28 de maio de 2010

AO ESTADO TUDO? MENOS

Sempre tive medo do Estado. Nunca confiei no Estado. Sou contra à idéia do Estado forte atuando como agente econômico na ponta do mercado. Não chego a ser um neo-liberal, na concepção clássica onde se consagra o principio de ao mercado tudo. Não, nesse assunto sou coluna do meio, ou flex , isso para não dizer que cada caso é um caso. Mas vamos à história:

Dia desses, eu via TV, um jornal. E lá o vice-presidente da Republica, o ínclito mineiro José Alencar, mais admirado por sua convivência com a doença que por qualquer outras de suas múltiplas virtudes, recomendava a todos os brasileiros fazerem o exame de pet, que segundo ele, detectava câncer. Como ele mandou todos os brasileiros realizarem o exame eu imaginei que o SUS fizesse. Fui saber o que era isso. Meu medico recomendou que o fizesse, não só pelo meu histórico genético familiar e também pela idade.

Trata-se de um exame de última geração chamado PET CT. É coberto por poucos planos de saúde e custa em torno de 4 mil reais. Realmente é uma maravilha da tecnologia. Ele varre seu corpo por inteiro e dá ao médico uma visão profunda, permitindo um diagnóstico preciso de suas células, além de uma avaliação adequada de sua qualidade de vida agora e no futuro. Trata-se de um exame com tecnologia nuclear em todas as suas etapas. Para realizá-lo é necessário a ingestão de uma substância chamada FDG 18 F que é produzida,diariamente,no Fundão pelo Instituto de Energia Nuclear (IEN), da Comissão Nacional de Energia Nuclear, (CNEN), órgãos estatais pertencentes ao Ministério da Ciência e da Tecnologia. Essas substâncias são importadas e o manejo e venda é monopólio do Estado. Nas instruções de procedimentos para realização do exame, fornecidas pelo laboratório tem uma advertência ressaltando que “ocasionalmente pode haver um atraso,ou outro imprevisto na entrega do material. Delicada forma de avisar que o atraso e imprevistos acontecem sempre. Neste caso tentaremos entrar em contato com o paciente o quanto antes para que os horários dos exames possam ser adaptados”. Explicações dignas do preço cobrado. Mais embaixo havia uma outra dizendo que após a encomenda do material o exame não pode ser desmarcado. Ou seja, se você não puder ir vai perder a grana.

Em jejum, às 10 horas da manhã,quando me preparava para sair de casa o celular me avisa através de uma voz ansiosa que o exame atrasaria e que eu retardasse minha chegada em mais uma hora. Houvera um problema no fundão e o IEN atrasara a entrega da substancia. Próximo das 11 horas outro telefonema com desculpas e mais um atraso de uma hora.Mas eu já estava no hospital e já tinha levantado o telefone do tal IEN e nome dos responsáveis pelo processo. Liguei, disse que eu era medico responsável do Samaritano, onde eu estava, e a atendente, sem papas na língua entregou tudo:

- pois é doutor, o senhor já sabe como é isso aqui. De novo o fulano não veio trabalhar, o chefe dele está viajando e a turma aqui só chegou pela manhã e por isso a substância não foi feita de madrugada, na hora devida.

Ali, no quarto andar do hospital Samaritano, tido como a catedral médica do Rio, eu e mais 4 pacientes, em jejum desde o dia anterior, pacientemente aguardávamos que os agentes do Estado brasileiro, num setor monopolista, se mobilizassem para cumprir a tarefa como se estivéssemos em Cuba ou na extinta União Soviética. Descobri também que a pratica faltosa é comum. Descobri que a substância é importada do Canadá onde o exame custa metade do preço e os funcionários responsáveis pelo manuseio não faltam ao trabalho. Existe coisa pior, pensei.

Será no dia em que o funcionário faltoso errar na mistura. Conformei-me.

Não contente fui em busca de uma fonte qualificada do setor. Disse-me ele que o conjunto de atividades da área nuclear que hoje estão sob a égide do Ministério da Ciência e Tecnologia vegeta, com níveis mínimos de sobrevivência. Ele quer dizer com isso que o Estado apenas paga os salários mas não existem recursos para pesquisas e outras atividades e sentencia:

-o IEN, juntamente com o IPEN de São Paulo e o CDTN de Belo Horizonte, além de outros Institutos como o de Radiometria e Dosimetria e o Centro Agrícola de pesquisas Nucleares são órgãos desconhecidos da sociedade no que diz respeito ao que fazem e porque fazem. o IPEN como está na USP é um pouco melhor.

Na visão de minha fonte, esses pequenos problemas aqui citados, aliados a outros, bem maiores são os indicadores de que está na hora de rever o monopólio no setor.

 Aleluia Hildeberto é jornalista

13 de maio de 2010

O NOSSO JORNAL IMPRESSO

AGÊNCIA RIO DE NOTÍCIAS

Confira a nova coluna do jornalista  Aleluia Hildeberto, na Agência Rio de Notícias, nesta segunda-feira (5).16h45


http://www.agenciario.com/colunistas/aleluia.asp
por aleluia hildeberto

05/04/2010

Aqui entre nós, no Brasil, a mídia impressa também agoniza. E não é de agora. Vem desde antes da Internet.Vem morrendo aos poucos. Há mais de 20 anos, jornais como O DIA , O GLOBO e FOLHA DE SÃO PAULO batiam a casa do milhão em tiragens e vendas nos fins de semana. Isso sem falar no glorioso Jornal do Brasil que hoje não passa de uma sombra do que foi no passado. Antes ainda da WEB determinados a manterem suas tiragens de fazer inveja ao primeiro mundo se transformaram em verdadeiros supermercados. Ofereciam como brindes, de bicicletas a panelas, de faqueiros a passagens de avião. Nada adiantou. Em vez de buscarem um jornalismo novo, participativo e de serviços que demandariam investimentos, preferiram a política de benesses com o escondido intuito de manterem o faturamento e sua rentabilidade. Afinal são empresas pessoais, familiares e o caixa é, exclusivamente do dono. Dos três primeiros citados, o primeiro hoje não passa dos 50 mil exemplares e os dois gigantes estacionaram em números que não passam dos 300 mil exemplares. Se juntarmos todos os jornais do quadrilátero Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília não chegam a dois milhões de exemplares na tiragem conjunta. E é de espantar a quantidade de publicidade do governo federal neles veiculadas, sem contar as inserções dos governos estaduais, numa clara demonstração que sem a verba dos governos a agonia seria maior. Curioso observar também que a circulação cai, mas o faturamento e rentabilidade dos jornais não seguem a mesma trilha.
Segundo a publicação Meio e Mensagem, termômetro do mercado, com dados do IVC, (Instituto Verificador de Circulação) que afere a tiragem e circulação da mídia impressa, em 2009 os 20 maiores jornais brasileiros tiveram uma queda de 6,9 por cento no seu conjunto com relação ao ano de 2008. Diz ainda que onze títulos viram seus números encolheram. Os dois que mais caíram foram o jornal O DIA com menos 31,7 por cento e o MEIA HORA, (do mesmo grupo empresarial), com 19,8 por cento a menos.Também caíram o Diário de São Paulo (menos 18,6 por cento), Jornal da Tarde com menos 17,6 por cento, o Extra com menos 13,5 por cento, O Estado de São Paulo com menos 13,5 por cento; Diário Gaúcho com menos 12 por cento; O Globo com menos 8,6 por cento; Folha de São Paulo com menos 5 por cento e o Estado de Minas que tem uma tiragem irrisória com menos 2 por cento.
Diz ainda o Meio e Mensagem que a liderança em tiragem pertence à Folha de São Paulo (média diária incluindo domingo de 295 mil exemplares), seguida do jornal Super Noticia (289 mil), depois vem O Globo (257 mil) e o Extra (248 mil). Em quinto lugar vem o Estado de São Paulo (213 mil), depois vem o Meia Hora, do Rio de Janeiro, do mesmo grupo O Dia (186 mil) e os gaúchos Zero Hora (183 mil) e Correio do Povo (155 mil) e Diário Gaúcho (147 mil). Completa a lista como décimo colocado o esportivo Lance (125 mil). O Jornal do Comércio, do Rio, dos Diários Associados, que já foi o jornal mais rentável do Brasil, proporcionalmente, em seus dois últimos balanços deu prejuízo, e a tiragem já não é representativa a ponto de nem entrar na lista.
Conta a lenda que o velho Roberto Marinho dizia que "um jornal leva dez anos para morrer". É um mito que circula pelo mercado, pois a velha Tribuna da Imprensa agonizou décadas e só foi enterrada recentemente quase dez anos após a morte dele. Nos seus áureos tempos, tanto a Tribuna como todos os outros jornais, valiam tanto por seus articulistas como pelo noticiário enviado por seus correspondentes nas praças nacionais e internacionais. Cada jornal tinha um ponto de vista exclusivo e particular sobre um assunto comum a todos. Isso os diferenciava e criava leitores cativos. Ou então havia os setoristas. Em cada órgão do governo, em cada setor da cidade havia o repórter especialista. Chamava-se setorista pois o qualificava e dava-lhe autoridade para discutir e escrever em profundidade sobre o assunto que lhe era pertinente. Seus articulistas não mesclavam palavras para agradar a gregos e troianos. Seus textos eram claros, objetivos, contundentes e buscavam um caminho, seja contra ou a favor. Não existia a mesmice de credos, de rima e de simpatias, especialmente quando se trata do poder. Havia posições definidas do ponto de vista editorial e o compromisso com a notícia, custasse o que custasse. E foi nessa escola do jornalismo impresso que prosperou a TV. Mas a partir dos anos 80 os jornais impressos começaram a desativar as suas sucursais pelo Brasil afora e a demitir seus respectivos correspondentes. A TV estava lhe roubando espaço e credibilidade. No lugar daqueles passou a utilizar os serviços das agencias de notícias. E aí a imprensa perdeu a sua individualidade, o seu olhar particular. A mesma matéria, com o mesmo ponto de vista passou a pontuar em todas as páginas dos diferentes jornais. Acabou-se o setorista, a mesma matéria, distribuída pela agencia de notícias, contra ou a favor, informando ou relatando um feito ou fato, com a mesma redação passou a constar em todas as páginas dos diferentes jornais. Isso se enraizou de tal forma na imprensa brasileira, e passou a ser encarado com tamanha naturalidade pelas empresas ao ponto do jornal O Estado de São Paulo em sua edição de 5 de julho de 2009, na página A 9, do caderno Nacional , sobre o escândalo que rondava o Senado Federal e seu diretor o senhor Agaciel Maia o seguinte parágrafo:
-as movimentações de dinheiro são vultosas, segundo apuração da Folha de São Paulo que revela a existência das contas em sua edição de hoje.
E na mesma data, realmente, a Folha de São Paulo trazia em sua primeira página a chamada sobre a movimentação das contas sigilosas do Senado. Ou seja, eles passaram a agir em bloco, um ajudando o outro, como num monopólio ou oligopólio. Já não competem entre si. Já não diferenciam o ponto de vista editorial e informativo. Um chama para o outro, sobre o mesmo assunto. Isso é um jornalismo de Estado, ou um jornalismo a serviço de seitas, ideologias ou partidário. Nunca a serviço do leitor. O mínimo que deveria fazer o Estado de São Paulo era calar-se. Jamais chamar para as páginas da Folha. Ou noticiar o assunto no dia seguinte e dizendo que era matéria copiada da Folha. Esses oligopólios de informação, para uns, passou a produzir uma forma curiosa de jornal. Quase todos os grandes desenvolveram uma marca popular, mais barata e subsidiada pelo jornal principal e lá são publicadas as matérias que as páginas do jornal cabeça não absolveu. Como são baratos, setenta, oitenta por cento menos que o preço de capa do jornal cabeça, vende muito mais e atraem anunciantes. Têm mais anúncios que notícias,frequentemente. Esse é apenas um dos muitos aspectos curiosos que permeiam o setor de imprensa no Brasil. Isso sem falar na falta de criatividade.Tudo isso diminui custos,reduz investimentos mas compromete a qualidade do jornalismo,aumenta a rentabilidade da empresa mas afasta para bem longe o leitor. E com a chegada da Internet estas coisas ficaram expostas, evidentes demais. Os jornais perdem leitores e credibilidade. Já não mofam nas bancas por que lá não se vende mais, perde assinaturas sua nova forma de venda.
Existem inúmeros exemplos da decadência da mídia impressa pelo Brasil afora. Vale citar mais alguns. Quem conheceu o Diário do Nordeste, jornal cearense editado em Fortaleza, em seus áureos tempos, sente arrepios quando o tem nas mãos agora. Era um jornal dinâmico, pujante, atraente e tão participativo que ninguém diria tratar-se de um jornal regional, provinciano. Hoje, na mesma Fortaleza, o mesmo jornal não passa de um exemplar esquálido, com matérias requentadas, editado com material distribuído pelas agencias de notícias e nem de longe lembra o jornal que já foi um dia. E cada vez mais, engordando suas páginas a presença do Estado,federal, estadual e municipal, trazendo rentabilidade para a empresa mas comprometendo a qualidade do jornalismo. Da mesma forma na Bahia. Enquanto durou o reinado de Antonio Carlos Magalhães,o famoso ACM, o jornal A Tarde, um dos baluartes do jornalismo brasileiro mas parecia um jornalzinho de bairro. ACM odiava a família proprietária e jurava de morte o excelente Diário. Não conseguiu destruí-lo. Mesmo criando o Correio da Bahia, gordo, forte, pujante mesmo com uma tiragem 80 por cento menor que A Tarde. Mas tinha as benesses do governo estadual, aliás,todas. E prosperava. Findo o reinado ACM a situação se inverteu. A Tarde recuperou seus dias de glória, se bem que com uma tiragem infinitamente menor, enquanto o concorrente míngua e naufraga a olhos vistos. E já não tem a mesma combatividade com o governo estadual. Desnecessário escrever ou chamar a atenção para o fato de que as benesses governamentais mudaram de bairro.
É assim que as empresas editoras de jornais estão sobrevivendo, umas melhor que outras, mas todas na corda bamba da ameaça da web. Muito embora suas empresas continuem rentáveis em função de uma série de artifícios,alguns dos quais vimos aqui e onde o leitor passa longe, elas emagrecem, perdem circulação. Um pouco diferente dos Estados Unidos onde em 2009 a indústria de jornais deu um suspiro e deram uma recuperada no faturamento no segundo semestre. Mas por conta da diminuição dos custos operacionais, ai compreende-se também demissões,e menos por conta de conquista de leitores. E olha que lá são 128 milhões de adultos lendo jornal em papel todos os dias. E aqui no Brasil? Não sabemos, mas posso garantir que não chegamos a 5 por cento disso.