23 de maio de 2014

GENGES KHAN (final) A HISTÓRIA SECRETA

Toda e qualquer obra sobre Genges Khan a principal e única fonte de pesquisa se baseia num documento, fragmentado, provavelmente escrito em 1252 para o historiador francês René Grousset ou para o historiador japonês Uemura Seíjí. Escrita em 1228 e terminada em 1240, e chamada, curiosamente de A HISTÓRIA SECRETA, conforme está registrado na página 12 do livro do escritor Hòang.

Esse documento trazia instruções expressas para que fosse passado apenas da mão e para a mão da família Genges Khan e seus sucessores. Somente no Século XIX que o sinólogo russo Kafarov ( mas conhecido pelo nome de Palladius ) traduziu o texto que foi encontrado em língua chinesa para a língua russa. Originalmente estima-se que ele tenha sido escrito em uigur-mongol vertical, sino-mongol, ou outra língua que ninguém sabe pois até o Século XIII os mongóis desconheciam qualquer tipo de escrita.

O que existe dessa época foi passado por relatos verbais para chineses que registraram aqui e ali a epopeia da família do guerreiro. Como reconhece esse autor francês da biografia do Kan aqui citada, à pagina 12 “ esse trabalho de erudição permitiu novas traduções de especialistas ocidentais, principalmente a de Paul Pelliot, iniciada por volta de 1920 e inacabada devido à sua morte; depois seguiram-se a de Haenisch, em alemão; a de Kozin , em russo e, mais recentemente, a de Cleaves, em inglês”. Todas essas informações estão lá nas páginas 12 e 13 do livro do Hóang. Ele informa ainda que nesse mesmo período citado acima, no Extremo Oriente, vários mongolistas chineses e japoneses, entre eles Li Wentian, Chen Yuan e Kanai Yasuzo estudaram o texto da HISTÓRIA DA SECRETA.

Tanto o livro de Hóang quanto a outra biografia lançada aqui no Brasil em 2004 pela Editora Ediouro ( www.ediouro.com.br ) e chamado de GENGES KHAN, A VIDA DO GUERREIRO QUE VIROU LENDA ( 407 páginas) de autoria do historiador inglês John Man a história é narrada, principalmente, pelos fatos descritos em outro achado biográfico e que narra a vida dos descendentes de Genges Khan quando se instalaram no trono de Pequim após a conquista da China em 1279 sob o nome de Dinastia Yuan, nome dinástico escolhido pelos herdeiros, de acordo com a narrativa de Hoàng.

Essa dinastia legou à história um livro chamado O LIVRO DE OURO. Diz-se que foi perdido o original mas que foi encontrada uma versão chinesa de 1263 e uma outra, Persa, de 1303. Mas informa Hoáng que em virtude da carência de fontes, a HISTÓRIA SECRETA ocupou lugar considerável nos estudos mongóis. É o mergulho nesse dois relatos e comparações realizadas por inúmeros estudiosos que os historiadores se baseiam para escrever sobre este fascinante personagem chamado Genges Khan.

Na introdução do livro a GENGES KHAN, A Vida do Guerreiro que Virou Mito do inglês J. Mann, na pagina 13 ele informa que “em março de 2003, apareceu um extraordinário artigo no American Journal of Human Genetics:

- um grupo de 23 geneticistas estudara o DNA de cerca de dois mil homens de toda a Eurásia. Surpresos os cientistas descobriram um padrão comum em várias dezenas desses homens, independentemente da região de origem. O mesmo padrão genético, com ligeiras variantes locais, abrangia grupos populacionais espalhados por todo o território, desde o Mar Cáspio até o Pacífico. Se a proporção de homens com esse padrão ( oito por cento dos dezesseis grupos ) for extrapolada para toda a população daquela área, a espantosa conclusão é que, na verdade , 16 milhões de homens fazem parte de uma vasta e única família”.

Jhon Man se pergunta ainda na página 13:

-como explicar isso?

-Os dados provêm de um estudo sobre os cromossomos Y que os homens possuem e as mulheres não. Esse fato sugeriu uma hipótese alarmante: a de que um homem que viveu na Mongólia no Século XII espalhara o seu material genético por meia Eurásia; o resultado é que hoje esse material é compartilhado por um em cada duzentos dentre todos os homens atualmente vivos por lá. É concebível que o ancestral comum desses 16 milhões de homens fosse um antepassado imediato de Gêngis, cujos irmãos podem ter compartilhado do mesmo padrão. Em todo caso, entre 1209 e a sua morte, em 1227, Gêngis foi o responsável por espalhar essa assinatura genética pelo norte da China e na Ásia Central.

Man vai mais longe em suas justificativas que chegam a ser espantosas:

-belas mulheres faziam parte do butim de guerra, e exigir as melhores do grupo, recebendo-as através dos oficiais dominados, equivalia a uma declaração de liderança. Gêngis era um ardente defensor dessa exigência, que não apenas lhe afirmava a autoridade mas também lhe permitia se mostrar generoso, uma vez que as jovens podiam ser presenteadas aos generais que lhe fossem fiéis. Embora não fosse um libertino, com certeza Gêngis também não era um asceta e, no curso dos quarenta anos da construção do império, teve acesso a muitas centenas de jovens.

O autor conclui afirmando na página 15 “ que as consequências da duplicação do numero de descendentes de Gêngis, do sexo masculino, em todas as gerações, por mais de 30 gerações, são tão drásticas que o cálculo escapa ao mundo real antes de ser concluído. Depois de cinco gerações ( por volta de 1350 ), Gêngis tem a bagatela de 320 descendentes do sexo masculino; cinco gerações adiante, em 1450-1500, o número sobre para dez mil; depois de dez gerações, são vinte milhões; e depois de trinta, incalculáveis bilhões.

Na mesma página o autor justifica que os genes particulares que o grupo de pesquisadores estudou são neutros; apenas determinam o sexo e que “ portanto deveria haver algum outro fator em ação para garantir a sobrevivência da linhagem de Gêngis ”. E conclui afirmando que a equipe comandada por Chris Tyler-Smith ( cientista inglês do Departamento Bioquímico da Universidade de Oxford-Londres-Inglaterra) garante que só pode ser o poder político absoluto associado a um vasto alcance geográfico. E é exatamente o caso do nosso personagem.

PORQUE O KHAN FOI TÃO IMPORTANTE

Em dezembro de 1995 o jornal Washington Post apontou Gêngis Khan como “ o homem mas importante dos últimos mil anos ”. Na página 17 do seu livro biográfico John Mann lembra que o próprio Post perguntou-se porque? Para responder em seguida:

-a grande história do milênio passado é que um único espécime exerceu totalmente a sua vontade sobre a terra. Por volta do ano 1000 d. C. havia menos de trezentos milhões de pessoas no mundo inteiro ( alguns pesquisadores apontam para cinquenta milhões ) e a maioria sequer sabia que tinha alguma relação com outras nações e continentes. Cada cultura vivia confinada pelo clima, pela geografia e pela ignorância.

Antes da Revolução Industrial, no Século XVIII, as conquistas territoriais e as transformações sociais se davam pela força exclusivamente. Ao contrário do que muita gente pensa, os líderes dessas incursões, além de seus formidáveis exércitos se valiam da espionagem e de informações secretas para expandirem seus domínios. Intencionalmente ou não esses avanços se davam para conquistar e empreender. Como observa John Man na página 17 no penúltimo parágrafo, “hoje o mundo se transformou em uma aldeia. Como isso aconteceu?

-A tecnologia, a economia, as doenças e muitas outras forças imensas e impessoais desempenharam seus papéis. O mesmo correu com inúmeros indivíduos. Líderes, inventores, exploradores, pensadores e artistas entrelaçaram povos e tecnologias, alguns mais do que outros. Esse senhor Khan, como o pesquisador do Post se referiu a Gênges, certamente foi um deles.

John Man vai mais longe ainda em suas evidências ao afirmar que “as conquistas de Gêngis forjaram novas ligações entre Oriente e Ocidente. Ele e os seus sucessores construíram ou reconstruíram os alicerces de vários países modernos como a China, Rússia, Irã, Afeganistão, Turquia, Síria, Tibete, Ucrânia, Hungria e Polônia, e dos novos países da Ásia Central. As conquistas realinharam as principais religiões do mundo, influenciaram a arte, estabeleceram novos padrões de comércio e os seus feitos continuam sendo a pedra angular da história eurasiana”.

Man não diz mas deixa evidente que essa era de conquistadores guerreiros, solitários e empedernidos, termina com a saga dos Khans. Daí em diante as conquistas passaram a ser financiadas e incentivadas pelo ESTADO através de aventureiros bem fornidos de informações disponíveis e muita coragem. É o caso, por exemplo, de Marco Polo e suas viagens transcontinentais no Século XIII financiadas pelo Estado veneziano. Numa delas Polo ficou por 20 anos na corte do neto de Gêngis Khan, conhecido como o Imperador Kublai Khan. Nessas duas décadas Polo espionou e compilou todas as informações possíveis sobre a China, em particular, e trouxe de volta para sua corte.

Tanto é verdade que Man ao pular da história eurasiana para a mundial e fazer um paralelo da importância dos fatos para o curso da história mundial na página 18 ele afirma que nada disso “ se compara à revolução iniciada pelo grande salto rumo à formação da nossa aldeia global que foi a descoberta da América pelos europeus ( ou melhor a redescoberta pois terá sumido da memória a conexão realizada pelos vikings por volta do ano 1000?). Se fosse preciso escolher o homem do milênio, Colombo não teria precedência sobre Gêngis? Em uma palavra: não ".

Ele explica porque:

-Muito mais que Gêngis Colombo foi uma expressão do seu tempo. Se Colombo não tivesse desbravado o caminho para o Novo Mundo, alguém o teria feito, pois muitos outros estavam sendo enviados para essa exploração. Esses homens e seus financiadores queriam chegar à China. Por que? Porque a riqueza da China, transportada a longo da chamada Rota da Seda, era lendária desde os tempos romanos até o Século VII, quando a ascensão do islamismo limitou o comércio; e porque Marco Polo, em suas viagens até ali, dois séculos antes de Colombo, confirmara tratar-se da maior fonte de riquezas do mundo sob o comando do grande cã ( ou chefe ) Kublai Kan. O Signor Polo conseguiu chegar à China porque por volta do Século XIII a rota através da Eurásia foi reaberta; e estava aberta porque os mongóis governavam desde o leste da Europa até a China, tendo Kublai como chefe; e Kublai governava porque herdara de seu avô Gênges o papel de Imperador.

E continua: “a grande ideia de Colombo foi dar a volta ao mundo pelo outro lado, pelo oeste, por um oceano desconhecido, e encurtar o itinerário para a China. Por acaso a América estava no caminho. Assim, por uma série de coincidências, durante quase três séculos a visão de Gênges Khan a respeito de império forneceu uma contribuição crucial para a redescoberta e a colonização do Novo Mundo.”

obs: o autor escreve o nome do personagem de acordo com as obras consultadas. em algumas ele é grafado como Gengis e em outras como Genges

Nenhum comentário:

Postar um comentário