7 de agosto de 2016

ALYSSON PAULINELLI

Ele está fazendo 80 anos. Poucos brasileiros sabem quem é ele. Mas este senhor é respeitado no mundo inteiro. Foi capa da revista Time com 35 anos de idade e até hoje viaja pelo mundo, da China à Patagônia, de Tóquio a Nova York, convidado que é para palestras nas mais respeitadas universidades do globo e nos mais competitivos centros de negócios. Anda por aí falando sobre seu invento, repassando conhecimentos e satisfazendo a curiosidade cientifica sobre a alta produtividade da agricultura brasileira, principalmente no cerrado. Visionário, desenvolveu técnicas numa época em que o conhecimento não desfrutava dos imensos recursos tecnológicos de hoje. Por onde passa é saudado com reverencia e respeito. O mundo tecnológico lhe credita uma façanha que no Brasil só é conhecida pelo setor agrícola: o aproveitamento do cerrado brasileiro para a produção agropecuária.

Paulinelli descobriu os caminhos para fertiliza-las através de calagem e fosfatagem. Hoje, o cerrado brasileiro distingue-se por uma produção de riqueza extraordinária, aplicação de alta tecnologia e produtividade sem comparação no mundo moderno quando se trata de produção de grãos irrigados. Nem mesmo os grandes produtores mundiais, detentores das tecnologias inovadoras para o campo, como Estados Unidos, Austrália e Canadá conseguem se igualar à produtividade do cerrado brasileiro, especialmente no oeste da Bahia. Para lá acorrem americanos, ingleses, neozelandeses, canadenses, japoneses e brasileiros audaciosos e trabalhadores. Juntos, são responsáveis por cerca de 50% cento do PIB agrícola (grãos) do Brasil. E todos, uníssonos, agradecem a um homem: o mineiro que um dia foi ministro da agricultura e vislumbrou que esta epopeia seria possível.

Alysson Paulinelli é nascido em Bambuí (10/06/1936) e foi ministro da agricultura (1974-1979). Oriundo da Faculdade de Agronomia de Lavras, atual Universidade Federal de Lavras, interior de Minas Gerais, Foi um menino pobre, estudou com dificuldade e para terminar seus estudos dava aula na própria faculdade com 22 anos de idade. Seu pai era agrônomo e pequeno sitiante, portanto era de classe média baixa, como se classificava na época. Destacou-se e virou Secretário de Agricultura do Governo de Minas Gerais no comecinho dos anos 70 do Século passado. Ele está para o agronegócio brasileiro como esteve os americanos o Gran Bell (inventor do telefone), Thomaz Edison (inventor da eletricidade) Ford (inventor do automóvel) e o italiano Marconi (inventor do Rádio) para seus países. Estes senhores passaram para a história não só porque contribuíram com seus inventos para o desenvolvimento da humanidade, mais também porque viveram o suficiente para impulsionarem suas criações e explorarem comercialmente o que foi inventado. É certo que viraram grandes capitães de indústria. No caso do Paulinelli pode-se considerar uma história maior, mais brilhante e mais gloriosa. Seu invento foi distribuído gratuitamente e hoje serve a milhões de brasileiros, no campo. O produto gerado é exportado para o mundo inteiro gerando divisas para o país, receita e tecnologia para o agronegócio.

A esse mineiro baixinho, de olhos atentos e brilhantes, devemos essa infinita realidade de desenvolvimento e produtividade agropecuária do país. Do ponto de vista cientifico ele é o brasileiro mais importante de sua época. Em 1971, do século passado, foi escolhido Secretário de Agricultura do Estado de Minas Gerais. Lá criou o Projeto Jaíba, hoje um centro de produção e exportação de produtos agrícolas onde antes não havia nada além da fome, da inanição, da ociosidade e terras inaproveitáveis. Ali Paulineli descobriu o cerrado. Descobriu, estudou, se encantou e desenvolveu. Nas palavras de seu braço direito em todos esses anos, o admirável economista mineiro Nuno Casassanta, “ a calagem, aplicação de calcário, já era conhecida, mas era olhada com desconfiança pelos produtores para recuperar os solos de cerrado. O Paulinelli com ideias arrojadas e uma invejável disposição de trabalho e capacidade de convencimento conseguiu articular programas que mostraram sua viabilidade. Começou com os projetos integrados em que o Estado de Minas Gerais entrava com assistência técnica, financiamento via Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, o BDMG, mecanização agrícola, armazéns e estímulos à montagem de usinas fabricantes de calcário. Diante do sucesso buscou-se escala através da participação de cooperativas que fizeram uma colonização moderna em amplas áreas do cerrado mineiro. Essa iniciativa levou à criação do PoloCentro, o programa de desenvolvimento que estabeleceu as bases da revolução agrícola.

Casassanta recorda-se também da revolução no setor cafeeiro: "no meio de uma enorme crise e num ambiente de erradicação trabalhou o Paulineli pela renovação dos cafezais em novas bases tecnológicas. O Estado de Minas Gerais desde então produz cinquenta por cento do café brasileiro. E o reflorestamento? A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias) criada por ele já no governo federal, no seu nascedouro recebeu uma formidável dose de apoio que significou o maior programa de treinamento já executado no país. Aplicava-se um bilhão de dólares por ano nisso. Para muitos uma loucura. Mas deu certo e a EMBRAPA hoje é orgulho brasileiro, continental, científico. A instituição é uma academia de alto nível sem padrão de comparação. O Brasil é sucesso na agropecuária graças ao conhecimento e a crença dos produtores na ciência que juntos se criou “, finaliza.

Formou uma equipe de excelência composta, entre outros por economistas, agrônomos, administradores e professores que o acompanharam em toda a sua brilhante carreira. Entre estes estava Paulo Afonso Romano, seu Vice-Ministro que negociou, implantou e dirigiu a CAMPO, uma binacional agrícola Brasil-Japão, empresa pioneira com capital internacional destinado exclusivamente à exploração do cerrado, Antônio Lício que por sua excepcional formação integrou outros governos e ainda hoje é um grande consultor internacional, Francisco Reynaldo Amorim de Barros, oriundo da Fundação Getúlio Vargas, Alceu Sanches, Eduardo Campelo, Raul Vale, Eliseu Alves, Lourenço Vieira da Silva, José Carlos Pedreira de Freitas, Eustáquio Costa, Paulo Cota, Silvestre Gorgulho, Joaquim Campelo , Alex Gonçalves dos Santos, Sá Martins e muitos outros. Paulinelli foi também Presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) Secretário de Agricultura de Minas Gerais por duas vezes e Deputado Federal, inclusive constituinte.

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