26 de setembro de 2017

O RIO DE JANEIRO POR ALDO REBELO

 Vasculhando meus alfarrábios em busca de dados sobre a cidade do Rio de Janeiro, descobri numa montanha de papeis algo escrito pelo Deputado Federal Aldo Rebelo numa revista do Instituto de Estudos Ações Sociais da saudosa Univercidade, o Centro Universitário que tinha cara da Cidade. Não conheço o Deputado Rebelo. Apenas sei que se trata de um comunista, essa coisa mofa e adequadamente utilizada para desgraçar grupos e países.

Mas o Deputado Rebelo, dizem que é fino no trato, polido no comportamento, elegante na forma e arguto nas ideias. Pelo que encontrei atesto que é verdade. É primoroso o artigo escrito pôr ele e publicado na revista IDEAS. Lá se vão cerca de vinte anos. Para quem não sabe e hoje vive a estarrecedora realidade de um uma cidade sem Lei, com células de verdadeiro Califado Islâmico em cada canto da Cidade vai aqui um retrato do que já foi o Rio de Janeiro.Com a palavra o Deputado:

-permitam-me focalizar o Rio de Janeiro como símbolo nacional. Nenhum lugar do País tem sido tão mal observado, destratado e tão negativamente citado quanto a Cidade Maravilhosa. Expressão forjada pelo poeta Coelho Neto, em 1908, para retratar o urbanismo civilizador do prefeito Pereira Passos, e transformada pelo compositor André Filho no hino que o povo canta chamando o Rio de “ coração do meu Brasil”.

Se Paris é o segundo lar dos cidadãos do mundo, ponto de passagem e têmpera de inovadores como Karl Marx e Ho Chi Mim. O Rio é a segunda cidade de todo brasileiro que não teve a ventura de nela nascer. Qual a origem do seu poeta Coelho Neto? Saiu da mesma Caxias do Maranhão de onde veio outro carioca honorário, o nativo Gonçalves Dias.

Assim como vieram os baianos Assis Valente e Glauber Rocha, os alagoanos Floriano Peixoto e Graciliano Ramos, os paraenses Serzedelo Correa e Eneida, o cearense José de Alencar, os pernambucanos João Cabral de Melo Neto, Gilberto Freire, os mineiros Ary Barroso Darci Ribeiro, o mato-grossense Marechal Rondon, os paulistas José Bonifácio e Cândido Portinari. E todos vieram pela simples e decisiva razão de ser o Rio a caixa de ressonância da Nação.

Nada de importante aconteceu no Brasil sem passar pelo Rio – a começar das primeiras lutas de afirmação territorial e combate aos espoliadores estrangeiros, a exemplo das notáveis campanhas de Martin Afonso de Souza e Estácio de Sá contra os franceses, que desde o Descobrimento planejaram implanta aqui sua França Antártica.

No Rio de Janeiro José Bonifácio arquitetou a Independência, gigantes como José do Patrocínio conquistaram a Abolição, Floriano Peixoto consolidou a República, Getúlio Vargas amarrou seu cavalo no obelisco para deslanchar a renovadora Revolução de 30.

Permitam-me celebrar o Rio do Samba, da Bossa Nova, o Rio que inaugurou a cultura universitária, o Rio centro político e operário, motor da maior campanha nacionalista de massas de nossa história, a d’O Petróleo é Nosso, o Rio sincrético de São Sebastião num templo e Oxóssi noutro, o Rio valente em Araribóia, altivo em João Cândido, melodioso em Noel Rosa, áspero-poético em Euclides da Cunha, elegante em Vilma da Portela, o Rio de Janeiro da hipnótica bruxaria literária bordada por Machado de Assis no Cosme Velho, o Rio que se retrata e resume o Brasil nas mulatas curvilíneas de Di Cavalcante, o Rio que se perde e se encontra nas pernas tortas de Garrincha, o Rio que deslumbrou estrangeiros acostumados á inteligência e à beleza como Charles Darwin, Luís Agassiz, Debret, Rugendas, não se deixando de lado o registro de Caetano Veloso de que “ o pintor Paul Gauguin amou a luz da Baía de Guanabara, o compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela” , o Rio onde mais bem se fala a língua portuguesa do Brasil, o Rio que a despeito das adversidades permanece gentil e solidário, o Rio, afinal que, por tudo isso é a prova de que até o Criador tem seus protegidos.

Pois é. Deixando de lado o texto do Deputado e voltando ao meu traço, tudo isso pertence ao passado. Tem muito mais, ou teve muito mais a Cidade. E ainda tem. Está aí o Rock in Rio do talentoso Roberto Medina para enriquecer o presente. Sabe Deus como. Mas tudo isso virou um inferno de uma cidade dominada por bandidos e governada por ineptos. Pobre Rio de Janeiro.

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