21 de setembro de 2010

O rádio no Brasil

Em seu artigo Aleluia Hildeberto comenta a importância das emissoras de rádio, que segundo ele, são o principal meio de comunicação da mídia tradicional e, com o tempo, está se reinventando e firmando-se novamente como um grande meio de comunicação. “Não acredito que os outros meios tenham a mesma chance. Em função de suas características marcadamente locais e comunitárias, e custos operacionais baixíssimos, será o rádio o primeiro a se adaptar ao mecanismo da convergência”. As oportunidades de negócios e estratégicas, no mundo da Mídia, e Web são infinitas. Incomensuráveis são as possibilidades que se oferecem ao universo do rádio. A meu ver o principal meio de comunicação da mídia tradicional que irá crescer perfeitamente adequado ao invento da WEB. Segmentado, regionalizado, localizado e comunitário o rádio crescerá em importância e difusão perfeitamente compatível com a nova plataforma de comunicação. Ele deverá ser um dos primeiros em importância para o internauta quando se tratar de informação local. Enquanto a WEB lhe abre as portas para o mundo a partir de sua casa, o rádio será os olhos e ouvidos da esquina, da rua, do bairro, da Cidade, da região e do Estado. Não creio em cadeias de rádio como no passado, ou em rádios com audiência nacional monopolizando a atenção do ouvinte de norte a sul do país, como já foi um dia antes do invento da TV. Ele terá força localizada, restrita ao universo do dia a dia da vida do cidadão. Do clima ao trânsito, do consumo ao comportamento, da escola à igreja, da diversão a saúde, o rádio é quem tem, hoje, as maiores possibilidades de nos conectar à realidade comunitária, inclusive pelo canal da WEB. Exigência de investimento pequeno, barato até, de operação descomplicada e fácil. Sua sobrevivência estará assegurada pela audiência segmentada e publicidade local. Esse mercado cresce lentamente no Brasil, por enquanto, mas será a grande descoberta da mídia tradicional em convergência com a WEB dentro de pouco tempo. O rádio nasceu com a primeira guerra mundial. A exemplo da TV e da Internet, também foi uma contribuição das necessidades e pesquisas do aparato militar americano. De um mero instrumento de comunicação para batalhões e tropas nas trincheiras, acabou por se tornar no grande marco da comunicação de massa no começo do Século XX. De lá, por volta da década de vinte, o rádio se inseriu de tal forma na vida das pessoas, alterando o cotidiano dos homens, a ponto de se firmar no contexto da evolução humana como um marco, tal qual a revolução industrial. Foi ele, o rádio, quem universalizou e carimbou a expressão “comunicação é tudo”. Ele foi o primeiro a tornar os povos mais próximos de uma maneira direta e instantânea, ao difundir a informação e aproximar o básico que tornaria a vida mais fácil e prazerosa para os humanos. O rádio foi o primeiro a atingir os rincões levando informação e diversão aonde antes nada chegava. Foi ele o primeiro instrumento de comunicação a unir os homens independente da distância que os separava. Até a segunda guerra mundial reinou absoluto. Despertava o mesmo frisson hoje causado por um computador. Aqui no Brasil, quem viveu da década de vinte até a de sessenta, ou leu a respeito, sabe muito bem do esplendor desfrutado pela sociedade brasileira nas ondas do rádio. Assim como em quase todo o mundo civilizado. E assim foi até a chegada da televisão no início da década de sessenta. Localizadas principalmente no Rio de Janeiro suas ondas médias e curtas foram as primeiras a integrar o país. Rádios como a Nacional, Mayrink Veiga, PRH 8 e Mauá no começo e décadas depois Tamoio, Globo, Tupi, entre outras, foram pioneiras junto com a rádio Bandeirantes em São Paulo e a Inconfidência em Belo Horizonte. Mas as do Rio de Janeiro eram as campeãs, por serem as primeiras e por estarem na sede do Poder central falavam em uníssono para o Brasil inteiro. Alguns anos depois surgiram as rádios regionais, entre elas se destacou a Rádio Sociedade da Bahia com sua Tribuna do Interior. Era um programa de interação na base do telegrama que integrava todo o Estado numa época que nem estradas havia, e concomitantemente vieram as cadeias de rádios com a regionalização das estações. Antes da TV, o Brasil já pensava com a cabeça do Rio e de São Paulo pelas ondas do rádio. Perdeu seu reinado para a combinação perfeita do som, imagem e cor. A TV fez com o Rádio o mesmo que agora a WEB aos poucos faz com todos os meios de comunicação. Obriga-os a buscarem uma nova forma de sobrevivência sob pena de serem varridos do mapa da comunicação. < Uma década depois da implantação da TV no Brasil, o rádio começou a perder o glamour. Duas décadas depois, ai pelos anos 80 as rádios de alcance nacional foram se restringindo e algumas até fechando, como é o caso da Tamoio, no Rio de Janeiro. Outras foram vendidas, principalmente as AMs ou OMs, de ondas médias e curtas. E é nessa época que outro fenômeno de comunicação se observa entre nós. A assustadora proliferação de igrejas evangélicas em todo o país. E elas descobrem o rádio AM como o principal difusor de suas crenças. E espraiou-se pelo Brasil afora. Nem o Ministério das Comunicações e nem a ANATEL possuem a lista das rádios de propriedade das igrejas. Se possuem não me deram. E é provável que não as tenha mesmo, tal é o emaranhado de prepostos e sucessores na propriedade. Com o advento das FMs as OMs ou AMs, perderam mercados e muitas foram compradas por bagatelas. Passaram a servir à fé e os pastores souberam tirar proveito da plataforma. Mas este fenômeno é a principal prova da regionalização do rádio, e bem antes da internet. Neste vácuo, as FMs bem que buscaram a universalização. Diante da dificuldade técnica de cobertura nacional a partir de uma única rádio partiram para as redes. Mas a idéia não vingou. Ficou um arremedo de cadeia de rádio nas organizações Globo com a CBN e na Bandeirantes com a BAND FM. Mesmo assim elas mais se destacam enquanto emissoras locais, quando estão em rede nada significam e cobrem poucos estados. Outro bom exemplo é a rádio Tupi, do Rio de Janeiro. Outrora uma rádio nacional, hoje uma boa rádio local do Rio de Janeiro e Grande Rio. É neste horizonte de conflitos e distintos caminhos que eu acredito que o Rádio vai se reinventando e firmando-se novamente como um grande meio de comunicação. Não acredito que os outros meios tenham a mesma chance. Em função de suas características marcadamente locais e comunitárias, e custos operacionais baixíssimos, será o rádio o primeiro a se adaptar ao mecanismo da CONVERGÊNCIA. O Brasil, em seus quase 6 mil municípios, tem funcionando hoje 1.778 rádios OM, ou AM instaladas em 1.214 municípios. Existe mais 1.478 municípios inscritos no Ministério das Comunicações à espera de canais de rádio OM, ou AM e 343 canais vagos nessa frequência. Já para o canal FM existem na mesma lista 5.363 municípios inscritos. Em 1.924 deles existem rádios FM em funcionamento, totalizando 2.952 emissoras e 3.597 canais vagos à espera de titulares. Portanto, existe ainda muito espaço para crescer.

14 de setembro de 2010

No Brasil é um espanto a sobrevivência das revistas

No Brasil é um espanto a sobrevivência das revistas. Em todo o mundo esse setor passa por dificuldades tal qual o setor de jornais. De acordo com o IVC (Instituto Verificador de Circulação) a entidade oficial que mede tiragens e vendas de periódicos impressos, as revistas, no Brasil, resistem bravamente aos novos tempos. Enquanto a TV e os jornais definham, desaparecem até, as revistas permanecem mantendo o interesse dos leitores, algumas, surpreendentemente, até cresceram em números de circulação segundo o IVC. É o caso dos semanários dedicados às fofocas de celebridades, enquanto as informativas VEJA, ÉPOCA e ISTOÉ navegam num mar de rosas, por exemplo.
Se os periódicos, diários, sucumbem diante da instantaneidade da Internet, se as notícias on line atraem cada vez mais interessados e se a interação passa a ser, cada vez mais, a mola propulsora do jornalismo, como explicar o permanente interesse pelos semanários? Para um executivo da Associação Nacional de Editores de Revistas (ANEER) esse fenômeno se explica pela ascensão da Classe C. Ela seria a ávida consumidora de revistas em detrimento de todos os outros meios de comunicação impressa. Obedecendo a um formato superado que vigora desde os anos 30 do século passado e modeladas em cima dos fatos acontecidos, como o próprio nome já diz, elas revisitam o que já aconteceu com algum toque de curiosidade ou fotos, sobre o que já passou. Algumas com interpretação e reexplicação, acrescentando um fato novo aqui e ali com uma foto interessante permeando a narração. Não raro, enveredam pelo caminho da denúncia, competindo arduamente com os veículos diários, impressos, e muitas vezes com a própria TV. É a luta do seguimento para disputar o interesse do leitor, inclusive com a internet. Nem tudo que está nas páginas das revistas impressas se encontra nos seus sites.
Segundo o executivo da Editora Abril, Jairo Mendes Leal, em recente palestra no IV Fórum do setor realizado em São Paulo, “o mercado brasileiro criará 200 novos títulos de revistas até o ano de 2020”. De acordo com ele serão 20 lançamentos por ano a serem consumidos basicamente pela classe C que hoje representa 49 por cento da população brasileira. Essa euforia editorial se dá em todos os seguimentos de revistas, a começar pelo setor tecnicamente conhecido como TEEN, voltado para o universo adolescente e jovem. Os números do setor indicam um crescimento de 55 por cento no primeiro semestre de 2010 em relação ao mesmo período do ano de 2009. O seguimento jovem em geral cresceu 27 por cento e as revistas femininas, populares, registraram um aumento de nove por cento nas vendas. Um dado comum a todas as publicações que puxam as vendas no setor popular é o conteúdo de fofocas e celebridades da TV. A liderança das vendas ficou com a revista VIVA MAIS com 15 por cento de aumento seguida pela revista CARAS, a líder do setor. (veja tabela de tiragem e vendas abaixo). Já as revistas informativas como VEJA, ISTOÉ e ÉPOCA permaneceram com suas tiragens praticamente inalteradas na preferência do público, com pequenas variações. Destaque para a revista VEJA que teve queda de um por cento na circulação, mas tem a preferência de 58 por cento do mercado com circulação de mais de um milhão de exemplares por edição. Numa relação de doze pessoas do meu círculo social, entre amigos e conhecidos, promovi uma pesquisa particular. Entre elas, todas foram assinantes da revisa VEJA em algum momento de suas vidas. Quatro deixaram de assinar a revista por achá-la superada diante da Internet. Duas porque não havia tempo para leitura, outras duas porque acharam que estava muito cara a assinatura e quatro continuam assinantes por razões diversas. Uma dúzia de pessoas para uma base de leitores de mais de um milhão não é uma amostra confiável para um diagnóstico seguro visando definir o real interesse de um grupo de leitores sobre determinada publicação e muito menos servir como bússola para medir a probabilidade de sobrevivência do que quer que seja. Mas não deixa de ser uma dose, ínfima, reveladora do interesse de comportamento e tendência com relação ao futuro do negócio do jornalismo. O setor exercita novas medidas por aqui. O que parece criatividade e inovação apenas é na verdade a primeira tentativa de adivinhar e se proteger contra as adversidades dos novos tempos. Algumas das nossas principais revistas femininas já estão chegando às bancas em versões de bolso, que segundo as editoras, agrada às leitoras femininas e aos jovens que gostam da praticidade do formato “pocket”. A inovação é importada do mercado europeu e americano e barateia o custo de impressão em cerca de 30 por cento, menos. Essa reengenharia agrada também ao caixa já que o modelo do negócio mantém os números de faturamento do setor e, por enquanto, vem adiando a queda de circulação. Com este modelo, agências de publicidade e editoras vão sobrevivendo no velho estilo.
É de se reconhecer que existe um elenco considerável de razões a mover a multidão que todas as semanas acorrem às bancas ou à caixa de correios em busca de seu semanário predileto, e no resto do mundo também. O que espanta é que o mesmo interesse que move o mercado brasileiro de periódicos semanais, no resto do mundo esteja vivendo um fluxo na direção contrária. Embora o modelo do negócio seja o sustentáculo do seguimento, muito mais que o interesse dos leitores, este mesmo modelo, baseado nas vendas de exemplares, no preço das páginas de publicidade, e no mecanismo desenvolvido pelas agências de publicidade junto a fornecedores e clientes, (veja artigos anteriores O MODELO DO NEGÓCIO I e II) não vem sendo suficiente para manter vivos semanários de tradição e prestígio. E explica também como uma revista como a CARTA CAPITAL, com 40 mil exemplares de tiragem seja um sucesso empresarial.
Mais recentemente foi agregada ao setor de revistas uma criativa forma de sustentar o faturamento e lucratividade das editoras. Junto com o anúncio é vendido também como publicidade à promoção e eventos. Associado ao título da revista, o anunciante se engaja na iniciativa de levar aos leitores do periódico motivação de consumo por essa forma indireta de publicidade.

BRASIL
CIRCULAÇÃO
TABELA DE TIRAGEM E VENDAS

Circulação média – Revistas semanais Publicação Nº. médio de exemplares vendidos (2009) Nº. médio de exemplares vendidos (2008) Variação (%) Veja 1.097.485 1.089.902 0,7 Época 413.286 420.477 -1,7 Istoé 344.029 353.136 -2,6 Caras 293.386 278.394 5,4 Viva Mais 231.128 193.028 19,7 Ana Maria 227.515 202.793 12,2 Tititi 155.514 134.046 16 Contigo 147.427 146.817 0,4 Minha Novela 128.070 114.630 11,7 Malu 122.976 110.509 11,3 Recreio 117.602 102.917 14,3 Quem 94.628 87.103 8,6 TV Novelas 67.054 51.806 29,4 Istoé Dinheiro 65.809 69.325-5 Sou + Eu 64.031 53.097 20,6