16 de maio de 2014

A NOVA ORDEM ( II )

Ao longo dos últimos dois mil anos é possível que só mesmo a vida de Jesus Cristo envolva tantos mistérios a serem descobertos quanto a vida do Genges Khan. Passou à história como um bárbaro, sanguinário e rude. É o personagem que menos se conhece, verdadeiramente, na história, depois de Cristo. Até mesmo sobre Alexandre, O Grande, o Rei da Macedônia (356 a. C.) outro grande conquistador, a história tem mais registros pessoais e históricos do que a do Genges Khan que viveu mil e quinhentos anos depois.

Atribui-se esse interesse ao fato do Alexandre ter sido um macedônico que teve como tutor um filosofo grego e com a invasão da Grécia pelo Rei da Macedônia Filipe II pai de Alexandre (338 a. C.) a elite de então, sabiamente, descobriu que era melhor aliar-se a ele a enfrentá-lo. Era a época áurea dos filósofos e à frente deles ninguém menos que Aristóteles seu preceptor, pai de criação e homem detentor de grande sabedoria e poder na velha Atenas.

Mais isso é outra história. Assim, Alexandre cresceu e resoluto assumiu o pensamento hegemônico dos filósofos gregos. Triunfou não só conquistando terras, mas implantando uma cultura cujos vestígios estão espalhados num pedaço da Europa até os dias de hoje: a cultura helênica. Informação precisa, espionagem e bisbilhotice não lhe faltou.

Genges Khan nasceu no ano de 1.162 e foi nomeado pelos pais como Tejemudjin que na raiz etimológica da palavra turco-mongol vem de ferro e significa ferreiro. Dizem os historiadores que era um esmirrado garoto, o mais velho de uma trupe de doze irmãos, membros de uma família de nômades no interior da Mongólia, na Ásia Central. Por razões tribais seu pai foi envenenado e toda a família jurada de morte, impiedosamente, por uma tribo tártara. O pai ficou conhecido como YESUKEI “era muito decidido e seu clã, os Kiot Bordjiguene era famoso pela audácia”. Com a morte de Yesukei um seu comandado passou a rival, amistoso.

Conhecido como Targhutai-Kiriltuq e chefe de uma tribo de nome taitchi'ut, o rival ordenou a reclusão de sua mãe, a viúva Hoelun e sua prole na aldeia onde viviam afastadas das famílias dos outros membros da tribo. Mulher, viúva e com muitos filhos pequenos estava condenada. Os anos passaram e o rival percebeu que a prole de Hoelun crescia. Imaginou que aqueles meninos logo se tornariam guerreiros e poderiam se voltar contra ele. Tomou a decisão de extirpar a família.

Os irmãos esconderam-se na mata e foram cercados pelo grupo rival. Kiriltuq os encontrou e negociou a rendição do mais velho, Tejemudjin, então com 15 anos de idade. Este se entregou e foi direto para o castigo: preso a uma canga de madeira em volta do pescoço e com os braços amarrados para trás. Era um suplício odioso porque além da imobilidade e dor, humilhava a vítima diante de todos fazendo-o percorrer as tendas de modo ultrajante. Assim ele permaneceu à espera do seu futuro.

Mas seu destino estava selado. Logo optou pela fuga se jogando na correnteza do rio aproveitando-se da distração dos seus algozes envolvidos numa festa tribal. Algumas correntezas adiante foi salvo por membros de uma família de sua aldeia que viviam por ali. Aos 15 anos de idade começou a crescer escondido e a aprender a se defender e defender os seus. 

Seus biógrafos, ente eles o francês Michel Hòang, destacam que “durante muito tempo imaginou-se que os antigos nômades da Ásia Central - hunos, tártaros, mongóis e tungues, entre outros, todos associados ou assimilados em uma massa humana indistinta - surgissem repentina e sucessivamente das vastas estepes açoitadas pelos ventos. Possuíam a mesma língua, a do sabre, e sua única atividade era a pilhagem”.

Hoáng diz mais na página 37:

- Ondas tão brutais quanto inesperadas de hordas selvagens investiam contra as terras férteis do mundo civilizado, logo transformadas em desertos. A matriz desses nômades asiáticos era um lugar impreciso e inominado, imensa vacuidade sem limites nem cultura, sem templos nem cidades, sem Estados nem leis, uma região infernal de morte e desolação. A realidade, muito mais complexa, merece que nos detenhamos por um momento nesses espaços que viram nascer os conquistadores mongóis.

Ignorada durante séculos pelos europeus, mas também por chineses, indianos, persas e árabes, a Ásia Central continua sendo uma das partes mais mal conhecidas do globo. O antigo mundo ocidental o silencia sobre essa região, tratada como terra incógnita por cronistas e geógrafos, enquanto os analistas da China antiga a ignoraram com frequência, abandonando-a à sua profunda barbárie. “Foi preciso esperar o Século XX para que expedições verdadeiramente científicas abrissem, enfim, o coração da Ásia”.

Daí veio Gengis Khan.

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