19 de abril de 2010

A mídia pede socorro

Coluna Claudio Humberto
http://www.claudiohumebrto.com.br/
Sábado, 21/03/2010
16:21
Aleluia hildeberto traz em seu novo artigo uma reflexão sobre a situação dos jornais no Brasil e a relação da mídia com o poder público. Segundo ele, sem a participação publicitária dos governos federal, estadual e municipal, a maioria da mídia no Brasil “já teria morrido”. E ainda complementa, “isso traz problemas no que diz respeito à qualidade e independência da informação. Governos são fortes e sabem pressionar para fazerem valer seus pontos de vistas. É uma eterna luta de gato e rato. Hoje é assim que funciona”.

A mídia pede socorro

Por  Aleluia  Hildeberto

Imagine a cena: o Presidente da Republica em seu palácio reúne a mídia do país, agonizante por falta de dinheiro, e pergunta quanto é necessário em dinheiro para que ela não vá àbancarrota.Três bilhões de euros, de uma só vez, para salvar os órgãos de comunicação da França. Foi quanto autorizou o Presidente Sarkozy ao tesouro Francês. Sabemos, ele, o povo francês, e nós que a república francesa jamais verá este dinheiro de volta. E não vai demorar muito para se constatar que grande parte dos “ ajudados” naufragaram e os que ficaram vão precisar de ajuda financeira outra vez, logo, logo. É calamitosa a situação da mídia, na França, especialmente a mídia impressa. Outrora baluartes de vendas, ícones de circulação, e de opinião também, jornais como Le Monde, LeFígaro, LeParisien, Liberation,L!Express, L!Humanité, claudicam em tiragens cada vez menores. E olha que a França está no rabo da inclusão digital na Europa. Mas a internet fere de morte todos os meios de comunicação franceses, assim como em todo o mundo.
Corta para o Brasil. Três bilhões de euros são mais de 7 bilhões de reais, algo como 4 bilhões de dólares. Quanto em reais o governo brasileiro investe, doa ou ajuda a mídia no Brasil? Ninguém sabe. Mas pelo que se sabe, os números daqui não estão longe dos números franceses e com um agravante: no Brasil a ajuda vem todos os anos. Somente o governo federal, oficialmente, reconhece que sua verba de publicidade, anual, está em torno de 2 bilhões de reais. Acredito que seja muito mais, pois só estão computados aí os números das verbas de publicidade autorizadas por processos licitatórios para a publicidade institucional. Se juntarmos os números do governo federal em COMUNICAÇÃO, mais a chamada publicidade legal, mais os números dos estados e municípios , mais os gastos dos poderes legislativos e judiciário, em suas esferas federais, estaduais e municipais de publicidade institucional e legal,ultrapassaremos com folga os números franceses. Isso sem contar os incentivos e a elisão fiscais.
Empresas de comunicação, mídia, gozam de um sistema tributário especial, particularmente as editoras. Se estes números forem traduzidos em termos matemáticos ficarão assustadores. Sem contar também com o custo das empresas de comunicação do próprio governo. Mas é o preço da “liberdade” de informação. Sem essa “ajuda”, a imprensa sucumbiria. Sem a participação publicitária dos governos, federal, estadual e municipal, a maioria da mídia no Brasil já teria morrido. Ela não suportaria os seus custos unicamente com as verbas do setor privado. Isso traz problemas no que diz respeito à qualidade e independência da informação. Governos são fortes e sabem pressionar para fazerem valer seus pontos de vistas. É uma eterna luta de gato e rato. Hoje é assim que funciona. Se você prestar atenção e passar a observar a quantidade de publicidade dos governos vai tomar um susto.
No Brasil os governos anunciam para tudo, até o legislativo faz campanha de publicidade. Não deveria ser assim, governos se fazem comunicar pela eficiência na prestação de seus serviços. Eles não deveriam ter anúncios institucionais como a empresa privada vendendo sua marca. Governos se vendem por si só, nas esquinas, quando funcionam. Quando interessam à massa, informações governamentais deveriam ser veiculadas de graça. A Lei manda que o balanço anual da empresa estatal seja publicado em um só jornal de grande circulação no município onde está a sede da empresa. Pois saiba que todos os jornais do eixo Rio- São Paulo - Brasília, este mês, ficaram muito agradecidos à Casa da Moeda do Brasil, portanto ao governo, quando fez publicar seu balanço em todos eles. Esse é só um exemplo do que acontece diariamente aqui entre nós.
Aleluia Hildeberto é jornalista

5 de abril de 2010

INTERNET X MIDIA CONVENCIONAL

GIGANTES NO RINGUE:
Artigo publicado em 07/04/2010
A briga é de titãs. De um lado a Internet e do outro a mídia convencional. Por enquanto ainda não se deu a tal da CONVERGÊNCIA, teoria brilhante exposta no livro A Cultura da Convergência (Editora Aleph) do professor de Ciências Humanas e coordenador do Programa de Estudos de Mídia Comparada do prestigiado MIT - Massachusetts Institute of Technology, Henry Jenkins. No livro, Jenkins prevê as velhas mídias fundindo-se com a Internet numa interação proveitosa em benéfico do leitor/telespectador. Segundo ele todas as mídias sobreviverão. Pode ser, mas por enquanto a Internet vai ganhando os primeiros rounds ora por pontos, ora por nocaute. Com este golpe, destruiu a indústria do disco e do CD. Por pontos, vem devagar, derrubando a mídia impressa.
Estes movimentos estão se dando, significativamente, primeiro nos Estados Unidos, depois na Europa e na Ásia. O personagem mais incomodado chama-se Rudolf Murdoch, proprietário da News Corporation, maior cadeia de mídia do mundo. Da Austrália, passando pela Inglaterra até chegar à América não há ninguém hoje na terra que faça concorrência a este australiano baixinho e elétrico. È o grande lutador deste ringue. Entre outros, em suas mãos estão jornais impressos tais como o The Sun, Sunday Times e o The Times, de Londres. The Waal Street Journal e o The New York Post nos Estados Unidos. Seu poder é tão grande que ele criou uma cadeia de TV nos Estados Unidos, a FOX NEWS e desbancou a veterana e poderosa CNN.
Misteriosamente Murdoch esconde os resultados da experiência de mais de um ano que ele vem promovendo no Financial Times, um dos ícones do jornalismo econômico mundial. Sabe-se, por aqui e por ali que ele vem cobrando o acesso ao site do jornal por etapas. Por determinadas libras o leitor tem acesso a um numero estipulado de artigos. Desejando mais detalhes sobre o assunto paga-se mais um pouco e assim vai evoluindo numa prática que vem sendo executada a mais de um ano. Junto com ele existe um contendor arrojado, não tão espaçoso no mundo, mas igualmente ousado e respeitado. Trata-se de Alan Rusbridger editor do prestigiado jornal The Guardian, de Londres. Ambos concordam com o argumento de que jornal impresso já é coisa do passado. Mas enquanto o primeiro recua da posição de permitir a leitura grátis nos sites de seus jornais, o segundo, Rusbridger é totalmente contra ao “ pay wall” (barreira que só pode ser ultrapassada mediante pagamento). Este vai mais longe, advoga a idéia de que os jornais que vierem a cobrar por conteúdo “correm o risco de cair no esquecimento” em suas próprias palavras. O mundo da mídia impressa está de olho nessa briga. Quem ganhar vai ditar o comportamento para o resto do mundo.
Neste segundo semestre o barão da mídia, como é mais conhecido Rupert Murdoch, começa a cobrar do leitor o acesso ao conteúdo digital de todo os seus jornais. Ele já fez de tudo na tentativa de reagir ao declínio. Já reduziu brutalmente o preço de seus jornais e em alguns casos passou a distribuir gratuitamente jornais que antes eram vendidos. Nada disso resultou em sucesso. Junto com ele está o não menos poderoso The New York Times - o mais influente jornal do planeta. Até o fim do ano de 2010 também vai cobrar pelo acesso. Quem entende do assunto e trabalha no setor carrega um caminhão de dúvidas sobre a eficácia da medida. Aqueles que defendem mudanças, exceto Murdoch, são vagos e cautelosos na hora de fazer previsões e aprofundar medidas para salvar jornais em queda livre de vendas. Estão convencidos de que necessitam tentar algo novo porque o modelo atual parece fadado a desaparecer. Uns acham que o modelo gratuito sustentado por anúncios não está dando certo e tentam reter o conteúdo parcialmente. Essa é uma prática que vem sendo observada em todo o mundo.
Mas a grande mídia continua perdendo leitores para a mídia on line. E os sites que começam a cobrar perdem imediatamente o interessado que se transfere para o grátis mais próximo. O americano Crhis Anderson, autor de A CAUDA LONGA, (editora Campus), já desfila nas livrarias brasileiras com outro livro de tirar o sono dos executivos do setor. Chama-se FREE, da mesma editora. Lá, ele defende a idéia de que tudo aquilo que for pago, na internet, estará fadado ao fracasso. É difícil contestá-lo diante dos fatos e de seus argumentos. Até aqui, tudo é a quase pura verdade. Anúncios na Internet crescem numa velocidade impressionante. Segundo a Price Waterhouse Coopers, respeitada empresa de consultoria americana no mundo, de um total de 182 bilhões de dólares em publicidade a receita do mundo digital foi inferior a seis bilhões de dólares no ano de 2008. Mesmo assim o setor cresce a uma taxa próxima de 30 por cento ao ano. Este ano os especialistas prevêem que a receita seja de mais de 20 bilhões de dólares. Ainda não é nada, mas o que espanta é a queda dos outros setores. Para os jornais, no mesmo período a receita caiu 17 por cento e para as revistas a queda foi de 20 por cento. Nos Estados Unidos, no primeiro trimestre do ano passado a redução foi de 29 por cento no seguimento de publicações impressas.
E os números não param de assustar. A indústria de jornais impressos dos Estados Unidos perderá 25 por cento dos postos de trabalho até 2018, de acordo com estudo do Departamento de Estatísticas do Trabalho de lá. Diz ainda que entre os dez setores que mais perderão postos de trabalho no período, jornais impressos ocupam a sétima posição. Em 2008 o setor abrigava 326 mil empregos e a previsão é de que em 2018 existam apenas 245 mil. Uma queda de mais de 24 por cento.