26 de abril de 2020

PARECE. E É MESMO

Escrevi esse artigo três dias antes da exoneração do ex-ministro Moro

ASSIM É (se lhe parece) é o título de um drama escrito pelo siciliano Luigi Pirandello (28/06/1867-
10/12/1936) logo após a primeira Guerra Mundial em 1917. Nele seus personagens se imiscuem numa trama de um universo onde a verdade passa de um para o outro de acordo com a narrativa pessoal e no final alguém nega que àquela verdade exista. Mas a verdade ali está diante de todos e apesar das evidências é manipulada sempre de acordo com a versão de cada um. Virou peça de teatro com enorme sucesso pelo mundo e aqui mesmo entre nós ganhou dezenas de encenações.


 A verdade do Rodrigo Maia não é o que ele diz e sim o que parece. Olhando para trás e se movimentando como se fora um ator solitário, sem plateia, imagina seus planos e segue adiante tocando fogo nos caminhos onde passa. Imagina que depois do fogaréu saia ileso. É o que me parece. E se assim não fora estaria preocupado e realizando, de verdade, o que o país tanto necessita: um legislativo que olhe para frente e atue movido pela necessidade atual e de olho no futuro.  Ao que parece o Deputado Maia está se lixando.



Inspirado em Pirandello vejo a realidade brasileira a partir do que me parece. E o que parece ser não deixa de ser diante das negativas dos personagens. Ao que me parece, por tudo que leio e ouço na velha mídia o atual Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, Deputado pelo DEM-RJ, eleito com uma votação de pouco mais de 74 mil votos (  não é pouca coisa) não faz mais nada além de atrapalhar o governo federal, deixar caducar inúmeras medidas provisórias de interesse da nação e demonstrar querer destituir o Presidente da Republica.


 Assim como seu plano nunca está claro ele é escorado pelos grandes grupos de comunicação da velha mídia. Não me parece nítido que papel lhe será reservado em um provável governo pós-queda do Bolsonaro. Bem verdade que o Bolsonaro algumas vezes lhe facilita a caminhada. O inimigo de Bolsonaro e da nação não é ele. São as forças que ele vocaliza. Trata-se de uma conspiração gigantesca e bem torneada. Com apoio de alguns membros das instituições principais da República e escuros personagens da área econômica ele navega com desenvoltura como se estivesse legitimando seu papel. 


Não está. Age apenas de acordo com os interesses de uma elite que representa todas as forças derrotadas pelas urnas nas últimas eleições e que levou o Presidente Jair Bolsonaro ao Poder. Aí estão pensamentos de esquerda e de alguns que se acham de direita sem saberem o que isso quer dizer. Basta ver os vídeos do Ciro Gomes nas redes. Essas forças não têm povo e percebem ameaças constantes que podem derreter seus privilégios mantidos há décadas sem nenhuma contestação. Nada lhes falta, exceto o poder político do país. Ignoram que existe um novo país possibilitado pela ascensão de novas tecnologias.



O Deputado Rodrigo Maia apesar de jovem demonstra uma boa capacidade de articulação pois opera também em nome de muitos dos seus pares até aqui escondidos no plenário virtual da Câmara dos Deputados. O Deputado Maia deve saber pela experiência e pela história que está a mexer numa casa de marimbondos que também pode lhe comer os próprios olhos.



O Brasil reclama uma nova ordem política. Exige comportamento transparente. Essa nova ordem política nascerá independente do querer de seus membros. O voto, doravante, será de acordo com essa premissa. As últimas eleições foram apenas um prenuncio dessa vontade. Quem estiver vivo assistirá mudanças ainda mais profundas. Da mesma forma uma nova ordem econômica mundial nascerá assim que o vírus chinês arrefecer sua fúria. Aqui e alhures alguns sinais dessa nova ordem econômica são evidentes. Seja qual for a hora e o lugar na mesa onde nascerá essa nova ordem econômica estará sentado o atual ministro da economia do Brasil, o Paulo Guedes. Mesmo que não seja ministro. Vai estar lá por sua formação e desempenho no cargo que hora ocupa. As medidas estruturadas pelo atual governo e em prática bastariam para reservar-lhe a cadeira. As observações emitidas pelo Banco Mundial substanciam minhas linhas.  



Apesar da tragédia que estamos vivendo essa seria a grande hora do Brasil. O Deputado Maia e sua trupe de governadores estaduais parecem não enxergar o momento. Vivem a mitigar o governo federal e a desqualificar o Ministro Guedes. Não esqueçam que a velha mídia odeia o Paulo Guedes tanto quanto o Bolsonaro.


A globalização acabou, para desespero dos financistas mundiais. Agora cada país vai cuidar do seu quintal. O Presidente da Câmara poderia liderar um ambicioso projeto de inserção do país nessa nova ordem. O capital vai fugir da China como o diabo da cruz. Por inúmeras razões o Brasil poderia acolher os volumosos recursos que estarão buscando novos destinos. Rodrigo Maia não entende que o Bolsonaro é passageiro e o Brasil é eterno.


Aqui tem tudo. Tem também uma legislação trabalhista que afasta o emprego a pretexto de proteger o trabalhador. E de que adianta essa proteção se não há emprego? Temos um arcabouço legal que necessita ser renovado para a nova base de produção que virá. Nos últimos trinta anos o Estado brasileiro derreteu sua base industrial. Privilegiou a indústria automobilística com incentivos e elisão fiscal. Era uma medida provisória atrás de outra e governadores competindo para instalar montadoras. Quem fizer a conta descobrirá quão inadequado foi esse comportamento. A indústria automobilística está entre nós pelos favores do Estado. O futuro nos provará.


Todos esses aspectos e muitos outros estão ao alcance dos olhos e mãos do Presidente da Câmara dos Deputados. Haverá milhões de brasileiros querendo trabalhar e disputando um emprego. Vão querer empregos e não proteção do Estado. Um Legislativo operoso e produtivo estaria atento à essa nova ordem. Mas o que me parece mesmo é que o nosso Maia sonha em ser nosso Kérensky.

  

Alexander Kérensky, filho da elite russa czarista foi o último primeiro ministro de uma série de três. Advogado e político escolhido pela Duma, o Parlamento russo, para liderar o governo provisório depois da queda do Czar. Com a bênção de Lênin e sua turma governou a Rússia de julho a novembro de 1917 com a missão de preparar o país para a Democracia. Acabou entregando a Rússia para os bolcheviques de triste memória. Que Deus nos livre desse destino. Que o Maia passe mais rápido que o Bolsonaro. O problema é saber se a nação espera.

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