23 de dezembro de 2010

QUAL SERÁ O CAMINHO?

Símbolo de poder, de modernidade e de cultura, a mídia sempre foi um negócio rendoso e cobiçado nos quatro cantos do mundo. Foi assim desde que Gutenberg inventou a prensa. E antes de se tornar a que conhecemos hoje, a mídia era o conjunto de forças de uma aldeia, ou cidade-estado que dominava a informação. A mensagem era algo tão importante para o Rei que o portador pagava com a vida para que sua majestade ficasse segura de que o segredo não vazaria. Fora dele a mídia era representada pela Igreja que no confessionário auscultava o pensamento da população e no altar disseminava sua mensagem, tal como um aplicativo de iPhone hoje em dia. Quando surge a velha mídia, ela detona com todos esses poderes estabelecidos já que a informação ficava mais democrática, mais acessível e disseminada com mais rapidez e mais amplitude. E o século XX coroa a expansão dos meios de comunicação de massa, ao mesmo tempo em que declinava o poder da Igreja e dos mensageiros da esperança. O único meio de poder que se mantém inabalável, dos velhos tempos, é o banco da universidade. Esse ninguém destrona, nem mesmo a internet.
Mas se a mídia é um poder, a informação é um direito. Mídia e Meio são a mesma coisa. A segunda é plural latino de medium. Meios de comunicação é o conjunto de tecnologias de informação usado na comunicação de massa com conteúdo padronizado. Tecnologia e plataformas específicas sustentam-se em duas premissas: mão única, poucos transmitem e muitos recebem, produção centralizada e dirigida, distribuídas por jornais, rádios, revistas e TVs. Na mão de poucos, esse poder rivaliza com o Estado, com as armas e com o capital. Se a ele se junta um dos três... pronto, é o mais perfeito dos mundos, para quem controla. E assim foi e ainda é. Tanto é que todos os órgãos da velha mídia que estão a caminho da falência encontram sempre um milionário pelo caminho disposto a desembolsar alguns bilhões de dólares para mantê-los de pé. E não o fazem por amor à comunicação e disseminação de informação. O fazem para agregar valor aos seus negócios, principalmente frente aos Estados. Assim é aqui no Brasil, vide os casos do Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil e O Dia. Assim é na França onde os periódicos a caminho da cova estão, hoje, em mãos de grupos empresarias fortes como de armas e finanças. E assim é nos Estados Unidos e na Espanha. Tem sempre um milionário se habilitando e incorporando um órgão de mídia. Até mesmo o New York Times entrou na dança. A razão, como já vimos, é única. Mas os interesses são múltiplos. Mesmo com pouca tiragem ou audiência, a capacidade de influenciar o resultado de conflitos sociais, eleições, guerras e de condicionar hábitos de consumo, faz com que qualquer homem de poder queira agregar ao seu negócio um ramo de mídia. É o meio de comunicação que irá torná-lo mais poderoso e intimidador. E assim a velha mídia vem sendo usada ao redor do mundo e tendo como inimigo o Estado. Acossado pela avalanche de opinião suscitada pela propagação da informação quando a imprensa é livre, o Estado prefere, muita vezes, ter esses órgãos de comunicação nas mãos dos poderosos senhores de indústrias e bancos. Com estes as negociações se dão na mesa em torno de interesses individuais ou de grupos econômicos, com os outros, frequentemente, em torno de interesses coletivos que por vezes abalam a popularidade dos governantes. Vide o caso do jornal El Clarin, na Argentina. O governo da Presidente Kirchner luta com todas as suas forças para destruir o grupo econômico da família que controla o jornal. Tudo porque a linha editorial não é favorável ao governo atual. Por isso resta ao Estado poucas alternativas. Como não pode estatizar nos países democráticos está buscando o que agora é chamado de REGULAÇÃO. Inspirados por uma tal CONFECON, Conferência Nacional de Comunicação, promovida pelo governo federal e realizada em São Paulo em 2009, dela originou-se uma decisão plenária da criação de Conselhos Estaduais e Municipais de Comunicação. E assim o Ceará foi o primeiro estado a criar o seu. Uma lei baseada num projeto apresentado pela Deputada Estadual Rachel Marques, do PT, foi aprovada na Assembléia Legislativa, sob a discreta satisfação do Governador Cid Gomes (PDT) que vive às turras com a Imprensa. Esse Conselho Estadual chama para si a fiscalização das licenças de rádios e TVs, concessões do governo federal. Prevê também que as verbas de publicidade do governo estadual deixarão de ser aplicadas de acordo com critérios técnicos. A maioria dos representantes que comporão o tal Conselho serão indicados pelos “movimentos sociais”. E mais, o projeto foi aprovado com o apoio do Sindicato dos Jornalistas. E agora na lista já estão seis outros estados, inclusive São Paulo, a caminho de receberem de presente de suas assembléias legislativas o projeto algoz da mídia. E outra enxurrada de Conselhos está sendo esperada nas Câmaras de Vereadores pelo país afora. No fundo esse projeto nada mais é que as mãos do Executivo e suas ramificações em cima da mesa das redações, ou na linguagem moderna, dos produtores de conteúdo. O certo é que essa avalanche de controle vai apressar as mudanças que assolam a velha mídia. Ela não será a mesma depois disso. E no meio desse turbilhão está a Internet. E para ela também o governo Lula gestou uma regulação cujo projeto ficará para o próximo. É uma salada indigesta. Vai de controle de conteúdo ao de capital e tem o apoio dos barões da velha mídia. Um estrangeiro jamais entenderá esse baião de dois. Diferente de tudo que já se viu e se conhece, ela é uma mídia de bolso. Destruiu os oligopólios de opinião e poder ao possibilitar a distribuição e disseminação dos conteúdos a preço grátis. O mundo, no século XX, levou 50 anos para instalar 2,5 milhões de telex. Levou dez anos para instalar 50 milhões de fax e em 15 anos apenas o computador se fez presente na vida de 2,5 bilhões de pessoas em todo o globo. E logo, em cada casa, em cada canto do mundo, teremos um computador. Só mesmo a TV conseguiu ir tão longe. Mais que a TV, ela é informação, disponível a qualquer hora, em qualquer lugar e de graça. Ela é quem melhor sintetiza o jornalista. É o jornalismo sem a arrogância do jornalista. Sua engenharia constitui a lei básica de uma sociedade de tecnologia de informação. Não há lugar para pretensos interesses públicos se esconderem atrás de informações manuseadas em proteção de interesses políticos ou econômicos. São desmascarados na hora. É na internet que o jornalismo encontra sua plataforma aberta de participação no interesse público sem interferências. Estamos dando os primeiros passos, e como são fortes, a velha mídia não resiste. Mas isso ainda não é nada. Enquanto a internet não tiver o modelo de negócio estruturado, adaptado e desenvolvido para financiar o jornalismo on-line, sua concepção não estará pronta. O modelo de criação dos aplicativos fechados para as plataformas exclusivas, tais como iTunes, Amazon ou iPad e iPhone na realidade é uma tentativa clara dos senhores poderosos da mídia digital de se tornarem os novos barões da informação tal qual foram os barões da velha mídia. Custa crer que isso seja possível num mundo disseminado e independente quanto o que habita a rede. ALELUIA, HILDEBERTO É JORNALISTA

20 de dezembro de 2010

DE CABEÇA PRA BAIXO

Publicado noPortal da annaramalho.com.br
Sex, 07 de Janeiro de 2011 15:15

Por Aleluia, Hildeberto

Diante da queda de receita e preocupados com o futuro, jornais impressos americanos seguem os passos da TV e das revistas oferecendo garantias de vendas aos anunciantes de produtos de varejo. A proposta garante um retorno mínimo ao anunciante. Se uma sequência de anúncios não levar a um aumento de pelo menos 10 por cento nas vendas do produto anunciado, o anúncio sairá de graça. São os efeitos da internet. Até aqui ela vinha causando baixas localizadas em setores específicos. Destruiu a indústria do disco e do CD como nós a conhecíamos. Depois infringiu golpes de morte aos estúdios de Hollywood. Os muitos que não faliram estão em concordata. Varreu o negócio das agências de viagens ao permitir a criação de um novo modelo de negócio para a venda de passagens aéreas e diárias de hotéis. Transformou o comércio eletrônico, o B2B (Business-to-Business), num negócio de números astronômicos. Em seguida partiu para cima da velha mídia e agora desfere um tiro de canhão no modelo de negócio erigido a partir das agências de publicidade. Porém, o mais incrível de tudo isso é que a internet ainda não conseguiu tornar lucrativos os negócios da publicidade online. O faturamento dos grandes grupos de mídia, seja aqui no Brasil, na América, na Europa ou na Ásia, segue o mesmo modelo. A área de publicidade online não consegue ultrapassar 20 por cento do faturamento global dos grupos. Seja nas Organizações Globo, no Grupo Folha ou na multinacional News Corporation, do Murdoch. O dilema é igual. As empresas de investimentos de capital para empreendimentos na internet, nos Estados Unidos, desde 2004 investiram 5, 1 bilhões de dólares em 828 empresas estreantes na internet. A maioria delas tinha a publicidade como sustentáculo do negócio. Não se sustentaram. Nenhuma, aliás. Agora o foco volta-se para aquelas que tenham pelo menos mais de duas fontes de receita, além da publicidade online. Mas as dificuldades permanecem e a pergunta que não quer calar: como criar um negócio lucrativo na internet? Tem que rebolar, tanto aqui como por aí pelo mundo. Exemplo significativo está em Nova York com o site OPEN TABLE, de reservas para restaurantes. Ele fatura com a venda de seu software a restaurantes cobrando um dólar por lugar reservado. No mês de setembro de 2009 a empresa se tornou a primeira a ser financiada com a abertura de seu capital em bolsa nos últimos dois anos, depois do estouro da bolha. A oferta pública foi um sucesso. Dois dias após o lançamento as ações já estavam sendo oferecidas há um pouco mais de 20 de dólares, 43 por cento acima das estimativas originais do preço imaginado pelo banco de investimento que realizou o lançamento. Dois dias após as ações da companhia já batiam a casa dos 28 dólares por ação. E sem nenhuma publicidade online. O modelo que faz a prosperidade da velha mídia não serve, absolutamente, para a nova mídia. Esta situação levou um executivo do grupo Wetpaint, de vendas de serviços pela internet, a observar, desolado: O mercado de publicidade online parecia destinado a ser a luz mais brilhante na paisagem, mas até mesmo essa luz perdeu o brilho.
A publicidade não paga os custos da empresa dele o que o obrigou a cobrar de seus grandes clientes, como HBO e a FOX, um honorário adicional por serviços como promoção e moderação de fóruns de leitores. É uma clara tentativa de inventar um modelo já que falharam as iniciativas de vendas de assinaturas de acessos. Se ainda restam dúvidas, lembro aqui os sites como FACEBOOK e ORKUT que apesar do sucesso ainda não possuem um modelo de publicidade online. O único que possui seu modelo, testado e aprovado, no mundo digital, até agora, é o Google. Para David Sze, sócio da Greylock Partners, empresa de capital para investimentos no mundo digital, “a maioria dos planos de negócios se baseavam em publicidade como fonte de faturamento e de repente o mundo inteiro decidiu que produtos virtuais ou assinaturas deveriam ser parte do mundo”. O modelo de assinatura ruiu, o da publicidade não emplaca e novas alternativas estão sendo testadas. No começo deste ano de 2010 o indiano-americano Pankaj Shah criou a revista TONIC, online. Decidiu dispensar a publicidade de sua receita. A revista publica artigos sobre temas exclusivos e vende produtos como camisetas de algodão orgânico da marca Donna Karan, por 65 dólares, entre outros. Com propriedade observa ele que “vender uma camiseta por 65 dólares ou uma pulseira por 45 equivale a muitas e muitas visitas a um anúncio de Ciallis”. Está nadando no mar de incertezas que cerca os negócios na Net. E o mais incrível é que de ano para ano aumenta o volume das verbas dos anunciantes destinadas à publicidade online. As mudanças necessárias para o novo modelo, na opinião de alguns profissionais do ramo, estão num novo desenho das agências de publicidade. Talvez uma das respostas esteja na frase do executivo americano Barry Wacksman, vice-presidente da agência R/GA do grupo Interpublic, um dos maiores do mundo:
- Entreter, prestar serviço, facilitar a troca de informação sobre a marca, há várias formas de estabelecer pontos de contato com o consumidor.
Aleluia, Hildeberto é jornalista