28 de novembro de 2016

OS INFINITESIMAIS E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Sempre causou espanto o fato de países como Itália, Espanha e Portugal terem perdido o bonde da revolução industrial no Século XVII. Após a formação da Europa por Carlos Magno, no Século VII, a Itália com suas cidades estados ( ducados, principados e republicas) que nada mais eram que feudos familiares, e sob a proteção do Vaticano, liderou o movimento renascentista dando uma significava contribuição cultural à nossa civilização.

Isso durou até o Século XIV, quando Portugal, Espanha e Holanda viriam a transformar o mundo que conhecemos através da navegação. A Itália ficou de fora. O conhecimento, a tecnologia e a aventura estavam se inserindo nesses países longe das convicções da Igreja e independente do Vaticano. Vieram as grandes descobertas, do Século XIV até o XVII e esses três países foram os primeiros e grandes responsáveis pela descoberta do novo mundo. O Poder da Igreja era imenso e ela não podia ficar de fora. Daí foi incorporada aos descobrimentos. Não pela inteligência, mas sim pela fé. Pelo menos essa fé aqui referida.

Roma se contentou em ficar de fora do naco das descobertas desde que os desbravadores levassem a reboque os catequizadores do Vaticano. E assim foi, no princípio. Desta forma a Companhia de Jesus fundada por Ignácio de Loyola se instalou da China à Patagonia. Depois vieram outras ordens religiosas. Esse movimento ampliou como nunca a mensagem da Igreja Católica e do cristianismo. Mas a Itália, como Estado, ficou fora do poder das descobertas pela navegação.

Tudo começa com a ação de Galileu. Costuma-se dizer que a fé remove montanhas. Não só. Obstrui e trava o desenvolvimento também. Pelo menos essa fé aqui referida. Assim foi com os infinitesimais. Expulsos e perseguidos na esfera do catolicismo, na diáspora foram acolhidos por países como Inglaterra, Holanda e Alemanha, no Século XVII. Levaram seus conhecimentos para a esfera do protestantismo e das igrejas ortodoxas, possibilitando, principalmente à Inglaterra a criação da Royal Academia de Ciências, em Londres, e liderar a Revolução Industrial, além de sepultar para até nossos dias o poder e glória desses estados que impulsionaram a navegação.

Somente sob a luz dos estudos dos infinitesimais se entende como, principalmente Portugal e Espanha, saíram da linha de frente do conhecimento para mergulharem na escuridão humana e tecnológica. Foram grandes pela inovação. Se tornaram pequenos por sucumbirem à convicção da fé católica e dos dogmas da Igreja e por dizimarem dezenas de civilizações indígenas e junto culturas milenares dos povos que habitavam esse novo mundo.

Isso e muito mais está no profundamente pesquisado e descrito livro Infinitesimal- A teoria matemática que mudou o mundo, do americano Amir Alexander ( editora ZAHAR -2014 ) www.zahar.com.br

Infinitesimais é a definição pela qual ficaram conhecidos o italiano Galileu e seus discípulos. Galileu foi excomungado, banido e asilado por ordens da Igreja. Seus apaixonados alunos e seguidores se espalharam pelos países protestantes e católicos ortodoxos onde puderam ficar longe das garras do Vaticano e proporcionar, principalmente à Inglaterra, a glória de liderar a Revolução Industrial.

Esse caminho foi aberto pelo Rei inglês Henrique VIII (1491- 1547) que viu na contra-reforma, o movimento do renascer católico e do luteranismo ( como ficou conhecida as verdades do monge agostiniano Martinho Lutero-1483-1546 o alemão que com suas 95 teses pregadas na porta da igreja do castelo de Wittenberg, na Alemanha em 1517 daria inicio ao ciclo do protestantismo) a grande chance de se livrar de Roma.

Infinitesimal é a teoria pela qual se exprime a doutrina dos indivisíveis que afirma que toda reta é composta de uma sequencia de pontos, ou os “indivisíveis” que são os blocos de construção da reta e que não podem eles mesmos serem divididos. Assim está descrito na página 15 do livro.

Galileu ao afirmar que a terra era redonda e girava em torno do sol, em sua descoberta revelava o que havia estudado na obra de Euclides o pai da matemática e da geometria , o sírio que estudou e lecionou na cidade de Alexandria provavelmente no Século III antes de Cristo e escreveu OS ELEMENTOS o livro com 13 volumes considerado pelos especialistas como o mais influente da história.

Nele Euclides contempla a descoberta dos princípios da ciência óptica, acústica, consonância e dissonância, esses o primeiro tratado conhecido sobre harmonia musical. Contemplou estudos sobre mecânica, som, luz, navegação, ciência atômica, biologia e medicina , possibilitando o nascimento e a evolução da ciência e da tecnologia. Estudou também Pitágoras ( 495 AC) e Eudoxo de Cnido ( astrônomo 408-355 a.C.) geografia na obra de Ptolomeu ( nascido nos anos 90 a.C. falecido por volta de 168 a.C e escreveu treze livros sobre Astronomia, Geometria e Trigonometria) Aristarco de Samus ( 310-250 a.C) Scarabosco ( professor de astronomia na Universidade de Paris até 1256) e o astrônomo polonês Copérnico ( 1385–1569 ) seu contemporâneo e também, amigo do papa Urbano VIII. Todos estudaram também Aristóteles o filosofo e cientista grego ( 322-384 a.C.)

O conjunto desses conhecimentos possibilitou a Galileu Galilei, nascido em Pisa ( 1564) formar uma escola com inúmeros discípulos e inaugurar uma nova era do conhecimento. Em 1.623, foi apoiado pelo Cardeal Maffeo Barberini, seu amigo e Papa Urbano VIII que se alinhava entre seus seguidores. Até 1.631 prosperou uma era de ouro, liberal, em Roma, sob a ascendência galileana. Dali esses conhecimentos foram levados para as escolas da recém-fundada Companhia de Jesus, criada por Inagcio de Loyola e já naquela época uma excelência no ensino. A Companhia passou a ser dirigida por outro matemático, amigo de Galileu, chamado Cristóvão Clávio (1538-1612) que introduziu o ensino e discussões matemáticas no currículo escolar. A exatidão matemática negava Deus. Acreditava a Igreja Católica.

Com a morte desses personagens vieram os contestadores. A Companhia de Jesus venceu. Alegavam que esses ensinamentos confrontavam a verdade inquestionável sobre a existência de Deus, a única verdade absoluta que deveria ser permitida na terra. A fé e a matemática se confrontaram.

Galileu foi afastado e morreu só, no desterro, na cidade de Arcetti aos 77 anos. Seu corpo, por ironia, repousa num alaúde que é uma obra de arte na Igreja de Santa Croce em Florença,Itália. Seus discípulos e amigos que professavam sua ciência, para não serem alcançados pelos braços do Vaticano fugiram da Itália. Foi a maior fuga de cérebros que se viu até a segunda guerra mundial.

Foram acolhidos pela Inglaterra, Alemanha, Áustria, Holanda, Suécia e alguns outros países fora da influencia de Roma. Ganharam o jogo do conhecimento com o advento da Revolução Industrial liderada pela Inglaterra. A Companhia de Jesus seguiu seu caminho evangelizando povos, sem as verdades da geometria e da matemática. O resultado todos nós conhecemos, principalmente os latinos.

O livro é um primor. Toda essa glória e desventura vem acompanhadas de detalhes da evolução da ciência e dos personagens que gravitaram e fizeram a história. Há também um detalhado epílogo biográfico que serve a curiosos e estudiosos evidenciando um afinco respeitável nas pesquisas históricas. Vale muito a leitura.

5 de novembro de 2016

OS JORNAIS ESTÃO MORRENDO

Mês passado (outubro de 2016) fui acordado por uma voz dizendo-se jornalista Lauro Jardim. Por três vezes, em dias diferentes. Nas duas primeiras desliguei. Atendi na terceira vez:

- Oi. Aqui é o Lauro Jardim. Notei que você cancelou sua assinatura de O Globo......

Só aí ficou claro para mim a gravação e seu objetivo: vender assinatura do jornal. É a primeira vez que vejo jornalista vendendo o jornal que trabalha. É uma inovação, sem dúvida. Revela um anunciante atento mas evidencia falhas na trajetória de venda do produto. Faz anos que sou bombardeado por outras vozes, de funcionários ou não, do jornal, tentando vender assinaturas.

É dramática a situação da mídia impressa no Brasil. Existem informações de fechamentos de jornais impressos numa velocidade preocupante. Estima-se em três por dia no país à fora. As causas são Internet, custos de produção e infraestrutura cada vez mais altos, despreparo dos donos para lidar com uma nova realidade e um modelo de negócio totalmente ultrapassado. Não é só no Brasil. É no mundo inteiro. E no jornal O Globo não é diferente. Logo teremos novidades por lá.

Assim como a veiculação encontrou fórmulas modernas para tentar incrementar a circulação, provavelmente os outros colunistas do jornal também gravaram mensagens de vendas, estes ventos criativos precisavam soprar nas redações. Não só de O Globo, mas em todos os jornais do país.

Chama atenção que eles morrem dentro de velhas fórmulas. Não ousam e não inovam atrelados a um modelo de redação superado que não consegue atrair novos leitores e tampouco manter os velhos. Vão definhando aos poucos. Permanecem atrelados ao modelo de redação dos anos 40 do século passado. Não prestam a menor atenção nas novas gerações cujas formas de expressões e linguagem sofreram alterações profundas. Até mesmo a maneira como se apresentam as notícias mudou. Os jornais permanecem no mundo do passado. Não dá para competir com a linguagem digital. Nesta, o que não é importante fica reduzido a pouquíssimas palavras e é definido em poucos dígitos. O que é importante tem uma incrível forma e trajetória que interessa e é lido e visto por milhões. Até mesmo as notícias que saem nos jornais, na linguagem digital adquirem outro formato. O jornal impresso ao invés de incluir-se nesse novo mundo afastou-se. E pior: burramente criou barreiras de acesso para suas versões digitais. Se isso não basta, trataram de levar para a tela do computador o mesmo modelo impresso. É muita falta de criatividade mesmo.

O caso de O Globo é exemplar. Interessantes apenas as manchetes. Colunas pesadas, com raciocínios tortuosos e longos. Matérias sem objetividade e muitas vezes com textos escaldados e sem conteúdo relevante. Na página de opinião e nos artigos temáticos a maioria dos autores apenas justificam posições em busca de seus caminhos. Textos inconsequentes, em sua maioria. Não defendem ideias e projetos. Justificam posições em arrazoados desinteressantes e inócuos. Pior que o press release. Fazem lob ou justificam-se perante seus nichos. Não há pautas que os tornem atraentes. São poucos aqueles que realmente atraem pela atualidade e textos objetivos. E estes é que seguram o jornal.

Colunas diversas e todas tratando de frivolidades. Inclusive na política. O retrato fiel da política brasileira são algumas colunas de O Globo: piadas. Uma imensa estrutura de produção de conteúdo, com gente talentosa, mas desinteressante. Em dez, doze notas, escapam duas ou três com densidade. No caso das colunas até se entende, mas não justifica.

Causa espanto os acontecimentos recentes em Brasília quando uma maré de jornalistas foi incapaz de relatar com fidelidade o clima do impeachment. Todos se dizem bem informados. Mas ninguém é capaz de explicar como um exército de profissionais não foi capaz de antecipar aos seus leitores o segredo que mais da metade do Congresso Nacional sabia: o fatiamento do processo de cassação da ex-presidente Dilma. Esquecem que são bem relacionados apenas para servir ao leitor. Em plena era da informação os jornais prestam cada vez menos serviços e informam menos. A realidade se encarrega de informar melhor, de ser mais rápida e sem barreiras. A internet que o diga.

Os leitores perdem o interesse, a publicidade foge. Para se financiarem os grandes jornais partem para a publicidade de patrocínio. É quando determinadas marcas aparecem junto aos textos de determinadas coberturas. Mas o leitor imagina e sabe que este modelo não favorece a independência e a isenção necessárias.

Governos e suas marcas também são generosos no financiamento desta prática. Mas o que resulta daí vem mofado, insosso, suspeito, quando não comprometido mesmo

30 de agosto de 2016

O CERRADO BRASILEIRO

Na prazeirosa leitura do livro de ficção cientifica escrito pelo advogado Odimer E. Nogueira ESTAÇÃO TERRA, publicado e lançado no Brasil pela Editora Kelps ( Goiania-GO 2013) o cerrado brasileiro está magistralmente assim descrito pelo autor na página 16:

-Vastíssima extensão de terras de apenas duas estações: a das águas, abundantes e regulares chuvas que ocorrem na maior parte do ano, é o que há de melhor para a atividade agrícola.

Esse fabuloso encanto é logo desfeito no parágrafo seguinte quando ele define:

-a outra, a estação seca, é propícia apenas às lamentações. Chega aos meados de todos os anos e castiga a região com tais rigores que parece apenas servir para separar no tempo dois períodos de muitas chuvas e farturas e mostrar aos viventes da região que nem tudo na vida é sempre igual. As pessoas bem acostumadas aos bons tempos, não se esquecem das benesses das águas quando chega a estiagem.

E a descrição prossegue destacando que a “atmosfera perde quase toda a umidade e o ar desértico, em alguns dias, de tão seco, arde nas ventas e nos olhos dos homens e animais. As pastagens, logo depois das últimas chuvas quando então se instala em definitivo a estiagem, se ressentem da falta de umidade que é agravada pelo vento frio e constante. Ressecam, perdem o verdor e absorvem tanta poeira nas folhagens que não mais servem para alimentar o gado”.

Diz ainda Odmer Nogueira em sua narrativa que “tal dicotomia climática transforma a seca na região num período de provações. Difícil para as pessoas, mais difícil ainda para os animais. E é também tempo de mistérios que favorece a manifestação das estranhas forças que de alguma forma afetam o viver das pessoas. Em alguns anos ocorrem chuvas esparsas e ocasionais em outros, porém a estiagem é absoluta”.

É neste cenário aonde ele desenvolve a trama de sua aventura científica muito bem narrada no livro. Também é no cerrado onde se dá as mais altas taxas de produtividade agrícola do mundo.

Esta característica geográfica, única, se espalha por uma vasta região no centro-oeste do Brasil abrangendo os estados (uns mais outros menos) de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Maranhão, Bahia e o estado do Piauí. Apesar dessa uniformidade esses estados possuem, cada um, situações climáticas diversas abrangendo regiões de secas, caatingas, ignorância, analfabetismo, doenças e pobreza extremas. Alternam calor e frio criando uma realidade inconcebível para a riqueza que produzem. Ao todo são mais de 200 milhões de hectares, abrangendo 337 municípios e 31 microrregiões, segundo a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária).

A maior área produtiva está no Mato Grosso, onde se planta atualmente (2014) cerca de 11 milhões de hectares de grãos (soja, milho, feijão, algodão basicamente). Em seguida vem Goiás com 5,5 milhões de hectares, Mato Grosso do Sul, com cerca de 4 milhões de hectares, oeste baiano e cerrados mineiros com 3 milhões de hectares cada um. Além de grãos o cerrado detém as maiores áreas de pastagens plantadas e respectivos rebanhos do Brasil, além de áreas de reserva, estradas, cidades e vilas. Merece destaque o oeste da Bahia.

Tudo isso hoje é possível graças a um visionário mineiro oriundo da Faculdade de Agricultura de Lavras e que foi Ministro da Agricultura no governo Geisel (1974-1979) Alysson Paulinelli. Ele sonhou em desenvolver o cerrado e para isso não poupou esforços, nem dinheiro. Dotado de uma capacidade de trabalho sem igual e forrado de conhecimentos técnicos sem precedentes, dedicou-se com afinco a plantar as raízes que hoje fazem do Brasil um dos maiores celeiros de produção agropecuária mundial.

Há trinta anos o oeste baiano era um campo estéril e despovoado. Com pouco mais de 8 milhões de hectares, é a nova deslumbrante fronteira agrícola brasileira, área esta um pouco menor que a área total do Estado de Pernambuco que possui 9,9 milhões de hectares. Para se ter uma ideia o Estado da Paraíba possui área total de 5,6 milhões de hectares e o do Rio de Janeiro 4,3 milhões hectares. Também conhecida como Alto São Francisco ou Além São Francisco , esse Oeste baiano está na margem esquerda do rio São Francisco e seus afluentes jamais secam. Isto porque as terras estão sob o aquífero URUCUIA, também uma das maiores reservas de água doce conhecidas no mundo.

Segundo a Advogada e pesquisador Hetilene Gomes , pernambucana radicada no Estado do Rio de Janeiro,

“ as terras da margem esquerda do rio São Francisco, onde hoje está o novo Eldorado brasileiro da soja, pertencia à capitania de Pernambuco que perdeu a posse para a Bahia por um Decreto- provisório - de vingança de D. João VI. Vingança por causa da Revolução Republicana de 1817, incitada por bravos pernambucanos. Mais tarde D. Pedro I para punir Pernambuco em função da Revolução de 1824 (Confederação do Equador) liderada por Frei Caneca mantém a espoliação das terras dando início à rivalidade entre baianos e pernambucanos. Para Pernambuco as terras não voltaram jamais.

7 de agosto de 2016

ALYSSON PAULINELLI

Ele está fazendo 80 anos. Poucos brasileiros sabem quem é ele. Mas este senhor é respeitado no mundo inteiro. Foi capa da revista Time com 35 anos de idade e até hoje viaja pelo mundo, da China à Patagônia, de Tóquio a Nova York, convidado que é para palestras nas mais respeitadas universidades do globo e nos mais competitivos centros de negócios. Anda por aí falando sobre seu invento, repassando conhecimentos e satisfazendo a curiosidade cientifica sobre a alta produtividade da agricultura brasileira, principalmente no cerrado. Visionário, desenvolveu técnicas numa época em que o conhecimento não desfrutava dos imensos recursos tecnológicos de hoje. Por onde passa é saudado com reverencia e respeito. O mundo tecnológico lhe credita uma façanha que no Brasil só é conhecida pelo setor agrícola: o aproveitamento do cerrado brasileiro para a produção agropecuária.

Paulinelli descobriu os caminhos para fertiliza-las através de calagem e fosfatagem. Hoje, o cerrado brasileiro distingue-se por uma produção de riqueza extraordinária, aplicação de alta tecnologia e produtividade sem comparação no mundo moderno quando se trata de produção de grãos irrigados. Nem mesmo os grandes produtores mundiais, detentores das tecnologias inovadoras para o campo, como Estados Unidos, Austrália e Canadá conseguem se igualar à produtividade do cerrado brasileiro, especialmente no oeste da Bahia. Para lá acorrem americanos, ingleses, neozelandeses, canadenses, japoneses e brasileiros audaciosos e trabalhadores. Juntos, são responsáveis por cerca de 50% cento do PIB agrícola (grãos) do Brasil. E todos, uníssonos, agradecem a um homem: o mineiro que um dia foi ministro da agricultura e vislumbrou que esta epopeia seria possível.

Alysson Paulinelli é nascido em Bambuí (10/06/1936) e foi ministro da agricultura (1974-1979). Oriundo da Faculdade de Agronomia de Lavras, atual Universidade Federal de Lavras, interior de Minas Gerais, Foi um menino pobre, estudou com dificuldade e para terminar seus estudos dava aula na própria faculdade com 22 anos de idade. Seu pai era agrônomo e pequeno sitiante, portanto era de classe média baixa, como se classificava na época. Destacou-se e virou Secretário de Agricultura do Governo de Minas Gerais no comecinho dos anos 70 do Século passado. Ele está para o agronegócio brasileiro como esteve os americanos o Gran Bell (inventor do telefone), Thomaz Edison (inventor da eletricidade) Ford (inventor do automóvel) e o italiano Marconi (inventor do Rádio) para seus países. Estes senhores passaram para a história não só porque contribuíram com seus inventos para o desenvolvimento da humanidade, mais também porque viveram o suficiente para impulsionarem suas criações e explorarem comercialmente o que foi inventado. É certo que viraram grandes capitães de indústria. No caso do Paulinelli pode-se considerar uma história maior, mais brilhante e mais gloriosa. Seu invento foi distribuído gratuitamente e hoje serve a milhões de brasileiros, no campo. O produto gerado é exportado para o mundo inteiro gerando divisas para o país, receita e tecnologia para o agronegócio.

A esse mineiro baixinho, de olhos atentos e brilhantes, devemos essa infinita realidade de desenvolvimento e produtividade agropecuária do país. Do ponto de vista cientifico ele é o brasileiro mais importante de sua época. Em 1971, do século passado, foi escolhido Secretário de Agricultura do Estado de Minas Gerais. Lá criou o Projeto Jaíba, hoje um centro de produção e exportação de produtos agrícolas onde antes não havia nada além da fome, da inanição, da ociosidade e terras inaproveitáveis. Ali Paulineli descobriu o cerrado. Descobriu, estudou, se encantou e desenvolveu. Nas palavras de seu braço direito em todos esses anos, o admirável economista mineiro Nuno Casassanta, “ a calagem, aplicação de calcário, já era conhecida, mas era olhada com desconfiança pelos produtores para recuperar os solos de cerrado. O Paulinelli com ideias arrojadas e uma invejável disposição de trabalho e capacidade de convencimento conseguiu articular programas que mostraram sua viabilidade. Começou com os projetos integrados em que o Estado de Minas Gerais entrava com assistência técnica, financiamento via Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, o BDMG, mecanização agrícola, armazéns e estímulos à montagem de usinas fabricantes de calcário. Diante do sucesso buscou-se escala através da participação de cooperativas que fizeram uma colonização moderna em amplas áreas do cerrado mineiro. Essa iniciativa levou à criação do PoloCentro, o programa de desenvolvimento que estabeleceu as bases da revolução agrícola.

Casassanta recorda-se também da revolução no setor cafeeiro: "no meio de uma enorme crise e num ambiente de erradicação trabalhou o Paulineli pela renovação dos cafezais em novas bases tecnológicas. O Estado de Minas Gerais desde então produz cinquenta por cento do café brasileiro. E o reflorestamento? A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias) criada por ele já no governo federal, no seu nascedouro recebeu uma formidável dose de apoio que significou o maior programa de treinamento já executado no país. Aplicava-se um bilhão de dólares por ano nisso. Para muitos uma loucura. Mas deu certo e a EMBRAPA hoje é orgulho brasileiro, continental, científico. A instituição é uma academia de alto nível sem padrão de comparação. O Brasil é sucesso na agropecuária graças ao conhecimento e a crença dos produtores na ciência que juntos se criou “, finaliza.

Formou uma equipe de excelência composta, entre outros por economistas, agrônomos, administradores e professores que o acompanharam em toda a sua brilhante carreira. Entre estes estava Paulo Afonso Romano, seu Vice-Ministro que negociou, implantou e dirigiu a CAMPO, uma binacional agrícola Brasil-Japão, empresa pioneira com capital internacional destinado exclusivamente à exploração do cerrado, Antônio Lício que por sua excepcional formação integrou outros governos e ainda hoje é um grande consultor internacional, Francisco Reynaldo Amorim de Barros, oriundo da Fundação Getúlio Vargas, Alceu Sanches, Eduardo Campelo, Raul Vale, Eliseu Alves, Lourenço Vieira da Silva, José Carlos Pedreira de Freitas, Eustáquio Costa, Paulo Cota, Silvestre Gorgulho, Joaquim Campelo , Alex Gonçalves dos Santos, Sá Martins e muitos outros. Paulinelli foi também Presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) Secretário de Agricultura de Minas Gerais por duas vezes e Deputado Federal, inclusive constituinte.

28 de julho de 2016

O WHATSAPP, O JUDICIÁRIO E NÓS.

Por quatro vezes o aplicativo WhatsApp já foi retirado do ar aqui no Brasil. Em todas por decisão judicial, prejudicando e atraindo a ira de milhões de usuários para os juízes que determinaram as ações. Tem manifestação e opiniões para todos os gostos e credos, basta ir às redes. Em muitas delas, observei, além da execração do juiz, a ideia de que a tecnologia nasceu para preservar a privacidade.

Ledo e duplo engano: primeiro que a tecnologia digital não garante privacidade a ninguém. A privacidade na internet não existe. Não há nada que se faça on line que não esteja registrado em algum lugar. Plugou está monitorado.( http://aleluiaecia.blogspot.com.br/2011/09/quem-e-4417749.html) O que se deve buscar é a inviolabilidade dos seus dados. É outra coisa totalmente diferente. A imensa maioria não sabe dessa diferenciação. E segundo, não é a tecnologia que garante a privacidade como muitos acreditam. Quem garante a privacidade é a Lei.

Antes de nos irar contra juízes que retiram do ar aplicativos temos que clamar por uma Lei que proteja os negócios das redes e a nós como usuários; estabeleça limites para o judiciário e não sirva de biombos para bandidos e mal feitores se esconderem em nome da liberdade de expressão. Custa crer que alguém defenda a inviolabilidade de bandidos e assassinos em nome da liberdade de navegação. Não acredito. Nem por inocência. Não é assim que a banda toca.

Muitas outras vezes aplicativos e provedores serão retirados do ar por juízes de várias regiões do Brasil. Por motivos que nem somos capazes de prever. Como não existe uma lei, específica, para reger tais situações, o judiciário estará à mercê de uma tal de jurisprudência que nada mais é que a ausência de lei para um determinado assunto. A lei vai sendo criada pelo uso do cachimbo que deixa a boca torta, ou seja: por decisões de juízes em suas instâncias diversas. Isso é que os advogados e o mundo jurídico chamam de jurisprudência.

Enquanto tudo isso acontece, como bons brasileiros, esquecemos das causas e nos indignamos com o efeito apenas. O grande culpado de permitir que juízes de primeira instância tomem decisões que afetam a vida de milhões é o Congresso Nacional.

As dúvidas dos usuários são pertinentes, os argumentos procedem já que estamos no Brasil onde a Lei nem sempre é respeitada. No entanto, a raiz das dúvidas e falhas é a Lei de Internet onde tais casos não foram contemplados.

O tal Marco Civil da Internet (a lei que rege a internet no Brasil) foi feito pela Câmara dos Deputados e ignorado pelo Senado da República. Saiu de lá como uma Lei quase que exclusivamente para contemplar as teles. Suas audiências públicas foram realizadas em ambientes onde se desconheciam a realidade da Internet e sempre com o objetivo principal de escamotear a questão da neutralidade da rede.

A Lei, como desejavam as teles, não contemplou esse assunto e deixou para o Executivo decidir. Assim o Congresso outorgou a ANATEL (a Agencia Nacional de Telecomunicação) o poder de fixar como vai funcionar a neutralidade da rede. Cedo ou tarde iremos pagar mais. Pela banda e pela velocidade de dados na Rede.

Minudente e redundante o Marco Civil da Internet deixou ao judiciário a tarefa de zelar e punir o mau funcionamento da rede sem artigos específicos, sem direitos e deveres claros. Recentemente foi publicado que o Google fez um acordo com a justiça paulista para escapar dos constantes pedidos de dados e visando satisfazer a justiça. Não se conhece em que base foi feito tal acordo.

A Lei tem a cara do bolivarianismo que permeia a Nação. Exalta as liberdades individuais tratando dos muitos aspectos da rede sem definir tarefas, direitos, responsabilidades e penas. Cada juiz, em cada Comarca vai decidir como quiser. Não há Lei sobre o assunto. Recordem-se do caso da atriz Carolina Dickman (pela repercussão mereceu outra lei) quando esses aspectos deveriam estar lá no Marco Civil. Já que não há Lei, cada juiz interpreta de sua maneira.

Agora o Ministério da Justiça do governo interino já anunciou que a vai mandar um projeto de lei para o Congresso sobre o assunto do WhatsApp. Que não caia na mesma vala do Marco Civil. Que seja discutido em fóruns apropriados e com gente que entenda do riscado. O internauta, os aplicativos e o judiciário agradecem. Não vai inibir atuação de bandidos na Rede, mas vai tonar mais ágil e sem confusão a ação do judiciário.

18 de julho de 2016

O UBER E SEUS PROBLEMAS

No final de junho de 2016 fui vítima de uma trapaça no aplicativo de transporte UBER, na SQN 213, em Brasília. Fiquei com a convicção de por muito pouco haver escapado de um assalto. Passados alguns dias, relatando para amigos e pesquisando nas redes descobri que não fui o único. Houve casos semelhantes, com vítimas, na própria cidade de Brasília, em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro e em Nova Deli, na Índia.

Trata-se de uma situação inusitada e perigosa. No Brasil, como sempre, a situação do aplicativo tem características muito próprias: está sendo desmoralizado pelos taxistas. Como não conseguem vencer o aplicativo na prestação de serviços e preços (chegando a custar mais que o dobro) os taxistas estão desmoralizando o UBER e causando prejuízos e riscos aos passageiros. O caso é grave. Em Nova Deli foi um estupro. Não houve interceptação da chamada.a passageira processa o UBER em sua sede na Califórnia. O motorista,um tal de Shiv Kumer Yadav, segundo o jornal Times of Índia, está preso e é acusado pela polícia local de haver estuprado outras mulheres. Em Belo horizonte há o relato da atriz e cantora Lívia Montovani em uma rede social que comprova a interceptação de chamadas telefônicas também na capital mineira.

Os taxistas brasileiros, especialmente os brasilienses, desenvolveram um sistema por onde interceptam as chamadas para o UBER. No meu caso, numa noite chamei o aplicativo por três vezes. Em todas as chamadas foram para um endereço errado. O UBER cobra uma taxa de sete reais se o passageiro desiste da chamada ou não encontrar o passageiro. Nunca chegaram a mim tais cobranças. Somente numa quarta chamada, após um telefonema, consegui o transporte.

No dia seguinte chamei de novo: com um atraso de meia hora para minha surpresa chegou um táxi. Ele me identificou pelo nome. Respondi que não havia chamado um táxi e sim um UBER. Rápido na resposta me contou que seu carro havia batido dias atrás e que ele já havia comunicado ao UBER e daquela semana em diante o táxi estava habilitado pelo próprio aplicativo. Como eu estava acompanhando a votação da Lei distrital que visa regular o aplicativo na capital federal sabia que aquela história não era verdadeira. Atrasado para meu compromisso resolvi correr o risco. O motorista dirigia mal e estava nervoso. Fui crivando-lhe de perguntas. Mais nervoso ele ficava. Enfim chegamos ao destino e até hoje não recebi a conta da corrida, fatura que costuma chegar imediatamente após o trajeto.

Fiquei preocupado. Contei para meu acompanhante no almoço que também achou a história muito estranha. Mais tarde, já noite, meu amigo ligou e me disse que dera muita sorte pois no trabalho dele colhera um relato igual e a passageira havia sido assaltada. Fui para as chamadas redes sociais e me pus a pesquisar. Numa delas encontrei o testemunho da senhora Fernanda Mac Dowell, na quinta feira dia 27 de junho. Seu relato:

- acabou de acontecer comigo o que alertaram aqui no Facebook. Fotografei o carro. Pedi um Uber no Centro da cidade, no Rio de Janeiro e gravei a placa e o modelo: Tucson LSR. Sorte que estava atenta. A caminho do meu Uber, antes encostou outro carro. Se dirigiu a mim e abriu a porta. Notei que a placa não conferia e nem o modelo do carro. Alguns segundos depois, já no carro que chamei, o motorista relatou-me ter conhecimento de casos semelhantes e testemunhos de passageiras que foram assaltadas em situações parecidas.

Em outro relato colhi testemunhos até de estupros acontecidos em Belo Horizonte. Na mesma semana deparei-me com uma notícia de estupro em Nova Deli, na Índia, praticado por um motorista do UBER. Aqui e ali encontro depoimentos de vítimas onde a característica principal é a interceptação das chamadas. A empresa UBER é a que mais cresce no mundo na área virtual. Seu valor de mercado já ultrapassa os 40 bilhões de dólares e vem recebendo aportes financeiros de um bilhão de dólares ao mês. Tanta tecnologia e o cliente fica isolado. Não há um canal para o passageiro se reportar ao outro lado do balcão.

Outros aplicativos crescem no mundo e o maior deles é o Didi Kuaidi. Desembarcam no Brasil este mês. Como não temos um órgão regulador é necessário que estejamos atentos. E cabe ao governo acordar para o assunto. Do Congresso Nacional nada podemos esperar a julgar pela regulação da neutralidade da rede quando a Câmara dos Deputados promulgou uma Lei, conhecida como Marco Civil da Internet, ludibriando a todos quando não fixou os parâmetros, claros, da neutralidade da rede. Ao contrário, facilitou a vida das Teles, permitindo que elas fixem ao seu gosto os limites de navegação na banda larga. Cedo ou tarde iremos pagar mais pela navegação. É aguardar para ver.

A evolução tecnológica está sob cerrado ataque. No caso do UBER trata-se de um caso para a polícia agir.

11 de junho de 2016

Tributo a Michael Koellreutter

Foi-se nosso Micha. Foi-se um dos meus baianos prediletos. Dono de um sobrenome de príncipe bávaro e de um texto sarcástico composto por adjetivos certeiros e substantivos de toneladas, sabia ser ferino e lúdico quando a situação requeria. Incansável trabalhador, buscava inovação em todos os projetos que se meteu na vida. De temperamento alegre e afável esse baiano de Salvador conquistou o respeito profissional numa legião de feras do jornalismo de São Paulo e do Rio de Janeiro. Jamais transigia com a verdade. Sabia como ninguém tornar situações dramáticas em hilárias nos seus textos enxutos e prazerosos.

Nos anos 90 frenquetávamos o Hipoptamusss em madrugadas divertidas nos domínios do Ricardo Amaral. Minhas vacas eram gordas. Dividíamos a garrafa de uísque no bar do Hipo relembrando histórias da Bahia e vez por outra na companhia do João Luiz Albuquerque, do Palmério Doria, do José Mário Pereira, do próprio Amaral, Carlos Doce Lar , Fred Sutter e muitos outros. Quando minhas vacas ficaram magras ele foi generoso na retribuição.

Gostava e sabia comandar uma redação. Ávido por uma boa reportagem costurava uma matéria de capa a partir de uma simples informação de mesa de restaurante Assim ele deu cara e corpo ao seu projeto pós Intervew, acho que era a revista Caros Amigos. Me disse que gostaria de imprimir no seu projeto editorial a marca de uma revista de amenidades e ao mesmo tempo de política e economia, com sabor e seriedade. Queria minha colaboração. Disse-lhe que não tinha tempo para uma empreitada dessas. Na bucha ele devolveu:

-você vai ser meu pauteiro.

E assim foi. Durante vários anos almoçávamos aos domingos, eu, ele, Fred Sutter e Carlos Scherr. Repassava-lhe os assuntos e ele escolhia o que pautar. Me divertia o fato de seu talão de cheques ser as laudas. Ele ia anotando nas folhas do talão as informações, em letrinhas miúdas, e não raro o talão era consumido inteiro. Dono de uma memória prodigiosa nunca me ligou para confirmar dados. Os guardava, todos, com precisão e acuidade. Não raro também me surpreendia com o assunto pautado numa matéria de capa produzida nos quatros cantos do país e com repercussões inesquecíveis. Me ligava para comentar e perguntava se havia algo que não correspondesse à verdade. Isso nunca.

Viajante inveterado aos lugares da moda no mundo no final do Século XX , tal como Ibiza e Mykonos, nos divertíamos em seu regresso com histórias engraçadas e inacreditáveis. Elegante no trato, inteligente no comportamento e na prosa, conseguiu a proeza de ser amigo, amado, de suas ex-mulheres. Eu, particularmente fui testemunha do amor, da amizade e do respeito que ele nutria pela fotografa Elzinha Barroso, sua parceira existencial e profissional por inspiradas décadas. Um pouco desse amor ele brindou não só a mim como aos meus filhos em nossas frutuosas tardes de domingo.

Foi-se o Micha. Poupou a todos de sua dor no seu sofrimento, recluso, na cidade de Ouro Preto em casa de uma de suas ex-mulheres.

Vai Micha, vai ser Redator no céu, ao lado do Fred Sutter, do Angelo de Aquino, do Marcos Paulo, e de uma legião de amigos que já partiram. A alegria ficou menor com sua partida.