3 de julho de 2013

A LUTA CONTINUA: VELHA MÍDA X INTERNET

Na primeira quinzena de abril deste ano, 2013, encerrou-se na cidade do Rio de Janeiro o encontro dos executivos e proprietários do que é considerado a maior rede de mídia, impressa, da América Latina, também conhecido como Grupo de Diários América, o GDA e que é formado, entre outros, por jornais do Brasil, da Argentina, do México, da Colombia, do Chile, do Uruguai, da Costa Rica, de Porto Rico, do Peru, Equador e Venezuela. São 11 países da América Latina com uma população próxima de quinhentos milhões de pessoas, aproximadamente. Diz o GDA que nos jornais deste grupo trabalham mais de 2.500 jornalistas produzindo conteúdo, notícias, para cerca de 6 milhões de leitores.

Segundo o jornal O Globo, do Rio de Janeiro, um dos expoentes do GDA, em matéria publicada na edição de 11 de abril de 2013 à página 26 do Caderno de Economia, o mercado digital foi o principal assunto tratado no encontro. Diz ainda que “os 70 sites da rede recebem 46 milhões de usuários e mais de um bilhão de visualizações de páginas”. Não informou se esses números correspondem a visitas diárias. Provavelmente sim. A última reunião desse senhores realizada no Brasil está fazendo mais ou menos uns 15 anos e foi no Recife. Lembro bem que a maioria deles viajava em seu próprio avião e lembro também que um dos donos de um jornal mexicano, da Província de Monterrey, tinha até um mordomo a bordo e que lhe serviu no hotel onde eu também estava hospedado. Era o auge dos jornais, e o começo da era de decadência.

De lá pra cá muita coisa mudou. Provavelmente a maioria desses donos de jornais continuam com seu jatos, gordo faturamento e muito prestígio com governos locais. Afinal eles formam o quarto poder. Mas a tiragem dos seus jornais é cada vez menor. O interesse do publico leitor diminui numa velocidade espantosa e cada dia um jornal morre em muitos países dessa região. Os números exibidos no encontro do Rio de Janeiro parecem, só parecem, fenomenais olhando para a casa decimal. Mais, sempre tem um mais , quando se olha para os números daquela que aterroriza a velha mídia, a Internet, ai não dá para comparar. Quinhentos milhões de habitantes e apenas 6 milhões de interessados na leitura de um jornal diário. Somente no Brasil o Facebook já ultrapassa a casa dos 60 milhões de usuários na Rede, e com uma média de mais de 6 horas por dia, on line.

Sendo assim o assunto que dominou a pauta do encontro foi a implantação do paywall - a cobrança pelo acesso ao site do jornal on line- também conhecida pela tradução literal para o português como MURO DE COBRANÇA- que nenhum jornal da região ainda pratica em sua plenitude. Existem barreiras, o que eles chamam de paywall poroso. O internauta pode ler algumas notícias, grátis, no site do jornal e a partir de um determinado número de matérias lidas a navegação gratuita é interrompida e só é permitida para assinantes. O paywall em sua plenitude é uma experiência restrita a alguns jornais dos Estados Unidos e por enquanto nada indica que esteja consolidada como alternativa viável. Olhemos os números do New York Times , NYT , nessa área. Este jornal não faz muito tempo tinha recorde de tiragem e vendas ultrapassando folgadamente os dois milhões de exemplares diários na sua edição impressa. Nos últimos dez anos sua tiragem vem caindo, seu faturamento despencando e o acesso dos leitores, via Internet, não cresce na mesma proporção.

Tres modelos de assinatura estão sendo testados desde 2011 quando ele começou o modelo paywall, pleno. O internauta pode navegar no site com direito a leitura de até dez matérias, por mês, gratuitamente. A partir desse limite o acesso gratuito é bloqueado. A experiencia não corresponde às expectativas. Até agora o NYT conseguiu apenas 325 mil assinaturas digitais e desde abril de 2013, sua administração criou mais opções de assinaturas com diferentes preços e diferentes planos de acesso. Agora já permitem compartilhamento de login, ou seja: eu posso repassar, de graça o conteúdo que estou lendo para quem eu desejar ou você poderá usar meu login e ter acesso ao conteúdo do jornal. Embutido nessa inovação vem também convites para eventos na cidade. E desde o mês de Maio, passado, o jornal liberou o acesso ao conteúdo em vídeo que voltou a ser gratuito em qualquer plataforma.

Um analista econômico baseado em Nova York, Kannan Venkateshwar ouvido pelo jornal O Globo, do Rio de Janeiro, Brasil, em sua edição de 14 de abril de 2013, à página 27 do caderno de Economia, atesta: “o jornal está se movendo em direção a um modelo de negócio baseado na monetização do conteúdo, menos dependente da receita publicitária. Ele sonha com um modelo de negócio parecido com o da TV a cabo ou mesmo da Netflix”.

Temos que esperar para saber dos resultados. Mas desde já sabemos que os números jamais serão os mesmos. O preço de venda do espaço do jornal gráfico nunca poderá ser comparado com o preço do espaço na Internet. É mais ou menos assim: no jornal eles faturam alto com a venda de apenas uma página que será vista por milhares de pessoas. A assinatura do modelo digital tem que ser mais barata que o impresso. Como os livros. Na Internet chegam a custar dez vezes mais barato. Menos no Brasil, onde o livro digital é mais caro que o livro impresso. Coisa nossa. Na Internet para faturar alto tem que se vender pequenos espaços, baratos, e ser visto por milhões de pessoas. O modelo de negócio é completamente diferente. E cada vez tem menos gente disposta a pagar para ler conteúdo no computador onde o grátis é o que interessa mais. Neste universo a evolução, o sucesso e os insucessos andam rápidos.

Após perdas financeiras monumentais, ocasionadas pela diminuição de tiragem e perdas de anúncios publicitários, a situação do NYT ficou tão deficitária que obrigou a família controladora do jornal a dividir o poder com o mexicano Carlos Slim, considerado um dos homens mais ricos do mundo. Slim abocanhou uma parte do mando no Conselho do periódico mais influente da terra mediante uma injeção de 300 milhões de dólares salvando o ícone da impressa americana do buraco. O que se disse na época é que se tratava de um empréstimo. E já se divulgou também que parte desse dinheiro já lhe foi devolvido. Mas fica uma interrogação quando olhamos para os números referentes à situação financeira atual do jornal.

Logo após as declarações do senhor Venkateshwar a empresa do NYT divulgou o balanço do primeiro trimestre de 2013. Informa que a receita com circulação cresceu 6,5 por cento em relação aos três primeiros meses de 2012, impulsionada pelo aumento de 45 por cento na base de assinantes digitais do NYT e de outro jornal do grupo, o International Herald Tribune totalizando 676 mil assinaturas digitais. No outro front a empresa informa que o faturamento publicitário diminuiu 11,2 por cento no mesmo período. Informa ainda que o lucro líquido da companhia caiu 93 por cento no primeiro trimestre de 2013 comparado com o mesmo período do ano de 2012, de 42,1 milhões de dólares para 3,1 milhões de dólares. E que a receita total do grupo foi de 465,9 milhões de dólares, 2 por cento a menos que no ano anterior. Tudo indica, por esse números que a extensão dos danos nas empresas do grupo NYT é muito maior que seus controladores querem fazer o mercado acreditar. Com esses números divulgados o assento do senhor Slim continua ocupado por ele no Conselho da empresa.

É curioso observar o orgulho deles com seus números, vide a matéria de O Globo, e os extratósfericos números da navegação na Rede , tanto em quantidade de usuários como em tempo de navegação. Eles, os jornais, possuem um modelo de negócio testado, aprovado e sobrevivendo muito bem há mais de um século. O impresso possui mais de 400 anos de existência. A forma gráfica de imprimir, produzir, comercializar, distribuir e apresentar a notícia e a informação foi consolidada ao longo desses anos. Mas, como observou um teórico americano da comunicação, “cada leitor de jornal que morre, ele não será resposto”. O paywall ainda não se consolidou como solução. Existem experiências que estão sendo observadas com cautela e otimismo, tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra. Mas nada que garanta que esse será o futuro E este senhores que dominam essa área da mídia estão preocupados com seu ramo de negócios e sabem que o futuro é negro.

Existem outros números para serem comparados e que nos instigam a curiosidade sobre o futuro. A receita dos periódicos impressos, nos Estados Unidos, caiu mais de seis por cento em 2012 somando a uma queda de 42 por cento nos últimos cinco anos. Na Europa a queda foi de cinco por cento no mesmo perido, enquanto a nível mundial foi de dois por cento no ano passado e de 22 por cento nos últimos cinco anos segundo divulgação feita pelo site www.Journalism.uk em junho de 2013. Esses dados foram colhidos em Bangkok, na Tailândia, a partir de um evento mundial de mídia lá realizado e computados num relatório pela World Press Trends que o divulgou. Diz também que a circulação dos impressos caiu mais de seis por cento na América do Norte, mais de cinco por cento na Europa Ocidental, mais de oito por cento na Europa Oriental e mais de um por cento no Oriente Médio e norte da Africa. Na Asia, a circulação dos impressos cresceu mais de um por cento e na América Latina os números ficaram praticamente estagnados.

Aqui no Brasil a situação não é diferente. No começo de junho de 2013 os jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo anunciaram demissões e fechamento de editorias e cadernos diversos. O jornal Valor Econômico, o único especializado na cobertura do mundo econômico e financeiro do Brasil também anunciou uma leva de demissões. E a Editora Abril, a maior do país, anunciou demissões e o fechamento de dez títulos de suas mais importantes revistas, inclusive a Playboy e Contigo.

Este cenário melancólico tem um preço. Em matéria divulgada pela revista The Economist, da Inglaterra, baseada em dados extraídos de um relatório chamado The State of the News Midia 2013 produzido pelo Projeto para Excelência Jornalística do Centro de Pesquisa Pew, dos Estados Unidos, a situação financeira dos jornais e Tvs vem se deteriorando desde 1989. De lá para cá, segundo o relatório, as equipes dos jornais encolheram cerca de trinta por cento.

Em pesquisa realizada em território americano o projeto traz um dado curioso e impactante: eles suspeitam que tanto os jornais quanto as televisões vem produzindo cada vez menos reportagens de substâncias, aquelas como as investigativas e de produções acuradas e originais. Atestam que o clima, o tráfego e os esportes são responsáveis por 40 por cento das notícias da TV e que o tempo médio de cada matéria vem caindo continuamente. Somente 20 por cento das matérias das Tvs locais ultrapassam um minuto de duração e a metade delas tem menos de 30 segundos.

Nos canais de TV de notícias, com transmissões ao vivo, aqueles que necessitam de equipes com mais equipamentos e jornalistas experimentados, diz o relatório que cairam em um terço nos últimos cinco anos, nos programas diurnos. Em compensação aumentou consideravelmente os programas feitos em estúdios, como os de entrevistas, cujos custos são baixos por não exigirem deslocamentos de equipes. Os comentaristas assumem cada vez mais o tempo deixado pelas grandes reportagens.