19 de julho de 2010

A velha mídia ainda tem futuro no Brasil ?

A tese do professor Jeffrey Cole, diretor do Centro para o Futuro Digital da Universidade do Sul da Califórnia, com a qual ele sustenta que os jornais impressos, de mercados como o Brasil e a Austrália, irão desaparecer em 10 ou 15 anos, merece uma reflexão frente à realidade brasileira. Suas previsões devem ser consideradas em realidades onde a banda larga está definitivamente implantada e com tecnologias avançadas permitindo velocidades que o Brasil desconhece. O desinteresse pela velha mídia está na mesma proporção em que a inclusão digital se processa. Quanto mais gente com acesso à banda larga veloz, mais gente interessada nas novas plataformas de comunicação. Não existe nada mais maçante, irritante até, que a leitura de um texto ou a abertura de uma imagem na velocidade de kpbs, ou na internet por acesso discado. É insuportável. E notícias ainda não é o primeiro item na navegação embora seja um dos principais. Para a web ameaçar de verdade a velha mídia é necessário que o Brasil esteja integrado à banda larga. Hoje esse acesso só é possível para uma minoria, principalmente nas capitais, e apenas 20 por cento dos domicílios estão ligados à internet de alta velocidade. De alta velocidade para os nossos padrões, pois o Brasil, na lista da União Internacional de Telecomunicações, entidade da Organização das Nações Unidas,(ONU), é o 62 na lista de qualidade com relação à banda larga. Estamos atrás de países como a Lituânia e Bulgária. E em matéria de preços caros é o 77 da lista. O brasileiro paga hoje, em média, dez vezes mais caro que os habitantes de países desenvolvidos. Só para ilustrar, a França “que não é lá essas coisas” em matéria de inclusão digital, vende uma assinatura de banda larga na cidade de Paris, sua capital, com 100 megas, mais TV por assinatura e telefone por cem reais mensais. Mesmo se colocasse em cima os 45 por cento de imposto que pagamos nós, iria para 145 reais/mês. Não há comparação com os preços do Brasil. Pra começar, 100 megas por aqui é uma quimera. Uma assinatura de 7 megas, sozinha, na TIM, custa 129 reais, e quando você vai usar não passa de um mega. Mesmo os planos baratos que são vendidos em São Paulo pelas teles, e onde o governo perdoa o ICMS, são mais caros 18 vezes que o plano correspondente nos Estados Unidos, segundo o IPEA, órgão do Ministério do Planejamento. Na cidade de Rio Verde de Goiás, um dos celeiros agrícolas do Brasil, a prefeitura municipal oferece de graça, para aqueles que estiverem com o IPTU em dia, uma assinatura de banda larga de 50 a 100 kpbs, isto é, menos de um mega. È tanto o interesse que a inadimplência foi a quase zero. Mas navegar com essa velocidade é para enlouquecer qualquer um. Mas antes de brigarmos por banda larga de qualidade, algumas etapas precisam ser vencidas. Primeiro a cobertura da rede. Apenas metade das cidades brasileiras está contemplada. O esforço terá que ser gigantesco e os investimentos também. Por causa disso o governo criou o PNBL, Programa Nacional de Banda Larga e o entregou a Telebrás. Para este ano a previsão era levar banda larga de até 100 kbps para 300 cidades, isso já foi reduzido para 100 cidades. A meta de atingir 23 capitais ainda este ano passou para 17. Os pontos públicos foram reduzidos também, de 150 para 100. Além disso, resta a disputa jurídica entre as teles e o governo, mais a definição pela Anatel sobre a disputa das teles com as TVs por assinatura para ver quem vai ficar com a tecnologia WIMAX, (banda larga sem fio), e a espera pela regulamentação da MMDS, outra tecnologia de ponta para o setor. E dinheiro, muito dinheiro para investimentos. Pois além de atender ao anseio e o direito da população pela universalização da banda larga, (65 por cento dos brasileiros anseiam por isso), a implementação será uma medida que irá gerar impacto em todos os setores da vida nacional. Estudo do Banco Mundial que analisou a influência da expansão da internet em 120 países concluiu que cada 10 por cento de avanço na penetração e rapidez nos serviços de banda larga gera automaticamente um aumento de mais de um por cento no PIB de uma nação. É por isso que o governo americano irá investir 100 bilhões de dólares nos próximos 10 anos para levar banda larga barata aos mais necessitados. É pelas razões expostas que a velha mídia ainda sobreviverá por muito tempo entre nós aqui no Brasil.

18 de julho de 2010

O MODELO DO NEGÓCIO (ii)

MODELO DO NEGÓCIO (II) Juan Luis Cebrián é jornalista, diretor e fundador de um dos mais importantes jornais da atualidade. Ao lado dos americanos e dos ingleses, o El País, jornal espanhol, desfruta de prestígio e qualidade em todo o mundo. Líder em tiragem e circulação na Espanha e na Europa, nos últimos anos vem amargando tiragens cada vez menores e por um bom tempo viu também emagrecer o seu faturamento publicitário, especialmente em 2009. Sentado em sua vasta experiência e autoridade no assunto de comunicação, ele transmite algumas convicções e palpites para o futuro. A - A internet é um fenômeno de desintermediação. Que futuro aguarda os partidos políticos, sindicatos e os meios de comunicação num mundo desintermediado? B - Os jornais, tais como os conhecemos, se acabaram, adeus. Não significa dizer que deixarão de existir. É a constatação de que os impressos pertencem à sociedade industrial, e não estamos mais nela. Entramos na era digital, adeus sociedade industrial. No ano passado cerca de 600 jornais fecharam as portas nos Estados Unidos, alguns deles com muita tradição. Em geral, jornais nascem defendendo bandeiras políticas e, ao se manterem à custa das receitas publicitárias, preservam sua independência. Como esse modelo ficará? Que tipo de jornalismo queremos ter na rede? São veículos diferentes. Isso não está claro. C - Teremos de investir em capital humano na rede se quisermos fazer diferença: ter bons jornalistas, gente com preparo para enfrentar operações globais e mudar a nossa forma de pensar. Continuamos a fazer jornais como se fossemos o centro do mundo. Creio que já me livrei da dúvida se a internet é uma ameaça ou uma oportunidade. Estou convicto de que é uma oportunidade. Volto ao primeiro artigo dessa série quando um diretor de TV meu amigo disse-me que não o passaria para outras pessoas, embora tenha gostado, “porque o artigo era contra o ganha-pão dele”. Mas não é só ele, todo o mercado de comunicação chamado de velha mídia comporta-se assim. Mesmo constatando-se que a convergência de mídias vem se aprofundando, o modelo do negócio não aceita inovações. Isso porque os números financeiros são consideráveis. O mercado de publicidade no Brasil cresceu 25% no primeiro trimestre de 2010, comparando-se com o mesmo período do ano passado. Isso significa 5 bilhões e meio de reais. Desse bolo a TV aberta ficou com 63% do total. O restante foi dividido entre jornais, rádios, revistas, TV por assinatura e outras mídias. A web ficou no fim da fila com 4% do faturamento, a mesma do rádio e maior que a da TV por assinatura. Ficou com 234 milhões apenas. Mas o salto percentual é que assusta o setor. Foi de 37% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso considerando que a internet não tem a boa vontade da espinha dorsal do sistema, as agências de publicidade, que no final são as que ficam com a grande parte da bolada, pois Brasil é o país mais conectado à internet e o que menos investe em publicidade online, no mundo. Com esse diagnóstico chegou ao Brasil uma das maiores agências digitais do mundo, a americana Razorfish. E chegou comprando briga com a proposta de transparência e de educação aos clientes para acabar com essa diferença. E os sopapos não tardaram quando seu principal executivo, senhor Joseph Crump alardeou que é contra a prática de bonificação por volume, o BV, que faz a lucratividade das agências tradicionais uma festa. E mais disse outro executivo do grupo, Fernando Tassinari “é preciso educar as marcas para quebrar esse ciclo vicioso". - As agências não querem trabalhar no digital. Estão preocupadas com o dinheiro e não com investimentos, queremos mudar isso, disse o senhor Crump. Completou argumentando que o investimento maciço em TV descarta uma parcela importante da sociedade brasileira, afirma ele. Isso foi o suficiente para a Razorfish plantar um rosário de espinhos e punhais no seu caminho aqui no Brasil. No dia seguinte à declaração veio nota da Federação das Agências de Publicidade, FENAPRO, e comunicado de todas as instituições ligadas ao setor e notas das maiores agências do país onde ressaltavam “que ajudaram a construir o atual modelo, apóiam e o defendem como o melhor para o mercado”. E como argumento derradeiro ressaltou que conseguiram do presidente Lula uma Lei legalizando o tal do BV. Arrematando, o vice-presidente da FENAPRO, senhor Humberto Martins rosnou que “o mal do nosso país é aceitar passivamente que esse e outros Crumps, venha aqui e como verdadeiras vestais interfiram na nossa vida”, ou na festa, digo eu. Enquadraram a senhora Razorfish. Mais, saiba ela que é questão de tempo, a audiência e as tiragens é que irão mudar isso um dia. Uma hora o anunciante vai se dar conta. O Brasil é assim, sempre está na contramão do mundo. O Presidente da WPP, a maior agência de publicidade do mundo em faturamento, Martin Sorrel, atribui o grande crescimento dos Brics, (sigla que designa o grupo de países formado pelo Brasil, China, Rússia e Índia), ao investimento em mídias móveis e que com os consumidores passando cada vez mais tempo conectados à internet, a tendência é que os números sobre investimentos em novas mídias crescem em velocidade avassaladora. Segundo seu vice-presidente operacional, Michael Mendenhall “o maior atrativo das novas mídias é que os anunciantes podem ir além o modelo tradicional de uma mensagem para as massas e conversar com o consumidor”. Eles desejam sair do marketing invasivo para o de relacionamento. Hildeberto Aleluia é jornalista