século passado em diante, a política de todos os governos foi e é de estímulo à natalidade. 

Nossa taxa de nascimentos por ano (em torno de 1,8 por cento) segundo o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) a única entidade no País apta a fornecer números sobre o assunto, são idênticas às taxas de natalidade das nações do primeiro mundo e menor que a taxa de natalidade dos Estados Unidos, em torno de 1,9 por cento. A mesma taxa da Austrália. Dito ou lido assim parece pouco. Mas não é. Isso significa por ano o nascimento de mais de três milhões de brasileiros. É um Uruguai por ano. É mais que uma Venezuela (27 milhões de habitantes) inteira e quase uma Argentina (35 milhões de habitantes) a cada 10 anos.

Assim se mascara e se ignora um dos mais dramáticos e desesperadores problemas brasileiros: o estímulo à natalidade como política de governo na base da pirâmide social. A renda per capta, a saúde, a educação, a infraestrutura, saneamento, hospitais públicos, previdência e a qualidade de vida dos países desenvolvidos não dá para comparar com a nossa.

NATALIDADE NO BRASIL ( I )

Um casal bem informado planeja o numero de filhos de acordo com seus desejos, disponibilidade e condições financeiras para criá-los. Uma mulher atenta e esclarecida que planeja uma produção independente tem em mente, em primeiro lugar, a sua condição financeira para educar e formar o seu filho. Os países desenvolvidos, e até alguns que não estão no grupo, como o Uruguai, por exemplo, agem da mesma forma. Leva em conta o controle da taxa de natalidade para planejar sua economia e ao mesmo tempo disponibilizar segurança, educação, saúde e outros itens básicos para uma sobrevivência decente e confortável.

Desequilíbrio na taxa de natalidade afeta países ricos e pobres. Equilíbrio na taxa de natalidade todos os países do primeiro mundo buscam. A China só é que o que é hoje em dia porque, entre outras razões, levou mais de 50 anos para atingir o que eles consideram uma taxa de natalidade equilibrada. Com mão de ferro o Estado chinês ainda na década de 1960 do Século passado instaurou a política de um filho por casal. Mesmo assim e com todo o colosso de sua atual economia, o país ainda tem cerca de 800 milhões de pessoas fora do alcance do atual boom econômico. Os chineses são mais de um bilhão e trezentos milhões de pessoas. Mais de seis vezes a população do Brasil.

Conseguiu instaurar a segunda economia do planeta investindo primeiro em educação, segundo em educação de qualidade e um ferrenho controle na taxa de natalidade. Hoje, sua taxa de natalidade está em torno de 1,5 por cento. Seguiu a receita histórica dos países de primeiro mundo. A diferença é que no primeiro mundo quem controla a natalidade é o casal ou o interessado em ter filhos e com o apoio do Estado. Na China é a mão de ferro do Estado e com penalidades. Em menos de 30 anos conseguiu um feito histórico: retirar da pobreza e da miséria 400 milhões de chineses e se tornar a segunda maior economia do mundo. O controle da taxa de natalidade foi um dos elementos básicos.

Dizem os estudiosos que uma cultura começa a declinar quando sua taxa de natalidade atinge o índice de 1,3 por cento sobre o total de sua população. Dizem ainda que ao atingir este índice é quase impossível reverter o declive e vai levar de 80 a 100 anos para o equilíbrio. Dizem mais: que nenhuma cultura sobreviveu abaixo desta taxa de natalidade.

Peguemos a Áustria como exemplo para um raciocínio. Sua taxa de natalidade nos dias de hoje está em torno de 1,3 por cento para um total de 8,5 milhões de habitantes e crescendo, portanto, a uma taxa de 0,5 que significa menos de quinhentos nascimentos por ano. O Estado austríaco busca, incessantemente, políticas de estímulo à natalidade que vai desde a doação em dinheiro, equivalente a 10 mil dólares, e mais a metade por mês durante certo tempo para os casais que tenham filhos.

Mesmo assim não são todos os casais que querem ter os filhos que o Estado deseja e necessita para que a nação não desapareça. Trata-se de uma pirâmide social altamente aculturada e homogênea em termos econômicos. Um filho significa dedicação total, privação de liberdade e alta responsabilidade na formação. Nem todo mundo está disposto ao sacrifício. O mesmo se sucede em outros países europeus.

Já a Suíça tem uma taxa de natalidade de 1,52 por cento e sua população de 8 milhões de habitantes cresce 1,1 por cento ao ano. A Austrália com pouco mais de 22 milhões de habitantes tem uma taxa de crescimento de pouco mais de 1,5 por cento ao ano. A Noruega, com pouco mais de 5 milhões de habitantes é considerada o melhor país do mundo em termos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) método da Organização das Nações Unidas (ONU) que mede a qualidade de vida no mundo, e a maior renda per capita com 82 USD (82 dólares por habitante) e sobrevive com taxa de natalidade de poucos mais de 1,5 por cento ao ano. Nestes países europeus o índice de analfabetismo é zero e os estados incentivam ao máximo o nascimento de filhos.

Já os estados Unidos, a maior economia da terra com um PIB (Produto Interno Bruto) de mais de 15 trilhões de dólares e uma população de 315 milhões de habitantes, tem uma taxa de natalidade em torno de 1,9 por cento. Dez das melhores universidades do mundo estão lá. Os Estados Unidos e esses outros países aqui citados são considerados por muitos como a terra das oportunidades para os estrangeiros. Atingiram tal ponto de desenvolvimento que o trabalho considerado como subemprego, tais como faxineira, babá, pedreiros, pintores de paredes e outros afins são desempenhados por imigrantes. Os filhos da terra recusam. Na Europa desenvolvida também. Ela tem uma taxa de natalidade em torno de 1,9 por cento ao ano com sua população crescendo em cerca de um por cento ao ano.

Com seus 315 milhões de habitantes os Estados Unidos, como nesses outros países citados acima, seus níveis de educação e de educação de qualidade são invejáveis. E não existe a hipótese de criança ficar sem escola e mais tarde não ter acesso à Universidade. Oportunidades não faltam. A meritocracia é a regra. Para quem não recusa trabalho é o paraíso para os estrangeiros.

Indo para a África, a subsaariana então é um verdadeiro Deus nos acuda.

A Somália com seus 10 milhões de habitantes tem taxa de natalidade de 6,8 por cento ao ano. É um dos países mais miseráveis do mundo, assim como a Nigéria onde a taxa é de 7,6 por cento ao ano para uma população de 168 milhões de habitantes. Em Uganda, com 36 milhões de habitantes a taxa é de 6,1 por cento ao ano e no Burundi é de 6,2 por cento para 10 milhões de habitantes. O pequeno Chade com 12 milhões de habitantes também é um campeão de natalidade. Sua taxa anual está hoje em 6,5 por cento. São os reinos da fome, da miséria e das doenças. Já na Ásia, o campeão é o Afeganistão com 30 milhões de habitantes e taxa de natalidade de 5,4 por cento ao ano.

Chegando aqui na nossa América do Sul vamos direto para a Argentina, antes de chegar ao Brasil. Los portenhos possuem 41 milhões de habitantes e uma taxa de natalidade em torno de 1,5 por cento ao ano. A Colômbia tem 47 milhões de habitantes e uma taxa de 1,7 por cento. E o Chile, o pequeno Chile, tem pouco mais de 17 milhões de habitantes e sua taxa de natalidade anda pela casa de 1,5 por cento ao ano.

A próxima parada é o Brasil

12 de junho de 2014

A Internet e o Marco Civil ( I)

O Marco Civil da Internet me intriga. Primeiro pelo nome. Marco Civil. Então agora teremos um marco militar? Esse Civil não está ai à toa. É a marca do nosso bolivarianismo. Vem da cartilha gramsciana (Antônio Gramsci 22/01/1891 a 27/04/1937) filósofo e um dos fundadores do Partido Comunista da Itália onde ensina a transição para a sociedade comunista. Sua obra, expressiva, não difere em nada do pensamento leninista. A expressão está perfeitamente assimilada e incorporada por conveniência pela velha mídia. Todo dia tem: a sociedade civil... Especialmente pelas Organizações Globo.

Finalmente ele foi aprovado no Congresso Nacional depois de anos por ali. Disse o relator, o Deputado Federal Alexandre Molon (PT-RJ) que rodou o país inteiro debatendo com a sociedade em exauridas audiências publicas. Trata-se de uma Lei para a Internet no Brasil. Tanto o Executivo quanto o Legislativo e a velha mídia, fixaram-se, obsessivamente, num negócio chamado NEUTRALIDADE DA REDE. Era o que interessava às teles e provedores. E eles ganharam. Veremos como.

Em seu artigo I a Lei diz que “estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil”. Louvável a intenção e este objetivo. Só que esqueceram o internauta; dos direitos do navegador e dos deveres de quem expõe ideias, projetos, vendas, serviços, assistência e informações por ali. Coisas banais do tipo: todo site está obrigado a se registrar em tal lugar e expor com clareza no sua HOME (página de abertura) os nomes dos responsáveis, canais de atendimento, inclusive endereço e telefones, visíveis, bem como CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) além de um canal expresso para comunicação, via Internet.

Quem entende de Internet percebe claramente que nem o governo, nem o legislativo, sabiam direito o que estavam a legislar. O resultado é uma Lei cheia de platitudes e de reafirmações de princípios já consagrados na Constituição ou em outras leis. Traz uma redação gongórica, contorcionista e de difícil entendimento. Em alguns de seus itens está claro que a decisão foi toda transferida para o Juiz de acordo com sua interpretação. Em suma: em muitos de seus artigos ela não é clara o suficiente para facilitar a vida do Magistrado. Desnecessário dizer que a Lei ainda precisa de várias regulamentações. E será por Decreto.

A INTERNET E O MARCO CIVIL (II)

Quando nossos parlamentares não querem assumir responsabilidades, transferem ao Executivo o poder de decidir através de Decretos o que realmente irá valer numa Lei aprovada por eles no Congresso Nacional. Engenhosa artimanha para dizer que fez, mas na realidade nada fez. Lá na frente, quando das edições dos tais Decretos muita coisa poderá ser mudada ao sabor dos interesses do dia. Quem sabe hoje o que virá amanhã em termos de administração publica no Brasil? Inclusive a liberdade da Rede poderá ser regulada por Decreto. Os doutos parlamentares do Congresso Nacional facultaram esse poder ao Presidente da Republica. Quem saberá se na hora da regulamentação as teles e provedores não acabarão sendo beneficiados em detrimento dos usuários? Ninguém. E a tão falada NEUTRALIDADE DA REDE? Será que um Decreto, um dia, não poderá contemplar o que hoje desejam as teles e os provedores. E lá estará escrito: " de acordo com a Lei ".

Ah esse Congresso Nacional. Sempre esquecendo o povo na hora de legislar. Para maquiar a Lei foi dito que ela se destina a ditar os direitos e responsabilidades dos usuários e provedores “de Internet no Brasil e outros serviços on-line, defendendo, principalmente que o acesso à Internet é essencial ao exercício da cidadania”. E o texto ainda delega a governos estaduais e municipais, mecanismos (faltou dizer quais) de “governança multiparticipartiva, transparente, colaborativa e democrática, com a participação do governo (?) do setor empresarial, da sociedade civil (olha ela ai de novo) e da comunidade acadêmica. Fomentar a produção e circulação de conteúdos nacional”. Só mesmo um supercomputador para explicar direitinho o que isso ai significa e como implementar.

Outro esquecimento dos legisladores: a Lei das licitações é explicita no que diz respeito aos atos de compra e venda a serem efetuados pelas administrações publicas quando obrigam estes administradores a publicaram em jornais “de grande circulação” anúncios para contratações de compras e vendas de equipamentos, construções e de serviços diversos. Da mesma forma a lei trabalhista obriga empregadores a publicaram anúncios nos jornais em diversas situações que contemplam as relações entre patrões e empregados e até perda ou roubo de documentação de empresas e pessoas.

Ora bolas, jornal de grande circulação é uma coisa que está deixando de existir. Qualquer site criativo bate de longe a circulação de qualquer grande jornal. Porque o tal Marco Civil, a Lei para a Internet no Brasil, não contemplou os sites do local, ou da cidade, onde ocorra a necessidade. Nesse caso protegeu a velha mídia em detrimento da Internet. Prefeituras, empresas e pessoas de cidades do interior do País são obrigadas a publicarem anúncios em jornais das capitais de seus respectivos estados que muitas das vezes estão a milhares de quilômetros de distância, enquanto o site está logo ali, na esquina, ou na repartição, ou no escritório, ou em casa, e com muito mais visibilidade.

A INTERNET E O MARCO CIVIL (III)

Quanto à Neutralidade da Rede é assim: eu tenho uma assinatura de dois megas. Você tem uma de cinco megas. Natural que você navegue melhor do que eu, pois paga mais para receber dados mais rápidos. Mas a velocidade dos dados na Rede é a mesma para os dois. O que os provedores desejam é manter a sua velocidade e diminuir a minha. Se a sua necessidade for maior do que os cinco megas contratados, a sua também será afetada. E aí está aberto o caminho para cobrar duas vezes. Pela banda e pela velocidade. Aumento de tarifas. Na prática é isso.

Meia dúzia de abaixo assinados rodaram na Rede para que o projeto não fosse aprovado como inicialmente estava redigido, favorecendo as teles e os provedores. O abaixo assinado do ex-ministro e cantor Gilberto Gil chegou a recolher mais de 350 mil assinaturas. Ele quis somente testar sua popularidade porque em nada contribuiu no Projeto. As pessoas assinaram tais manifestos, inclusive eu, reivindicando e esperando muito mais do que contemplou o tal Marco Civil. No Portal da Câmara dos Deputados o texto teve 45 mil visitas, 2.215 comentários e 374 propostas. Ficou parecendo que quem elaborou o projeto não tem a menor ideia do que é a Internet.

Ao deixar lacunas para serem resolvidas no judiciário, por mitigação, desconhece que existe hoje 92 milhões de processos aguardando julgamentos no Poder Judiciário e que esse Poder (Federal e estadual) consumiu 50,7 bilhões de reais no ano de 2012, sendo que 88,7 por cento dessa quantia foi para pessoal. Para essa torrente de processos existem menos de 18 mil juízes, em todas as instâncias.

O estamento judicial do País não consegue dar conta da atual demanda. Só na Justiça do Trabalho, no país inteiro, aporta uma média de dois milhões de processos, anuais. Estas informações estão num blog especializado e foram publicadas em 27 de abril de 2014 num artigo intitulado: GASTOS COM JT ACUMULA 1,15 TRILHÀO DE REAIS (veja mais em www.justicadotrabalho.blogspot.com) do ex-Juiz e Jornalista Roberto Monteiro Pinho e republicado em mais 39 sites especializados.

Imagine agora a Internet com seus milhões de navegadores diários, gerando demandas de atritos e querelas onde o Judiciário será o caminho natural para agredidos, ofendidos, insatisfeitos, vítimas e algozes?

Não há sensatez no Marco Civil. Da forma como ficou, questões cruciais e questões banais serão resolvidas na justiça quando poderiam perfeitamente ser encaminhadas para uma Agencia Reguladora com as questões sendo resolvidas de forma simples e direta como num juizado de pequenas causas. Até mesmo pela ANATEL onde poderia ter se sido criado um departamento, uma seção ou mesmo uma subdivisão qualquer destinada a esse fim.

Já passou da hora de o Congresso Nacional criar entre suas comissões permanentes, uma Comissão dedicada exclusivamente à Internet.

A INTERNET E O MARCO CIVIL (final)

Faltou ao governo federal e ao Relator do Marco Civil ouvir os titulares das delegacias virtuais. Se foram, não divulgaram. Em muitos Estados, especialmente no Rio de Janeiro, que foi pioneiro, existe a Delegacia Virtual. Antes, na falta de Lei, muitas das questões eram esclarecidas ali mesmo com a mediação dos policiais. Eles poderiam ter contribuído em muito para o aperfeiçoamento da Lei, especialmente no que diz respeito ao usuário da Internet. Fica aqui uma sugestão para o próximo Congresso: rever a Lei e desta vez com a contribuição de quem entende e contemplando, sobretudo, o internauta. E aglutinar numa só Lei, clara e objetiva, tudo que diga respeito à navegação na Rede.

A Internet é uma floresta. Trata-se de um mundo novo, cheio de dúvidas e extremamente vulnerável. O Marco Civil ficou muito restrito a liberdade de expressão, direito a privacidade (sendo que estes dois artigos estão consagrados entre nós não só na Constituição como em leis ordinárias) guarda de dados e Neutralidade da Rede. Sobre a privacidade, não faz muito tempo outra Lei foi promulgada quando do caso da atriz Carolina Diekman que teve fotos íntimas divulgadas na Internet.

Da mesma forma o Marco Civil ignorou, solenemente, a questão do consumo do comércio eletrônico na Rede. Está no Senado Federal outro projeto, cujo Relator é o Senador Teodorico Ferraço (PMDB-ES) que atualiza o atual Código de Defesa do Consumidor que foi promulgado em 1990, o CDC. A introdução de regras para o comércio eletrônico é uma das principais questões visadas pelo Relator “além de ações para combater o super endividamento do consumidor e de medidas para dar prioridade ao processamento e julgamento das ações coletivas ” como ele mesmo especificou ao jornal Valor Econômico de 20 de outubro de 2014 à página A 11 ( www.valoreconomico.com.br )

Há uma nuance aqui. O CDC vai contemplar o consumidor no comércio eletrônico na área de pós venda e não o consumidor versus Internet. Os sites de compra e venda, não querem ser considerados como prestadores de serviço, no Brasil. Outra vez fica claro a falta de quem entenda de Internet para assessorar esses políticos que muito mal navegam e desconhecem a selva que é a Rede. No Congresso Nacional não existe um parlamentar sequer que entenda, especificamente, desse assunto. O paradigma deles, a referência é o universo das telecomunicações. A geração deles desconhece como funciona esse novo mundo. Pode não faltar bom senso, mas falta-lhes conhecimento.

Ao que parece ignoraram o Conselho Gestor da Internet no Brasil, o CGI, a própria Anatel, a Agencia Nacional de Telecomunicações e a Câmara de Comércio Eletrônico. Trata-se de uma área vital e desprovida de qualquer amparo ao internauta. São companhias aéreas que produzem seus sites da forma que desejam dificultando e onerando a vida do consumidor, quando não ludibriando mesmo. São os sites de bancos onde você solicita uma demanda e eles ignoram; sites de serviços; sites de milhagens que não possuem nada que os regulamente, aqueles dos serviços públicos que não atendem nem respondem e de empresas de toda sorte.

Nada disso tem uma regulamentação própria de Internet. Eles são olhados, fiscalizados, quando são, pelo PROCON e somente no pós venda. Sem considerar que o CONAR (Conselho Nacional de Regulamentação Publicitária) só fiscaliza o que diz respeito à publicidade a produção e veiculação do que está na velha mídia e migra para o virtual. Jamais ao contrário ou especificamente o virtual. O que existe de propaganda enganosa, de ludibriação e engodo é espantoso. E como exemplo os sites de vendas de passagens aéreas. São centenas. Todos vendem passagens mais caras que os sites das próprias companhias aéreas. Mas o consumidor, o internauta, não sabe disso.

Como teste, escrevi para grandes empresas, as mais diversas. Ao meu banco solicitei talões de cheques. Por três vezes. Nada. Tive que telefonar. No site não há um fale conosco. Gastei pulsos na chamada. Três meses depois o Itaú ainda não enviou os cheques. Na companhia aérea é um robô que atende no site. Da mesma forma no site de milhagem. Nada resolvem. Ai você tem que ligar. Gastar pulsos quando já paga pela banda. E se for um bilhete aéreo você pagará a ligação e mais uma taxa para emitir o bilhete por telefone.

A um frigorífico em Goiás e outra empresa de produtos alimentícios solicitei preços e informações de seus produtos. Jamais responderam aos e-mails enviados. Se não respondem informações imagine devolução de mercadorias ou dinheiro. No site do Ponto Frio, um dos maiores de varejo, o valor da compra é revertido em pontos num programa de milhagem aérea. Esqueceu-se de creditar. Depois de vários e-mails creditaram uma parte e ao último e-mail responderam mandando uma recomendação para ligar num determinado numero. Mais gastos com pulsos.

Esqueceu-se de contemplar na Lei os crimes praticados por Crackers e Hacquers que através dos provedores usam e abusam, sem que estes saibam de antemão que se trata de uma falsidade ou infâmia enxovalhando a biografia de terceiros (veja a maestria do golpe em www.aleluiaecia.blogspot.com) como está explicada e exposta numa série de artigos lá publicados com o título UMA NOVA LEI PARA INTERNET NO BRASIL nos meses de novembro e dezembro de 2012.

De resto o tal Marco civil não difere em nada da forma como as leis são feitas no Brasil. Sempre tomando o partido do Estado e penalizando ou dificultando a vida do cidadão. E como complemento, leis mal redigidas, mal elaboradas, de boa ou má-fé, e jogando para um judiciário sobrecarregado, as decisões que obriga a cada Juiz estudos e comparações, quando não aguardar jurisprudência de tribunais superiores para só então vir a decisão. Isso leva tempo e é mais um fator da falta de justiça e demora nos julgamentos causados por leis mal feitas.

30 de maio de 2014

SALADINO

A propósito da recente visita do Papa Francisco a Jerusalém um pouco da história da Palestina na trajetória desse intrigante personagem que conhecemos como Saladino.

A inteligência, como espionagem e informação militar começou a se estruturar nas batalhas de guerra cerca de dez séculos depois de Cristo (D.C.) e o responsável pelo princípio dessa organização foi um líder islâmico árabe chamado SALADINO. Foi ele um dos primeiros, no segundo milênio D.C. a valorizar a informação como arma. Seu nome verdadeiro era Yusuf ibn Ayyub, e seu povo o chamavam por Slalah-al-Din “o retificador da fé”, e como Saladino pelos exércitos das cruzadas.


Segundo Ernest Volkman em seu livro A HISTÓRIA DA ESPIONAGEM, lançado no Brasil em 2013 pela Editora Escala (www.escala.com.br) na página 49, “Saladino era um oficial do exército de um dos senhores da guerra árabe de nome Nur-al-Din da Síria. Começou a destacar-se com uma série de pequenas vitórias táticas sobre os cruzados que, em breve, o impulsionaram para o front das fileiras das forças árabes. Sem dúvida era um líder militar de primeira ordem”, assegura Volkman.

Para entender melhor esta época, na página 48 Volkman explica que “em 1095 a Europa foi subitamente tomada por uma mania religiosa inspirada pelo Papa Urbano II que decretou uma guerra santa contra o islã”. Urbano II imaginava, segundo registros do Vaticano, que a ala oriental da Igreja Católica com sede em Constantinopla, “estava em grave perigo ante uma maré islâmica que já penetrara na maior parte do Oriente Médio e na Ásia Central. Acreditava Urbano que” o objetivo final do islamismo era o de submeter toda a Europa ocidental e destruir a Igreja Católica” assegura Volkman. O poder muçulmano instalado em Jerusalém ameaçava destruir o Santo Sepulcro.

Foi essa percepção que inspirou reis, nobres, senhores de terra e camponeses comuns a doarem muito do que possuíam e alistarem-se em poderosos exércitos para invadir Jerusalém e retomar a cidade santa, sob o julgo do islã, para a Igreja Católica. Essas mobilizações ficaram conhecidas como As Cruzadas (foram oito) e a esses “soldados de Cristo” foi lhes prometido o perdão dos pecados e a salvação eterna como recompensas espirituais por seus serviços. Além disso, o produto dos saques era regiamente dividido de acordo com a importância de cada um. No ano de 1.099 os cruzados tomaram Jerusalém.

Segundo Volkman, na página 49, “os exércitos dos cruzados, reunidos por toda a Europa, marcharam para Constantinopla, depois embarcaram em navios que os levariam à Terra Santa. Marcharam cegamente para o que acreditavam ser uma luta apocalíptica, sem nenhuma ideia real do que havia à frente deles (Essa Cruzada a que se refere Volkman foi a Terceira, sob o papado de Gregório VII e comandada pelo Rei da Inglaterra Ricardo I) tampouco houve quem alertasse para a ideia de realização de reconhecimento de terreno, de avaliação de território ou qualquer tentativa de levantamento de dados ou qualquer inteligência sobre o tamanho e a capacidade das forças militares árabes.

Ainda na página 49 Volkman considera que “do jeito que as coisas aconteceram os cruzados tiveram muita sorte. Embora os árabes estivessem unidos religiosamente sob a bandeira do islã, eram profundamente divididos sob o aspecto político”, como o são ainda hoje.

Segundo Volkman, “as populações árabes residentes consideravam os cruzados apenas como intrusos profanos e entenderam que a libertação só viria quando os fracionados reinos árabes se unissem sob um grande líder”. Finalmente em 1.171 esse grande líder surgiu. Para Volkman era um homem que iria transformar a história e que seus inimigos ocidentais deram-lhe o nome de Saladino. Havia mais de 70 anos que Jerusalém e toda a Costa do Mediterrâneo estavam em poder dos cruzados.

Volkman assegura que Saladino “argumentava incansavelmente que as forças árabes divididas teriam de unir-se para expulsar os cruzados. Esta afirmação ele provou ao comandar vários exércitos árabes, unidos, conduzindo-os para a vitória frente às poderosas forças francas que buscavam expandir o território cruzado na Palestina. O triunfo de Saladino eletrizou o mundo árabe e fez dele o líder supremo do que então se tornou um exército árabe unido”.

A vitória de Saladino sobre os francos foi possibilitada, segundo Volkman por uma extensa operação de espionagem e inteligência: “Saladino fundiu as várias fontes de espionagem dos comandantes árabes e numa operação alastradora transformou milhares de árabes sob a ocupação dos cruzados, em seus olhos e ouvidos.

Percebeu que não poderia depender das informações coletadas pelos serviços de espionagem de cada um dos Kalifas que trabalhavam voltados para os interesses dos chefes e segundo Volkman cada Kalifa direcionava seu KHABAR (chefe de espionagem) a concentrar seus esforços nos inimigos internos, sendo que apenas o Khabar do Kalifa de Bagdá tinha 1.700 mulheres idosas em sua folha de pagamento. “Elas recolhiam toda espécie de boatos, por mais trivial que fosse, com especial atenção a qualquer expressão de deslealdade, mesmo a mais amena delas” descreve Volkman.

Em sua narrativa assegura que os Cruzados não tinham nenhum conhecimento sobre os seus inimigos árabes. Acreditavam na proteção divina e na espada. Enquanto isso Saladino enredava o exercito cruzado numa guerra de guerrilha fornido por informações que vinham desde o verdureiro até as fontes que abasteciam de água o Exército invasor. Conseguiu a preciosa informação de que uma frota de navios desembarcaria em algum lugar com suprimentos para a tropa. Bloqueou esta manobra e não restou ao comandante Ricardo I nada além de negociar. Em troca da retirada do Exército cruzado Saladino permitiu o acesso de peregrinos cristãos à Cidade Santa. Tornou-se Rei de Jerusalém que foi governada pela família até a terceira geração de 1.193 até 1.250.

A grande maioria dos historiadores tratam Saladino com certa indulgencia. Como se ele não fora um feroz matador, guerreiro e impiedoso como todos os outros. Até mesmo o italiano Simon Sebag Montefiore, autor da magnífica biografia sobre Jerusalém lançada no Brasil pela Editora Companhia das Letras em 2013. Na página 337 ele descreve:

-Em dois de Setembro de 1.192 o sultão Saladino e o Rei firmaram o Tratado de Jaffa, a primeira partição da Palestina: o reino cristão ganhou novo impulso com Acre, como capital, enquanto Saladino ficou com Jerusalém, assegurando aos cristãos o pleno acesso ao Santo Sepulcro. O Conselheiro do Rei Hubert Walter discutiu sobre Ricardo I com Saladino, que era de opinião que o Coração de Leão não tinha sabedoria nem moderação. Graças a Walter, Saladino permitiu a volta dos sacerdotes latinos ao Sepulcro.

Saladino não só permitiria a volta dos sacerdotes cristãos como também atendeu a uma reivindicação do Imperador bizantino Isaac Ângelo que exigia o mesmo para os ortodoxos. E Saladino decidiu que uns e outros deveriam partilhar a supervisão do Sepulcro. Após os acordos Saladino e Ricardo I partiram cada um tomando o caminho de volta. Coração de Leão para a Europa e Saladino para Damasco onde morreu aos 54 anos.

É provável que este sábio acordo tenha influenciado a todos que o biografaram. Ainda mais se considerarmos que ou foram judeus ou cristãos, ocidentais, que escreveram sobre ele o farto material que nos chega. Mas não fica a menor dúvida que era um sábio ao administrar a informação, a espionagem, a bisbilhotice, e a política.

É verdade que Saladino e seus descendentes harmonizaram a Palestina por algumas décadas. A condescendência não chega a ser de todo injusta por este gesto.

Mas quem se dedica a estudar e pesquisar esta época percebe muito bem que Saladino apesar de haver imposto derrotas em muitas batalhas travadas com o Exército do Rei Ricardo I este não chegou a ser totalmente vencido. Tanto que o fim das batalhas entre os cruzados e as tropas de Saladino foi um acordo. Mas Ricardo Coração de Leão passou à história como perdedor.

23 de maio de 2014

GENGES KHAN (final) A HISTÓRIA SECRETA

Toda e qualquer obra sobre Genges Khan a principal e única fonte de pesquisa se baseia num documento, fragmentado, provavelmente escrito em 1252 para o historiador francês René Grousset ou para o historiador japonês Uemura Seíjí. Escrita em 1228 e terminada em 1240, e chamada, curiosamente de A HISTÓRIA SECRETA, conforme está registrado na página 12 do livro do escritor Hòang.

Esse documento trazia instruções expressas para que fosse passado apenas da mão e para a mão da família Genges Khan e seus sucessores. Somente no Século XIX que o sinólogo russo Kafarov ( mas conhecido pelo nome de Palladius ) traduziu o texto que foi encontrado em língua chinesa para a língua russa. Originalmente estima-se que ele tenha sido escrito em uigur-mongol vertical, sino-mongol, ou outra língua que ninguém sabe pois até o Século XIII os mongóis desconheciam qualquer tipo de escrita.

O que existe dessa época foi passado por relatos verbais para chineses que registraram aqui e ali a epopeia da família do guerreiro. Como reconhece esse autor francês da biografia do Kan aqui citada, à pagina 12 “ esse trabalho de erudição permitiu novas traduções de especialistas ocidentais, principalmente a de Paul Pelliot, iniciada por volta de 1920 e inacabada devido à sua morte; depois seguiram-se a de Haenisch, em alemão; a de Kozin , em russo e, mais recentemente, a de Cleaves, em inglês”. Todas essas informações estão lá nas páginas 12 e 13 do livro do Hóang. Ele informa ainda que nesse mesmo período citado acima, no Extremo Oriente, vários mongolistas chineses e japoneses, entre eles Li Wentian, Chen Yuan e Kanai Yasuzo estudaram o texto da HISTÓRIA DA SECRETA.

Tanto o livro de Hóang quanto a outra biografia lançada aqui no Brasil em 2004 pela Editora Ediouro ( www.ediouro.com.br ) e chamado de GENGES KHAN, A VIDA DO GUERREIRO QUE VIROU LENDA ( 407 páginas) de autoria do historiador inglês John Man a história é narrada, principalmente, pelos fatos descritos em outro achado biográfico e que narra a vida dos descendentes de Genges Khan quando se instalaram no trono de Pequim após a conquista da China em 1279 sob o nome de Dinastia Yuan, nome dinástico escolhido pelos herdeiros, de acordo com a narrativa de Hoàng.

Essa dinastia legou à história um livro chamado O LIVRO DE OURO. Diz-se que foi perdido o original mas que foi encontrada uma versão chinesa de 1263 e uma outra, Persa, de 1303. Mas informa Hoáng que em virtude da carência de fontes, a HISTÓRIA SECRETA ocupou lugar considerável nos estudos mongóis. É o mergulho nesse dois relatos e comparações realizadas por inúmeros estudiosos que os historiadores se baseiam para escrever sobre este fascinante personagem chamado Genges Khan.

Na introdução do livro a GENGES KHAN, A Vida do Guerreiro que Virou Mito do inglês J. Mann, na pagina 13 ele informa que “em março de 2003, apareceu um extraordinário artigo no American Journal of Human Genetics:

- um grupo de 23 geneticistas estudara o DNA de cerca de dois mil homens de toda a Eurásia. Surpresos os cientistas descobriram um padrão comum em várias dezenas desses homens, independentemente da região de origem. O mesmo padrão genético, com ligeiras variantes locais, abrangia grupos populacionais espalhados por todo o território, desde o Mar Cáspio até o Pacífico. Se a proporção de homens com esse padrão ( oito por cento dos dezesseis grupos ) for extrapolada para toda a população daquela área, a espantosa conclusão é que, na verdade , 16 milhões de homens fazem parte de uma vasta e única família”.

Jhon Man se pergunta ainda na página 13:

-como explicar isso?

-Os dados provêm de um estudo sobre os cromossomos Y que os homens possuem e as mulheres não. Esse fato sugeriu uma hipótese alarmante: a de que um homem que viveu na Mongólia no Século XII espalhara o seu material genético por meia Eurásia; o resultado é que hoje esse material é compartilhado por um em cada duzentos dentre todos os homens atualmente vivos por lá. É concebível que o ancestral comum desses 16 milhões de homens fosse um antepassado imediato de Gêngis, cujos irmãos podem ter compartilhado do mesmo padrão. Em todo caso, entre 1209 e a sua morte, em 1227, Gêngis foi o responsável por espalhar essa assinatura genética pelo norte da China e na Ásia Central.

Man vai mais longe em suas justificativas que chegam a ser espantosas:

-belas mulheres faziam parte do butim de guerra, e exigir as melhores do grupo, recebendo-as através dos oficiais dominados, equivalia a uma declaração de liderança. Gêngis era um ardente defensor dessa exigência, que não apenas lhe afirmava a autoridade mas também lhe permitia se mostrar generoso, uma vez que as jovens podiam ser presenteadas aos generais que lhe fossem fiéis. Embora não fosse um libertino, com certeza Gêngis também não era um asceta e, no curso dos quarenta anos da construção do império, teve acesso a muitas centenas de jovens.

O autor conclui afirmando na página 15 “ que as consequências da duplicação do numero de descendentes de Gêngis, do sexo masculino, em todas as gerações, por mais de 30 gerações, são tão drásticas que o cálculo escapa ao mundo real antes de ser concluído. Depois de cinco gerações ( por volta de 1350 ), Gêngis tem a bagatela de 320 descendentes do sexo masculino; cinco gerações adiante, em 1450-1500, o número sobre para dez mil; depois de dez gerações, são vinte milhões; e depois de trinta, incalculáveis bilhões.

Na mesma página o autor justifica que os genes particulares que o grupo de pesquisadores estudou são neutros; apenas determinam o sexo e que “ portanto deveria haver algum outro fator em ação para garantir a sobrevivência da linhagem de Gêngis ”. E conclui afirmando que a equipe comandada por Chris Tyler-Smith ( cientista inglês do Departamento Bioquímico da Universidade de Oxford-Londres-Inglaterra) garante que só pode ser o poder político absoluto associado a um vasto alcance geográfico. E é exatamente o caso do nosso personagem.

PORQUE O KHAN FOI TÃO IMPORTANTE

Em dezembro de 1995 o jornal Washington Post apontou Gêngis Khan como “ o homem mas importante dos últimos mil anos ”. Na página 17 do seu livro biográfico John Mann lembra que o próprio Post perguntou-se porque? Para responder em seguida:

-a grande história do milênio passado é que um único espécime exerceu totalmente a sua vontade sobre a terra. Por volta do ano 1000 d. C. havia menos de trezentos milhões de pessoas no mundo inteiro ( alguns pesquisadores apontam para cinquenta milhões ) e a maioria sequer sabia que tinha alguma relação com outras nações e continentes. Cada cultura vivia confinada pelo clima, pela geografia e pela ignorância.

Antes da Revolução Industrial, no Século XVIII, as conquistas territoriais e as transformações sociais se davam pela força exclusivamente. Ao contrário do que muita gente pensa, os líderes dessas incursões, além de seus formidáveis exércitos se valiam da espionagem e de informações secretas para expandirem seus domínios. Intencionalmente ou não esses avanços se davam para conquistar e empreender. Como observa John Man na página 17 no penúltimo parágrafo, “hoje o mundo se transformou em uma aldeia. Como isso aconteceu?

-A tecnologia, a economia, as doenças e muitas outras forças imensas e impessoais desempenharam seus papéis. O mesmo correu com inúmeros indivíduos. Líderes, inventores, exploradores, pensadores e artistas entrelaçaram povos e tecnologias, alguns mais do que outros. Esse senhor Khan, como o pesquisador do Post se referiu a Gênges, certamente foi um deles.

John Man vai mais longe ainda em suas evidências ao afirmar que “as conquistas de Gêngis forjaram novas ligações entre Oriente e Ocidente. Ele e os seus sucessores construíram ou reconstruíram os alicerces de vários países modernos como a China, Rússia, Irã, Afeganistão, Turquia, Síria, Tibete, Ucrânia, Hungria e Polônia, e dos novos países da Ásia Central. As conquistas realinharam as principais religiões do mundo, influenciaram a arte, estabeleceram novos padrões de comércio e os seus feitos continuam sendo a pedra angular da história eurasiana”.

Man não diz mas deixa evidente que essa era de conquistadores guerreiros, solitários e empedernidos, termina com a saga dos Khans. Daí em diante as conquistas passaram a ser financiadas e incentivadas pelo ESTADO através de aventureiros bem fornidos de informações disponíveis e muita coragem. É o caso, por exemplo, de Marco Polo e suas viagens transcontinentais no Século XIII financiadas pelo Estado veneziano. Numa delas Polo ficou por 20 anos na corte do neto de Gêngis Khan, conhecido como o Imperador Kublai Khan. Nessas duas décadas Polo espionou e compilou todas as informações possíveis sobre a China, em particular, e trouxe de volta para sua corte.

Tanto é verdade que Man ao pular da história eurasiana para a mundial e fazer um paralelo da importância dos fatos para o curso da história mundial na página 18 ele afirma que nada disso “ se compara à revolução iniciada pelo grande salto rumo à formação da nossa aldeia global que foi a descoberta da América pelos europeus ( ou melhor a redescoberta pois terá sumido da memória a conexão realizada pelos vikings por volta do ano 1000?). Se fosse preciso escolher o homem do milênio, Colombo não teria precedência sobre Gêngis? Em uma palavra: não ".

Ele explica porque:

-Muito mais que Gêngis Colombo foi uma expressão do seu tempo. Se Colombo não tivesse desbravado o caminho para o Novo Mundo, alguém o teria feito, pois muitos outros estavam sendo enviados para essa exploração. Esses homens e seus financiadores queriam chegar à China. Por que? Porque a riqueza da China, transportada a longo da chamada Rota da Seda, era lendária desde os tempos romanos até o Século VII, quando a ascensão do islamismo limitou o comércio; e porque Marco Polo, em suas viagens até ali, dois séculos antes de Colombo, confirmara tratar-se da maior fonte de riquezas do mundo sob o comando do grande cã ( ou chefe ) Kublai Kan. O Signor Polo conseguiu chegar à China porque por volta do Século XIII a rota através da Eurásia foi reaberta; e estava aberta porque os mongóis governavam desde o leste da Europa até a China, tendo Kublai como chefe; e Kublai governava porque herdara de seu avô Gênges o papel de Imperador.

E continua: “a grande ideia de Colombo foi dar a volta ao mundo pelo outro lado, pelo oeste, por um oceano desconhecido, e encurtar o itinerário para a China. Por acaso a América estava no caminho. Assim, por uma série de coincidências, durante quase três séculos a visão de Gênges Khan a respeito de império forneceu uma contribuição crucial para a redescoberta e a colonização do Novo Mundo.”

obs: o autor escreve o nome do personagem de acordo com as obras consultadas. em algumas ele é grafado como Gengis e em outras como Genges

16 de maio de 2014

A NOVA ORDEM ( II )

Ao longo dos últimos dois mil anos é possível que só mesmo a vida de Jesus Cristo envolva tantos mistérios a serem descobertos quanto a vida do Genges Khan. Passou à história como um bárbaro, sanguinário e rude. É o personagem que menos se conhece, verdadeiramente, na história, depois de Cristo. Até mesmo sobre Alexandre, O Grande, o Rei da Macedônia (356 a. C.) outro grande conquistador, a história tem mais registros pessoais e históricos do que a do Genges Khan que viveu mil e quinhentos anos depois.

Atribui-se esse interesse ao fato do Alexandre ter sido um macedônico que teve como tutor um filosofo grego e com a invasão da Grécia pelo Rei da Macedônia Filipe II pai de Alexandre (338 a. C.) a elite de então, sabiamente, descobriu que era melhor aliar-se a ele a enfrentá-lo. Era a época áurea dos filósofos e à frente deles ninguém menos que Aristóteles seu preceptor, pai de criação e homem detentor de grande sabedoria e poder na velha Atenas.

Mais isso é outra história. Assim, Alexandre cresceu e resoluto assumiu o pensamento hegemônico dos filósofos gregos. Triunfou não só conquistando terras, mas implantando uma cultura cujos vestígios estão espalhados num pedaço da Europa até os dias de hoje: a cultura helênica. Informação precisa, espionagem e bisbilhotice não lhe faltou.

Genges Khan nasceu no ano de 1.162 e foi nomeado pelos pais como Tejemudjin que na raiz etimológica da palavra turco-mongol vem de ferro e significa ferreiro. Dizem os historiadores que era um esmirrado garoto, o mais velho de uma trupe de doze irmãos, membros de uma família de nômades no interior da Mongólia, na Ásia Central. Por razões tribais seu pai foi envenenado e toda a família jurada de morte, impiedosamente, por uma tribo tártara. O pai ficou conhecido como YESUKEI “era muito decidido e seu clã, os Kiot Bordjiguene era famoso pela audácia”. Com a morte de Yesukei um seu comandado passou a rival, amistoso.

Conhecido como Targhutai-Kiriltuq e chefe de uma tribo de nome taitchi'ut, o rival ordenou a reclusão de sua mãe, a viúva Hoelun e sua prole na aldeia onde viviam afastadas das famílias dos outros membros da tribo. Mulher, viúva e com muitos filhos pequenos estava condenada. Os anos passaram e o rival percebeu que a prole de Hoelun crescia. Imaginou que aqueles meninos logo se tornariam guerreiros e poderiam se voltar contra ele. Tomou a decisão de extirpar a família.

Os irmãos esconderam-se na mata e foram cercados pelo grupo rival. Kiriltuq os encontrou e negociou a rendição do mais velho, Tejemudjin, então com 15 anos de idade. Este se entregou e foi direto para o castigo: preso a uma canga de madeira em volta do pescoço e com os braços amarrados para trás. Era um suplício odioso porque além da imobilidade e dor, humilhava a vítima diante de todos fazendo-o percorrer as tendas de modo ultrajante. Assim ele permaneceu à espera do seu futuro.

Mas seu destino estava selado. Logo optou pela fuga se jogando na correnteza do rio aproveitando-se da distração dos seus algozes envolvidos numa festa tribal. Algumas correntezas adiante foi salvo por membros de uma família de sua aldeia que viviam por ali. Aos 15 anos de idade começou a crescer escondido e a aprender a se defender e defender os seus. 

Seus biógrafos, ente eles o francês Michel Hòang, destacam que “durante muito tempo imaginou-se que os antigos nômades da Ásia Central - hunos, tártaros, mongóis e tungues, entre outros, todos associados ou assimilados em uma massa humana indistinta - surgissem repentina e sucessivamente das vastas estepes açoitadas pelos ventos. Possuíam a mesma língua, a do sabre, e sua única atividade era a pilhagem”.

Hoáng diz mais na página 37:

- Ondas tão brutais quanto inesperadas de hordas selvagens investiam contra as terras férteis do mundo civilizado, logo transformadas em desertos. A matriz desses nômades asiáticos era um lugar impreciso e inominado, imensa vacuidade sem limites nem cultura, sem templos nem cidades, sem Estados nem leis, uma região infernal de morte e desolação. A realidade, muito mais complexa, merece que nos detenhamos por um momento nesses espaços que viram nascer os conquistadores mongóis.

Ignorada durante séculos pelos europeus, mas também por chineses, indianos, persas e árabes, a Ásia Central continua sendo uma das partes mais mal conhecidas do globo. O antigo mundo ocidental o silencia sobre essa região, tratada como terra incógnita por cronistas e geógrafos, enquanto os analistas da China antiga a ignoraram com frequência, abandonando-a à sua profunda barbárie. “Foi preciso esperar o Século XX para que expedições verdadeiramente científicas abrissem, enfim, o coração da Ásia”.

Daí veio Gengis Khan.

30 de abril de 2014

GENGIS KHAN - UMA NOVA ORDEM

Como um trovão, um novo grande poder apareceu de repente no cenário mundial, no século XIII. De seu inicio como um insignificante reino situado no norte da Ásia Central, tribos mongóis nômades foram unidas em um enorme império sob um grande líder chamado Genghis Kan. Ele forjou essas tribos em um formidável instrumento militar, dedicado exclusivamente à conquista. Todos os homens mongóis eram alistados no exército quando atingiam a idade de 14 anos, um exército aprimorado em um poderoso instrumento por meio de constante treinamento. Composto por mais de 60 por cento de cavalaria e armado com um poderoso arco composto, capaz de matar a uma distância de até 350 metros tinha uma mobilidade sem precedentes. Era capaz de cobrir até 1.500 milhas em dez dias.

Assim, na página 82 do livro A HISTÓRIA DA ESPIONAGEM (o mundo clandestino da vigilância, espionagem e inteligência, desde os tempos antigos até o mundo pós 9/11) ano de 2013 lançado no Brasil pela Editora Escala Ltda ( www.escala.com.br ) escrito por Ernest Volkman, um premiado correspondente nacional da Newsday nos EUA, e notável autoridade sobre assuntos de inteligência e segurança nacional e autor de mais de duas dezenas de livros e trabalhos sobre esses temas começa sua narrativa sobre a saga do Genghis Kan.

Ainda na página 52 ele relembra: “o poder militar mongol foi reforçado pela insistência de Khan de que seu exercito nunca iria fazer um movimento sem completa inteligência sobre seus inimigos. Criou um sistema de espionagem de dois níveis. Um nível era de unidades de reconhecimento altamente treinadas, que observavam as forcas inimigas e as rotas de marcha. O outro era formado de oficiais do estado maior, aos quais era atribuída a tarefa de vasculhar todas as fontes disponíveis para a inteligência. Distribuindo fundos generosos para comprar tudo o que precisavam, os especialistas em inteligência de Khan conseguiam informações de viajantes, mercadores e peregrinos religiosos. Elaboravam esse material em detalhados relatórios de inteligência, verbais, que contavam aos comandantes de campo tudo o que precisavam saber. Se uma forca mongol estava prestes a atravessar uma ponte, com certeza já possuía um relatório de inteligência sobre a largura da ponte, o peso máximo que poderia suportar e se o inimigo pretendia defendê-la.

No auge de sua existência, ano de 1220, Genghis Khan já dominava quase toda a Ásia Central, e seu lugar preferido para passar os verões era o famigerado, ainda hoje, Afeganistão. Era lá também onde gostava de encontrar seus xamãs preferidos e buscar orientação para suas próximas jornadas. Nem esse guerreiro bárbaro e cruel ousou mexer nos dois grandiosos Budas de arenito de quarenta e cinco metros de altura cada um que se destacavam dos penhascos das montanhas de Bamian a noroeste de Cabul, estátuas milenares que ornavam a entrada de uma caverna no caminho da capital do Afeganistão. Os Talibãs, de hoje, em 2001, quase novecentos anos depois não hesitaram um minuto para dinamitarem e tornarem pó milênios de história, sob o escudo do islã.

O exército mongol não parava. Seu fundador e comandante supremo já não mais existia em 1241 quando eles bateram às portas da Europa invadindo sua parte oriental o que equivale hoje à Hungria e Polônia sob o comando de um dos filhos do Khan, provavelmente Ojedei, um dos seus primeiros sucessores e que pouco viveu. Segundo o livro A HISTORIA DA ESPIONAGEM, na página 53,“os mongóis derrotaram todas as forças enviadas contra eles desencadeando o que só pode ser descrito como um pânico generalizado em toda a Europa. O pânico era causado em grande medida por pura ignorância. Gracas ao total descaso europeu pela inteligência, não houve aviso prévio de que a mais poderosa força militar, que o mundo já tinha visto, estivesse prestes a varrer toda a Europa. Todos os europeus sabiam que havia muitos mongóis em algum lugar lá fora, e aparentemente eram invencíveis. Quando a Europa estava em perigo de destruição o milagre aconteceu: com a morte do filho e sucessor os comandantes mongóis mais antigos retornaram apressadamente com seus exércitos para a Mongólia. Os sinos das igrejas soaram por toda a Europa saudando esse dramático evento. Os teólogos concluíram que somente a intervenção divina poderia explicá-lo.

E ainda segundo Volkman, na página 52, o poder militar mongol era reforçado pela “insistência de Khan de que seu Exército nunca iria fazer um movimento sem completa inteligência dos seus inimigos. Criou um sistema de espionagem de dois níveis. Um nível era de unidades de reconhecimento altamente treinadas que observavam as forças inimigas e as rotas de marchas. O outro era formado de oficiais do estado maior aos quais era atribuída a tarefa de vasculhar todas as fontes disponíveis para inteligência. Distribuindo fundos generosos para comprar tudo o de que precisavam, os especialistas em inteligência de Khan conseguiam informações de viajantes, mercadores e peregrinos religiosos”.

Nesse mesmo capítulo, na página 53 Ernest Volkman conclui:

- o desastre causado pelos mongóis foi instrutivo. Os europeus passaram a dedicar tempo e esforço para descobrir o que estava acontecendo no resto do mundo. Sempre haveria a possibilidade de alguma ameaça desconhecida emergir para destruir uma Europa despreparada.

Pois foi exatamente essa nova forma de pensar que enraizou-se, especialmente na Igreja Católica “embora a razão tivesse mais a ver com religião do que com inteligência observa Volkman. As invasões mongóis tinham deixado o Vaticano ciente de que havia, sem dúvidas, grandes civilizações em algum lugar distante do leste, terreno fértil para a conversão de novas almas. Então, missionários começaram a trilhar o caminho do leste após as informações colhidas pelo navegador e aventureiro MARCO POLO.

Na página 54 do livro A HISTORIA DA ESPIONAGEM Volkman faz uma brilhante síntese do salto da evolução humana para a Idade Média, e lá estão espionagem e informação como os pilares básicos das transformações que viriam a mudar o mundo ocidental:

-os primeiros missionários que finalmente chegaram à China passaram a enviar relatórios impressionantes sobre as maravilhas encontradas tais como: impressão, tecido de amianto à prova de fogo e a seda. Logo perceberam que os missionários poderiam realizar uma segunda missão e coletar informações para uma segunda missão e coletar o que hoje chamamos de inteligência técnica, tipo de informação de imenso valor para a economia emergente da Europa. E assim os missionários roubaram o processo de fabricação do bicho da seda a partir do momento em que as autoridades locais permitiram que eles visitassem as instalações de produção. Furtaram alguns ovos bicho-da-seda e os esconderam dentro de suas bengalas. Em outra operação um missionário roubou o igualmente secreto processo de fabricação da porcelana chinesa fingindo ser um monge ignorante com perguntas ingênuas a seus anfitriões que não o notaram embolsando uma amostra de “argila da China” que era o verdadeiro segredo do processo de fabricação da porcelana.


Assim ele vai detalhando como o processo de desenvolvimento tecnológico daquela Europa se deu com o triunfo da espionagem dos missionários numa China governada pelos descendentes de Genghis Khan. Os fogos de artifícios que encantavam o Imperador chinês nas festas populares. Amostras daqueles artifícios foram enviadas por navio para o ocidente, incluindo uma que acabou na investigação cientifica do frade inglês, Roger Bacon. “Bacon tomou o tubo e dele extraiu um pó que era uma mistura de salitre e outros produtos químicos. Percebeu que aquele produto preto seria transformado em arma terrível que faria parecer pequena qualquer coisa que o mundo já tinha visto. E essa descoberta iria dar a Europa a grande e única vantagem tecnológica que lhe permitiu dominar o mundo”.

A espionagem daria ali o seu primeiro grande salto para ser a peça fundamental na história do poder mundial até nossos dias.

28 de abril de 2014

HERDEIROS DE CARLOS MAGNO

Os herdeiros de Carlos Magno não manteriam suas conquistas nem os territórios, mas a Igreja Católica havia trabalhado bem. Sob inspiração dela e aconselhado pelo alto clero Calos Magno implantaria, definitivamente, no Século VII, a semente da Europa dos próximos mil anos depois de sua época . Não importa se ela fragmentou-se algumas vezes. Não importa se o reino carolíngio se subdividiu e os herdeiros desapareceram. Carlos Magno já havia mergulhado a Europa num fervor religioso aonde se ia para o céu ou para o inferno.

Sob esse manto ele moldou essa Europa que conhecemos hoje. Não havia opção. Com ele a Igreja se consolidou com o cristianismo fervoroso ao cumprir sua tarefa de retirar o homem do paganismo. E este fervor religioso contaminou todo o Continente e colocou todos os seus reinos subjulgados ao Vaticano. Somente três séculos depois de Magno essa nova Roma, o Vaticano, passou a sonhar em dominar a palestina.

Por volta do ano de 1.100 da Era Cristã começaram as Cruzadas, expedições organizadas pela nobreza, pelo clero e pelos reinos, destinadas a saquear e conquistar Jerusalém que havia muitos séculos estava em poder dos árabes, muçulmanos. Não há registros, na história, de quem foi o mais esperto e inteligente: se o Carlos Magno que percebeu o vazio deixado pelo fascínio à Roma dos Césares e ocupou este espaço usando a Igreja e o catolicismo para solidificar e expandir seu reinado, ou se foi ao contrário: a Igreja que usou o Rei para se impor. O que importa mesmo é que a doutrina da Igreja estava consolidada em todo o território europeu e além. Mesmo fragmentando-se, em muitos séculos, os princípios deixados por Carlos Magno e pela Igreja sobreviveram a todas as guerras e divisões. E quanto maior e melhor se dava a coleta de informações consolidava-se o poder católico nos mais diversos reinos.

Foi tanto poder e glória que mais tarde a própria Igreja se subdividiu. Na evolução dos anos e do poder na Europa de então a Igreja de Roma veria a partir do ano 988 o cristianismo espalhar-se por toda a Rússia e veria também o surgimento da Igreja Ortodoxa russa, insubmissa ao Vaticano.

A queda do Império Bizantino deixou o Vaticano à deriva e muitos dos seus feudos se tornaram independentes sem aviso prévio. Poucas décadas depois era a Grécia que fundava a sua própria Igreja católica. Com o tempo, as diferenças culturais criaram várias rusgas entre elas, como a que diz respeito à língua oficial dos cultos: os cristãos do Ocidente queriam o latim, enquanto os do Oriente não abriam mão do grego e do hebraico.

A separação veio em 1054, no chamado Cisma do Oriente. Os ortodoxos questionavam a autoridade papal e não aceitou a interferência de um cardeal enviado pelo papa Leão IX a Constantinopla, na Turquia. Resultado: o patriarca grego Miguel Cerulário foi excomungado pelo Vaticano.

De acordo com o capítulo referente aos fundamentos da Igreja Ortodoxa russa o “segundo Concílio Ecumênico foi realizado em Constantinopla, no ano 381″.

Era uma época que o Vaticano ainda contava com as benesses de Bizâncio, a capital do Império Romano no Oriente. Mais tarde, foram convocados outros Concílios Ecumênicos (sete) para a reafirmação do verdadeiro dogma cristão, sendo obrigatórias suas resoluções que, com a Sagrada Escritura, constituem a base e o fundamento da Igreja Cristã.

Diz ainda os fundamentos da Igreja Ortodoxa russa:

“O triunfo do Cristianismo se determinou no terceiro século após a morte de Cristo, motivado pela paz decretada por Constantino, Imperador de Roma. Até então, o Cristianismo vivia nas catacumbas, locais onde eram celebrados todos os atos religiosos e se aprendia a religião de Cristo (Atos dos Apóstolos). Desde aquela era, a Igreja de Cristo segue seu caminho através do mundo, pregando a doutrina de Jesus Cristo.

- A Igreja Ortodoxa veio à luz na Palestina com Jesus Cristo, expandiu-se com os Apóstolos e se edificou sobre o sangue dos mártires. Não teve sua origem na Grécia ou outro Pais que não seja a Palestina. Ela não morre, porque vive e descansa em Cristo e tem a promessa divina de que existirá até o fim dos séculos. Em vão, os seus inimigos, e todos os corifeus da impiedade trataram de destruí-la, nega-la, persegui-la. À semelhança de seu divino Mestre e fundador Nosso Senhor Jesus Cristo, a Igreja Ortodoxa, desde seu nascimento, no ano 33 de Cristo, tem padecido e sofrido terríveis perseguições debaixo do jugo do Império Romano, passando pelo muçulmano turco, até nossos dias”.

Como se lê e se pode deduzir nem sempre a Igreja Católica, Apostólica e Romana foi um bloco monolítico pela fé. Foi mais pela força, desde os seus primórdios. Entre os séculos XV e XVI o Vaticano chegou a ter seu próprio Exército. Ela cuidou de se aprimorar através dos tempos, principalmente em informações e espionagens para aceitar dissidências e dominar territórios.

Os cristãos Ortodoxos dizem ainda lá nos seus fundamentos:

- A ortodoxia é a corrente doutrinal que declara que representa a visão correta, fundada em princípios sistemáticos (metafísicos) e científicos. O contrário é a heterodoxia.

Os cristãos ortodoxos, por força da denominação, são os que professam toda a doutrina da fé cristã de acordo com o magistério da Igreja. Apoderaram-se, porém, da designação da Igreja bizantina depois do cisma que os opôs a Roma (nos séculos IX e XI) ao se arvorarem em depositários da fé verdadeira em oposição à Igreja latina. Ficaram, por isso, a ser denominados ortodoxos os cristãos da Europa Oriental, que se mantêm separados da Igreja Católica Romana.

A Igreja Ortodoxa se vê como a verdadeira igreja criada por Jesus Cristo, além de não reconhecerem o Papa como autoridade. Para os cristãos ortodoxos, como são chamados, não existe purgatório e não acreditam na virgindade de Maria após a concepção. Na Igreja Ortodoxa, os padres são liberados para o casamento, desde que este tenha ocorrido antes da sua conversão, e apenas os bispos são obrigados a manter o celibato.

Em 1533 o Vaticano viu nascer outra dissidência: dessa vez na Inglaterra com o surgimento da Igreja Anglicana. O Rei Henrique VIII era casado há 24 anos com Catarina de Aragão. Com ela, teve seis filhos, mas só um deles, uma menina, sobreviveu. Preocupado com o futuro do trono, Henrique deixou-se encantar por Ana Bolena – uma dama educada, culta, jovem e louca para subir na vida. O Rei pediu o divórcio. O papa Clemente VII negou. E ainda se recusou a abençoar a sua segunda união. Henrique VIII não pensou duas vezes: cortou relações com Roma e se declarou o chefe de uma nova Igreja – a Igreja Anglicana. Mas fazia tempo que vicejava na sociedade inglesa o desejo e a aspiração de um altar diferente do Vaticano. Pelo menos é o que conta a história repassada pela Igreja Anglicana do Brasil: (1)

-o desejo de separação já estava presente bem antes desse episódio. Desde o século II, para ser mais exato. Naquele tempo, ainda não havia a religião católica. Existia apenas o cristianismo. Onde os apóstolos paravam, construíam uma igreja, que ganhava o nome do povo local. Na Grã-Bretanha, virou Igreja Celta: uma adaptação do cristianismo aos costumes, crenças e tradições da região.

No século VI, já a mando da Igreja Católica, santo Agostinho se estabeleceu na cidade inglesa de Cantuária, com o objetivo de converter os anglo-saxões. Virou o arcebispo de Cantuária e colocou a Inglaterra sob a tutela do Vaticano. A missão de Santo Agostinho deu frutos e durou quase mil anos.

Mas não ficou por aí.

Muitos séculos mais tarde, quase mil anos depois, a Igreja Católica se veria, de novo, diante de outro cisma, seríssimo. Dessa vez era um Frei alemão, de nome Martinho Lutero que se rebelava contra os desígnios do Vaticano. O certo é que no dia 31 de outubro do ano de 1517, Frei Martinho Lutero escreveu, indignado, uma carta de protesto ao arcebispo de sua região e junto um exemplar de suas famosas 95 teses. Lutero faria na Alemanha a mais séria cisão que a Igreja Católica e os reinos europeus veriam em toda a sua história: a criação do protestantismo. Antes disso, porém, havia outro inimigo a combater: o Corão.

Ele ameaçava o norte da Europa, entrando pela Espanha. Sob o pretexto da conquista da cidade de Jerusalém, cada reino queria o seu naco de saques e dos tesouros da cidade que sempre foi Santa, mesmo antes de Cristo. Até que no ano de 1.095 o Papa Urbano II conseguiu convencer todo o continente que a guerra contra Islã não era apenas de um ou outro país, e sim de todo o Continente. Isto porque a ala oriental da Igreja que tinha sua sede em Constantinopla estava em perigo, pronta a sucumbir diante da ameaça e da avalanche islâmica que já dominava grande parte do Oriente Médio e da Ásia Menor.

O Papa Urbano II estava convencido que o objetivo final do Islã era conquistar toda a Europa Ocidental e varrer do mapa a Igreja Católica. Diante desta ameaça se faziam necessárias ações rápidas de conquistas pela força e com planejamento e inteligência.

A Igreja Católica já era uma potencia com sua sede na mesma Roma dos Césares que um dia dominaram o mundo. Esta Igreja tinha nos reis os seus generais e estes, diligentemente, implantavam por convencimento ou pela força a fé em Cristo e a cega obediência dos fiéis ao santo espírito emanado do Vaticano. Esse rebanho era mantido cativo e se embevecia não somente com a ação pastoral do catolicismo que em nome de Cristo acolhia nos seus mosteiros, orfanatos e centros sociais os deserdados da sorte e esquecidos pela realeza. A Igreja nunca socializou tanto. E impunha seu poder também através de esplendorosos templos cujas estruturas monumentais maravilham o homem até hoje e o tornava escravo e respeitoso ao Estado e a Deus.

Por essa época quem dava importância à espionagem e a informação era a Igreja Católica, romana. E tinha sua forma especial de colher informações: o confessionário. Os reinos europeus pouco ligavam para esta nova ciência. E tanto é verdade que no século XIII eles quase foram varridos do mapa por um exército bem informado.

Essa é a parte da história que conhecemos. Uma versão muito simplista, diriam os anglicanos.

(1) Igreja Episcopal Anglicana do Brasil

www.ieab.org.br

20 de março de 2014

VOANDO NAS AEREAS DO BRASIL

Passageiro experiente, seja de aviação ou qualquer outro tipo de transporte, em país subdesenvolvido sabe que vai sofrer. Geralmente paga caro pelo transporte e sabe que o conforto e bons serviços não estão no pacote. É o caso do Brasil, apesar de sermos a sétima economia do mundo. Se você necessita viajar numa emergência e vai para o aeroporto nas primeiras horas da manhã para comprar o tíquete no aeroporto é quase certo que ficará no chão. Ninguém explica o porque. Mas o pessoal de venda nunca está a postos nos aeroportos brasileiros nas últimas horas da madrugada.

Aqui no Brasil não se vende passagem no mesmo guichê do check-in. Ninguém sabe porque. E na véspera do voo, só até à meia noite a possibilidade de compra do bilhete pela Internet está disponível. Após a meia noite esqueça. Vá direto para o aeroporto. E lá espere para depois das oito da manhã. Antes disso você não resolverá sua urgência. Salvo dias e acontecimentos especiais. Mas é muito difícil encontrar aberto o balcão de venda das aéreas brasileiras em qualquer de nossos aeroportos antes das sete, oito horas da manhã.

Nas médias cidades, onde as instalações dos aeroportos são acanhadas, e onde costumam sair vários voos ao mesmo tempo, esteja atento. Em Ilhéus, na Bahia, o aeroporto é minúsculo. Incoerentes e contrariando regras elementares de logística, os voos, todos, chegam e partem ao mesmo tempo, na mesma hora. Avianca, TAM, Azul e Gol amontoam seus passageiros numa pequena sala, muitas das vezes sem ar condicionado, e na hora do embarque é um Deus nos acuda. São apenas dois portões e o embarque é feito caminhando. A maioria fica tonta sem saber para que avião seguir no meio do burburinho, especialmente os de primeira viagem. Chega a ser uma cena divertida, patética. Mais parece embarque de fugitivos de guerra ou de catástrofes. No dia 5 de fevereiro de 2014 a sala do aeroporto Jorge Amado, como é chamada o de Ilhéus estava superlotada. Vários passageiros ficaram esperando a chamada do embarque, pelo sistema de som, do lado de fora da sala. Resultado: alguns ficaram no chão. O embarque foi realizado sem chamada e os passageiros da GOL ficaram a ver as nuvens.

Obrigatoriamente você é forçado a comprar sua passagem, em todas elas, principalmente na GOL e TAM, na Internet, navegando pelo sistema operacional Windows Internet Explorer. Este já não é mais o primor de navegação do passado. O sistema trava constantemente e você tem que se munir de paciência para a operação de compra. Se você liga e reclama com a companhia, a atendente lhe dirá: “nosso sistema funciona melhor com o Internet Explorer”. Isso as empresas fazem para economizar. Porque não em todos os sistemas operacionais de navegação? Deveria ser obrigatório.

Se não conseguir você será direcionado para o 0800 da empresa. Este jamais estará disponível e sem nenhum constrangimento você terá que ir para o 0300 onde a ligação é paga, além de uma taxa pelo atendimento. E você não é avisado disso no site. Na ligação para o 0300 eles te mandam ir para o site avisando que lhe será cobrado uma taxa de atendimento por ali. Mas se o site está com problemas você não terá alternativa se necessitar emitir seu bilhete naquele dia e hora. Isso sem contra as “pegadinhas” que existem por lá como seguro de viagens e outras.

Se por uma razão qualquer você não conseguir comprar sua passagem pela Internet e se dirigir à uma loja das aéreas, mesmo no aeroporto, lhe será cobrado uma taxa de até 100 reais pela transação.

Não existe nenhum aviso nem advertência sobre isso nos sites das empresas. Se por qualquer motivo o voo atrasar, paciência. Se atrasar mais de 3 horas existe penalidades para as aéreas tais como fornecimento de refeições gratuitas e em alguns casos táxi e hospedagem e mais algumas poucas compensações. Mas se você perder o voo por qualquer razão, mesmo que por minutos de atraso, vai ser penalizado em uma multa para remarcação do bilhete. Mesmo que a cidade esteja inundada. Se a passagem foi comprada sob a rubrica do PROMOCIONAL, às vezes é melhor comprar outra diante do tamanho da multa.

Na hora de marcar o assento pela Internet, na maioria das vezes estão quase todos bloqueados, como se o avião estivesse lotado. Se você não pedir um assento de sua preferência no check-in, depois do embarque constatará que os assentos estavam bloqueados à toa. Raramente os embarques são feitos de acordo com as regras internacionais da IATA (International Air Transport Association- Associação Internacional dos Transportes Aéreos) a entidade internacional que regula o transporte aéreo no mudo.

Primeiro devem ser embarcados os passageiros com assentos marcados no fundo da aeronave, depois os do meio e só então os assentos marcados nas primeiras fileiras. Isso evita desconforto, confusão na arrumação das bagagens de mão e atraso na decolagem. Quase nunca isso é observado. O que se constata é uma baita confusão nos embarques, especialmente naquelas aeronaves cujo embarque só é feito pelas portas traseiras. Esse aviões só estão disponíveis nas chamadas rotas de terceiro nível, aquelas do interior do país.

Se o passageiro deseja realizar uma viagem de lazer ou trabalho, por exemplo, saindo do Rio ou São Paulo com a seguinte rota: São Paulo – Rio – Salvador – Maceió – Natal - São Paulo você só conseguirá fazer este roteiro pagando tarifas de uma cidade para outra cidade. Não existe a tarifa única, nem barata, nem cara, com as escalas pretendidas. Pelo menos na Internet. Mas em qualquer companhia estrangeira posso tirar um bilhete Rio – Lisboa - Paris – Roma – Lisboa - Rio sem ter que pagar pelas escalas.

Mais ainda. Você está em algum lugar do Brasil embarcando para Rio de Janeiro ou são Paulo, cidades que possuem dois aeroportos. Mesmo com bilhete de tarifa cheia, ou seja, o mais caro, você está originalmente destinado ao Galeão ou Guarulhos. Descobre que naquela mesma hora existe outro voo da mesma empresa com destino ao aeroporto Santos Dumont ou Congonhas. Você decide trocar de aeroporto. Vai pagar, em alguns casos, mais caro que a passagem para realizar essa troca. O mesmo acontece se o desejo for inverter os aeroportos. Não importa se o voo está vazio.

Se você comprar um bilhete para voar de Vitoria da Conquista (interior da Bahia) para São Paulo ou Rio de Janeiro, rotas que são feitas pela Azul e pela Gol, a passagem nunca custará menos de oitocentos reais (as mais baratas com horário de saída às 4 horas da madrugada) e em alguns casos você ficará ate oito ou dez horas voando, com escalas cansáveis e desnecessárias em diversos aeroportos.

Endosso de passagem jamais. O que já foi uma prática comum nos tempos de Varig, Vasp e Transbrasil, hoje é impossível. Por uma razão qualquer você tem um bilhete da Azul e naquela hora e naquele dia o voo é da TAM. É comum, no exterior, uma companhia aceitar o bilhete da outra, desde que seja endossado pela emitente. Aqui nem pensar. Se não puder voar no combinado, pague multa e escolha outra data.

Os programas de milhagens não possuem regulação no Brasil. Não há Lei e nem fiscalização para eles. Cada um faz suas próprias regras e o que muito bem entende. Os sites desses programas são uma panaceia e o passageiro cuide de ficar de olho nos créditos de milhas. Do contrário elas voam sozinhas. Somente os pontos voados são convertidos cem por cento em milhas. Aqueles pontos que são transferidos do seu cartão de crédito para seu programa de milhagem preferido sofrem uma redução na hora de serem transformados em milhas, em alguns casos de até 25 por cento. Suponhamos que você transfira mil pontos. Serão creditado somente 750 milhas. Isso no caso da TAM e da GOL, porque na AVIANCA e na AZUL as regras já são outras, e bem menos compensadoras.

O programa de milhagem da TAM é uma barafunda sem tamanho. Na companhia você marca seu numero sob uma bandeira chamada FIDELIDADE. Depois esses pontos são transferidos para outra bandeira pertencente à outra empresa chamada MULTI PLUS. E o mesmo numero não vale para os dois. E nem a senha. Em cada um uma identificação diferente.

Passagem barata não existe mais. Ou , quando existe, promoções, são em cima da hora e na data e horários que a companhia oferece. Tudo que foi descrito aqui se restringe às companhias aéreas. Esqueçamo-nos dos aeroportos. Se falar deles desistimos de viajar. Imagina na Copa? Ah, e tem tal de ANAC (Agencia Nacional dos Transportes Aéreos) que foi criada para regular o setor. Tente entrar no site dela. Se for para reclamar, desista.

19 de fevereiro de 2014

MENORES DE IDADE NO BRASIL

No dia 25 de janeiro de 2014, um sábado, o Jornal Nacional exibido pela TV Globo mostrou cenas apavorantes. Uma quadrilha de marginais, todos menores de idade, agiam à luz do dia na estação Central do Brasil, lugar de muito movimento, roubando tudo que podiam, principalmente das mulheres. Para quem não conhece, esse lugar fica no Centro do Rio de Janeiro e é a principal estação do sistema de trens urbanos da cidade. Por lá, noventa por cento dos que transitam é gente pobre. Eles roubavam cordões, relógios e bolsas numa impunidade assustadora. Eram mais de vinte e todos jovens e saudáveis. O Repórter entrevistou alguns assaltados. As respostas eram patéticas. Não havia o que fazer. Mostraram um carro da polícia estacionado há poucos metros da cena. Sem falar que no edifício da Central do Brasil, no mesmo local, funcionam vários órgãos policiais. A cena falava por si só. Faz muito tempo que esse problema deixou de ser da polícia. E mesmo que fosse não haveria polícia suficiente para resolver este assunto. A grande mídia cobra muito da polícia. Mas para os graves problemas sociais que temos considero que ela faz muito.

No dia seguinte, 26 de janeiro, um domingo de manhã ensolarada, nas esquinas das ruas Hilário de Gouveia com Avenida Atlântica, o lugar é passagem de centenas de turistas buscando a praia de Copacabana ou o calçadão nos mês de janeiro. No pequeno trecho entre a Avenida Nossa Senhora de Copacabana e a praia existe uma Igreja, católica, com grande movimentação no inicio da manhã por conta da missa de domingo, uma banca de jornal e do outro lado da rua uma feira livre que funciona até às 15 horas dos domingos. Nesse meio eu contei mais de 25 jovens sem camisa e com idade de 8 a 17 anos. Talvez mais um pouco, escondidos por entre a banca de jornal e a Igreja. Todos à espreita, praticando furtos e muitos cheirando cola, uma droga envenenada e que é a preferida pelos MENORES DE RUA como são tratados os delinquentes menores de idade.

Cheguei a presenciar a corrida de alguns turistas, e alguns botes em velhas senhoras que perderam seus cordões que levavam no pescoço. É uma cena comum no bairro de Copacabana. Seja de dia ou pela noite. Mas nunca tinha visto tantos menores juntos com disposição para roubar. Tive medo. Mesmo assim parei e procurei conversar com três deles. Um tinha 17 anos, forte como um touro. Outro com pouco mais de 15 anos e o terceiro com nove anos de idade apenas. Por estes fiquei sabendo que moram todos nas favelas da região. Não estudam, nunca foram à escola, pelo menos meus três interlocutores, e são filhos de pais separados morando em barracos e criados pelas mães que não tinham a menor ideia de onde eles estavam. Logo me lembrei da frase do atual Governador do Estado do Rio, Sergio Cabral, certa vez se referindo a uma determinada favela da zona sul da cidade: dizia que era uma fábrica de marginais. Quase foi linchado pela mídia e pelos defensores desses menores.

Esse retrato pintado aqui não é uma exclusividade da cidade do Rio de Janeiro. Trata-se de um cenário comum nas grandes cidades brasileiras e até mesmo nas pequenas, no interior. E o brasileiro diante dessa situação gostaria que a polícia agisse. Não há polícia no mundo que resolva esse problema. Mas parece que somente a própria polícia e uns poucos sabem disso. Trata-se de um inferno social com origem em diversas causas que a maioria dos brasileiros ignora. Para ignorar a realidade, penso eu que não existe povo igual no mundo, começando, sobretudo, pelas classes dirigentes, pelo clero, pela chamada intelectualidade, pela elite enfim.

E como o brasileiro esquece rápido, vale relembrar aqui uma excrecência formatada no Congresso Nacional em Brasília, há cerca de 20 anos e que virou Lei. Na época, a relatora do projeto, a Deputada Federal Rita Camata do PMDB do Estado do Espirito Santo andou o Brasil bradando a proteção dos jovens e o povo brasileiro ficou convencido de aquilo era de fato a solução: a excrecência ganhou o nome de Estatuto do Menor e do Adolescente. Na prática o seu maior efeito foi despenalizar os menores de 18 anos de idade. A partir dele nenhum menor de idade, mesmo praticando o mais hediondo dos crimes, poderá ser penalizado. E nas letras dos outros artigos grifaram o que de bom todo jovem brasileiro tem direito. O bom ficou só no papel. Mas o que era para ajudar virou incentivo ao crime. O menor e adolescente foi mesmo é para as ruas: roubar, assaltar e cheirar cola.

Mas esse Estatuto foi aprovado e celebrado pelo Congresso Nacional, e sancionado pelo então Presidente Collor de Mello, como a redenção e vitória do adolescente brasileiro. E tanto foi assim que alguns anos depois a Deputada Camata virou candidata a Vice Presidente da Republica na chapa do PSDB com o candidato José Serra disputando a sucessão do então Presidente Fernando Henrique Cardoso com o também ex-presidente Lula que ganhou a eleição. Na época, no ano de 2002, o Estatuto já estava enferrujado. E desde então não se sabe de mais nada de notável, ou não, que faça a nobre Deputada Camata. E ninguém mais defende o tal do Estatuto. Esqueceram-se dele. Mas é Lei.

As causas que originaram o Estatuto do Menor e do Adolescente só fez piorar desde então. A sociedade brasileira continua cega para o problema.

E agora, outros jovens, mais afortunados, acossados pela bandidagem mirim passam a fazer justiça com as próprias mãos. Foi o caso do menor assaltante que atuava no aterro do Flamengo, outro bairro importante do Rio de Janeiro, e foi pego e amarrado a um poste da via publica por moradores exaustos. Parece que alguns brasileiros começam a perceber que este não é um problema da polícia. Até mesmo na declaração da Deputada Federal Benedita da Silva do PT-RJ ao condenar o ato de barbárie dos moradores e defender o menor:

- ele só praticava pequenos furtos.

Isso pode. É o Brasil. As causas disso saberemos no próximo capítulo.