7 de julho de 2011

BANDA LARGA POPULAR É PESADELO

É gato por lebre. Venderam o que não poderão entregar. Num ajuntamento às carreiras, o governo federal se reuniu com algumas teles e rufou os tambores anunciando a adesão delas ao Plano Nacional da Banda Larga, o PNBL, com a venda de internet rápida, fixa, para as classes baixas, ao preço de 35 reais por uma assinatura de um megabyte. A meta é chegar em 2014 com a banda larga fixa em 70 por cento dos lares brasileiros, quando o valor da assinatura será ainda mais baixo e a mesma deverá ter a velocidade de 5 megabytes, independente do serviço ser fixo ou móvel, segundo palavras do Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Uma tarefa quase impossível com o atual nível de infraestrutura.


No desespero em dar uma resposta a uma imensa parcela da população que tem computador em casa, mas não tem internet rápida, o governo se apressa e tenta de todo jeito atender a essa demanda. Levando-se em conta o que existe hoje no Brasil em matéria de velocidade de banda larga, esse plano já nasce lerdo e aleijado. Vai ser difícil andar. Tomemos como exemplo o Estado de São Paulo, o mais desenvolvido do país, onde a operadora Telefônica atende a uma área que abrange 622 cidades. O plano de assinatura popular atingirá apenas 230 municípios até o final deste ano, segundo seu presidente, o senhor Antonio Carlos Valente. E o mesmo admite as dificuldades que terá para sua implantação sem a venda casada com outros serviços da empresa na rede fixa.


Lembrou que a adesão ao Programa de Banda Larga Popular vai exigir investimentos de sua companhia. Isso em São Paulo, hein! Imaginem no Piauí. Lá a venda será terceirizada. A concessionária venderá os megas para um outro que por sua vez repassará para mais outro. Assim deverá ficar como no exemplo significativo do interior da Bahia onde um terceirizado da operadora Oi vende uma assinatura de banda larga, fixa, com a velocidade prometida de 2 megas por 80 reais mensais. Ela garante a entrega de apenas 10 por cento da velocidade nos momentos de pico. Faça as contas e veja o suplício do assinante que nunca viu os tais 2 megas. No máximo 750 kilobytes.


Com uma assinatura de 1 mega (35 reais) o contratante terá banda larga apenas para ler e-mails, nada mais além disso. Navegar na internet vai ser um terror para ele. Quem não tem cão, caça como gato. Para quem nada tem, será um alento. O ganhador será o pobre das grandes cidades onde já existe infraestrutura para tal. Mesmo assim, empresas de vários países do mundo, da Coréia ao Canadá, dos Estados Unidos à Inglaterra e muitas outras, inclusive da Índia, possuem interesse em aportar no mercado brasileiro. Mas o mercado brasileiro de telefonia permanece fechado no oligopólio existente. A abertura dele é que fará a queda dos preços e o aumento da qualidade, mas o governo até agora parece não querer acreditar nisso, infelizmente.


As operadoras se comprometeram, também, de acordo com as novas normas que entrarão em vigor em 90 dias, a subir o percentual de garantia de velocidade para no mínimo 30 por cento nos horários de pico e 50 por cento nos horários de tráfegos mais baixos. Um ano depois elas subirão esses índices para 50 e 70 por cento, respectivamente. Um fato inexplicável e que passou despercebido durante anúncio do acordo é que apenas as concessionárias de telefonia fixa Oi, Telefônica, Sercomtel e CTBC assinaram o compromisso e estavam presentes na reunião. Pelo plano, finalmente, teremos no país a banda larga super rápida. Cada companhia tem um limite de oferta de megas, para a velocidade de donwload, de acordo com sua infraestrutura. A Telefônica prometeu a venda de assinaturas de até 300 megas, em seguida de 600, e em junho de 2013 a venda de 1 gigabyte para a rede fixa. Na banda móvel seria a metade dessa velocidade prometida. A Oi prometeu a oferta de 500 megas e em seguida chegando a 1 gigabyte, sem níveis intermediários também para a rede fixa. Isso no Estado de São Paulo. Essas assinaturas custarão os olhos da cara.


Algumas outras concessionárias como GVT e TIM assinaram contratos com a Telebrás com o intuito de formarem uma parceria para oferta de banda larga ao preço popular fixado pelo governo de 35 reais. Como a Telebrás não tem dinheiro para os investimentos necessários para cumprir as metas do PNBL, o governo tratou de fazer esse remendo e dar uma satisfação pública por ordem expressa da presidente Dilma. Em outro front, engrossando o caldo da panela, ela determinou que a Telebrás fosse o único vendedor público, brasileiro, de infraestrutura para a internet. Permanece a velha ideia de fazer a Telebrás sócia da Eletrobrás que é proprietária de uma rede de fibras óticas por todo o país e assim oferecer esta infraestrutura ao mercado. Haja remendo. Se as teles não têm os recursos suficientes para os investimentos necessários para a expansão e qualificação dos seus serviços, como a Telebrás terá? É esperar para saber.


Mas o governo ainda quer mais. Deseja que todos envolvidos no PNBL estejam preparados para ofertarem a cerca de 2.300 pequenos e médios provedores inscritos no Simples, banda larga no atacado. Eles operam pelo Brasil a fora vendendo internet rápida ao consumidor final. Junto a este deseja também a inclusão das prefeituras vinculadas ao “Brasil Sem Miséria”. Esse pacote para os provedores deverá estar disponível em 90 dias também.


Nem todos acreditam nessa engenharia social onde só cabe tecnologia. O técnico Franklin Coelho, responsável pela implantação de um projeto pioneiro de inserção digital com banda larga na cidade de Piraí, no Estado do Rio de Janeiro, olha com algum ceticismo para esse emaranhado do oligopólio e do governo federal em torno da implantação de banda larga a preços populares no Brasil. Com conhecimento de causa e experiência de campo ele sentencia que “os debates em torno da velocidade de implantação dessas medidas é para ficar discutindo a nossa miséria”. Para ele não há dificuldade tecnológica, de onde se conclui que a falta é de dinheiro.


Outro que olha com ceticismo para a empreitada ousada do governo é o consultor, professor da FGV-SP, especialista em Concorrência e Regulação, ex-conselheiro do CADE, Arthur Barrionuevo, em artigo no jornal Folha de São Paulo de 2 de julho de 2011. Ele protesta diante da negociação do governo ter sido feita apenas com duas das grandes teles sem ouvir a sociedade, usuários ou outros prestadores de serviço.

- Não se tem ideia de quantos domicílios serão atendidos e de que forma, com qual tecnologia e nem qual será o custo de prestar o serviço ou o valor do investimento necessário. É o oposto do projeto americano onde a FCC (a Anatel americana) ouviu em consultas públicas os interessados que apresentaram propostas com custos e estimativas de alcance para, aí sim, esboçar um plano concreto, apresentado ao Congresso. Haverá apenas oferta de acesso no atacado para empresas pequenas, o que é claramente insuficiente e concentrará ainda mais esse serviço na mão das duas teles dominantes.

Sei não, cá do meu canto fico achando que este governo quer fazer do PNBL o seu Fome Zero e levando junto o oligopólio das teles. Do jeito que as coisas são no Brasil, no final, o governo acaba subsidiando as teles que aí estão e todo mundo irá ter mesmo a banda larga por 35 reais, sem qualidade. E o mercado continuará só delas. Tomara que seja diferente.

ALELUIA, HILDEBERTO É JORNALISTA

2 de julho de 2011

NOVOS TEMPOS

Televisão, computador, celular, iPad, todas essas traquitanas que você vive de olho e não consegue viver sem, estão todas de olho em você. Em nós. E tem mais, silenciosamente todos os provedores de serviços on-line constroem dossiês sobre os hábitos de seus usuários. Com esses dados, os gigantes da era tecnológica, na surdina, pesquisam e avançam para a criação da máquina pensante que irá interagir com nosso cérebro. Além, é claro, de saberem tudo sobre nós. Nem mesmo as agências de espionagem dos regimes totalitários sonharam com isso. Todos os nossos passos, desejos, anseios, vontades, laços de ternura e de ódio, com quem mais falamos e onde mais gostamos de ir, enfim, tudo está devidamente catalogado e armazenado. É a nova matéria-prima do capitalismo na opinião do professor Eben Moglen que leciona Direito na Universidade de Columbia, em Nova York e é o diretor do Centro Legal para Software Livre. Isso porque toda essa parafernália moderna nada mais é que um gigantesco banco de dados. E o mais curioso: na medida em que o monitoramento dos usuários se torna mais abrangente e agressivo, pequenas empresas e os gigantes de tecnologia já começam a oferecer um novo produto nas praças: privacidade. Como os dados são um novo tipo de moeda, as empresas oferecem proteção à bisbilhotagem on-line ou até mesmo pagamento por seus dados e detalhes pessoais para serem usados por empresas de marketing.

O Wall Street Journal produziu recentemente uma série de reportagens sob o título “O QUE ELES SABEM”, sobre o monitoramento na internet. Descobriu um número expressivo de empresas em crescimento que coletam informações altamente pessoais na internet, desde atividades corriqueiras a opiniões políticas, preocupações com a saúde, hábitos de compra, situação financeira e até seus nomes. Esses dados vão alimentar a poderosa indústria de publicidade on-line que só nos Estados Unidos, nesse ano de 2011, irá movimentar mais de 30 bilhões de dólares. Os investidores de capital de risco já farejaram e estão despejando caminhões de dinheiro em empresas de publicidade de monitoramento on-line, apesar das preocupações do público com violações da privacidade e possíveis restrições governamentais. Segundo o Journal, desde 2007 as firmas de capital de riscos já investiram 5 bilhões de dólares em 356 empresas de publicidade on-line. A maioria das novas empresas atrai investimentos porque almeja a ligação dos operadores de sites a anunciantes que desejam oferecer anúncios personalizados e por isso buscam cada vez mais dados sobre as pessoas. Imaginem o potencial do Google, do Facebook, da Apple, da Motorola e outras. Sim, porque cada uma delas é um network onde o usuário é refém do sistema operacional e lá armazena todos os seus dados, hábitos e comportamento de uma maneira geral, inclusive o registro de onde esteve e quando isso ocorreu. Até mesmo a televisão já incursiona por estes caminhos.


As empresas de monitoramento de informações já assessoram anunciantes e veículos contrapondo de maneira detalhada as preferências televisivas dos espectadores com outros dados pessoais. Até informações sobre receitas médicas são coletadas e usadas para ajudar os anunciantes a veicular anúncios personalizados em programas assistidos por determinado tipo de pessoa. Ao mesmo tempo, as empresas de TV a cabo e satélite testam e distribuem novos sistemas projetados para exibirem às famílias anúncios altamente personalizados. As Tvs perseguem a mesma meta sofisticada da tecnologia de monitoramento que é usada amplamente nos computadores e celulares. O grupo de TV a cabo americano Cablevision Systems Corp já opera um sistema que pode exibir propagandas inteiramente diferentes em tempo real para seus assinantes. Ela pode distribuir anúncios personalizados para todos os 3 milhões de assinantes da empresa na região que engloba os Estados de Nova York, Connecticut e Nova Jersey. Desde passagens aéreas a automóveis e utensílios domésticos. As operadoras de celular já usam as mesmas técnicas para prever - com base nos círculos de amigos de um cliente - quem é mais propenso a migrar para a concorrência. No Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o respeitado e disputado MIT, o laboratório de dinâmica humana vem acompanhando 60 famílias que residem no campus da instituição.

São usados sensores nos celulares que registram movimentos, relacionamentos, humor, saúde, hábitos ao telefone e gastos do usuário. Na montanha de detalhes íntimos recolhidos, eles identificam padrões de comportamento que revelam como se portam milhões de pessoas em casa, no trabalho e nas horas de lazer. Por esse método locais como a favela nunca mais serão desconhecidos. Nem bairros, nem cidades e tampouco os países. Operadoras de celular da Europa e da África doaram grandes blocos de registros de ligações para uso em pesquisas. Dizem que apagaram nomes e dados pessoais. Mas a Apple, o Google e o Facebook, por exemplo, não necessitam apagar nada para estudar o comportamento de seus usuários. A Apple (iPhone) e o Google (Sistema Android) informam que os usuários podem desativar o sistema de localização de seus celulares se quiserem. No Estado americano do Novo México, o Instituto Santa Fé trabalha pesquisando dados de 220 operadoras de celular de 80 países, informa Nathan Eagle, chefe da pesquisa. Seu conjunto de dados reúne 500 milhões de pessoas na América Latina, Europa e África. Com mais gente cada vez mais acessando a internet pelo celular, o universo digital de detalhes pessoais canalizados por esses aparelhos cresce numa velocidade impressionante e abre mil e uma possibilidades.

Aleluia, Hildeberto é jornalista