28 de abril de 2014

HERDEIROS DE CARLOS MAGNO

Os herdeiros de Carlos Magno não manteriam suas conquistas nem os territórios, mas a Igreja Católica havia trabalhado bem. Sob inspiração dela e aconselhado pelo alto clero Calos Magno implantaria, definitivamente, no Século VII, a semente da Europa dos próximos mil anos depois de sua época . Não importa se ela fragmentou-se algumas vezes. Não importa se o reino carolíngio se subdividiu e os herdeiros desapareceram. Carlos Magno já havia mergulhado a Europa num fervor religioso aonde se ia para o céu ou para o inferno.

Sob esse manto ele moldou essa Europa que conhecemos hoje. Não havia opção. Com ele a Igreja se consolidou com o cristianismo fervoroso ao cumprir sua tarefa de retirar o homem do paganismo. E este fervor religioso contaminou todo o Continente e colocou todos os seus reinos subjulgados ao Vaticano. Somente três séculos depois de Magno essa nova Roma, o Vaticano, passou a sonhar em dominar a palestina.

Por volta do ano de 1.100 da Era Cristã começaram as Cruzadas, expedições organizadas pela nobreza, pelo clero e pelos reinos, destinadas a saquear e conquistar Jerusalém que havia muitos séculos estava em poder dos árabes, muçulmanos. Não há registros, na história, de quem foi o mais esperto e inteligente: se o Carlos Magno que percebeu o vazio deixado pelo fascínio à Roma dos Césares e ocupou este espaço usando a Igreja e o catolicismo para solidificar e expandir seu reinado, ou se foi ao contrário: a Igreja que usou o Rei para se impor. O que importa mesmo é que a doutrina da Igreja estava consolidada em todo o território europeu e além. Mesmo fragmentando-se, em muitos séculos, os princípios deixados por Carlos Magno e pela Igreja sobreviveram a todas as guerras e divisões. E quanto maior e melhor se dava a coleta de informações consolidava-se o poder católico nos mais diversos reinos.

Foi tanto poder e glória que mais tarde a própria Igreja se subdividiu. Na evolução dos anos e do poder na Europa de então a Igreja de Roma veria a partir do ano 988 o cristianismo espalhar-se por toda a Rússia e veria também o surgimento da Igreja Ortodoxa russa, insubmissa ao Vaticano.

A queda do Império Bizantino deixou o Vaticano à deriva e muitos dos seus feudos se tornaram independentes sem aviso prévio. Poucas décadas depois era a Grécia que fundava a sua própria Igreja católica. Com o tempo, as diferenças culturais criaram várias rusgas entre elas, como a que diz respeito à língua oficial dos cultos: os cristãos do Ocidente queriam o latim, enquanto os do Oriente não abriam mão do grego e do hebraico.

A separação veio em 1054, no chamado Cisma do Oriente. Os ortodoxos questionavam a autoridade papal e não aceitou a interferência de um cardeal enviado pelo papa Leão IX a Constantinopla, na Turquia. Resultado: o patriarca grego Miguel Cerulário foi excomungado pelo Vaticano.

De acordo com o capítulo referente aos fundamentos da Igreja Ortodoxa russa o “segundo Concílio Ecumênico foi realizado em Constantinopla, no ano 381″.

Era uma época que o Vaticano ainda contava com as benesses de Bizâncio, a capital do Império Romano no Oriente. Mais tarde, foram convocados outros Concílios Ecumênicos (sete) para a reafirmação do verdadeiro dogma cristão, sendo obrigatórias suas resoluções que, com a Sagrada Escritura, constituem a base e o fundamento da Igreja Cristã.

Diz ainda os fundamentos da Igreja Ortodoxa russa:

“O triunfo do Cristianismo se determinou no terceiro século após a morte de Cristo, motivado pela paz decretada por Constantino, Imperador de Roma. Até então, o Cristianismo vivia nas catacumbas, locais onde eram celebrados todos os atos religiosos e se aprendia a religião de Cristo (Atos dos Apóstolos). Desde aquela era, a Igreja de Cristo segue seu caminho através do mundo, pregando a doutrina de Jesus Cristo.

- A Igreja Ortodoxa veio à luz na Palestina com Jesus Cristo, expandiu-se com os Apóstolos e se edificou sobre o sangue dos mártires. Não teve sua origem na Grécia ou outro Pais que não seja a Palestina. Ela não morre, porque vive e descansa em Cristo e tem a promessa divina de que existirá até o fim dos séculos. Em vão, os seus inimigos, e todos os corifeus da impiedade trataram de destruí-la, nega-la, persegui-la. À semelhança de seu divino Mestre e fundador Nosso Senhor Jesus Cristo, a Igreja Ortodoxa, desde seu nascimento, no ano 33 de Cristo, tem padecido e sofrido terríveis perseguições debaixo do jugo do Império Romano, passando pelo muçulmano turco, até nossos dias”.

Como se lê e se pode deduzir nem sempre a Igreja Católica, Apostólica e Romana foi um bloco monolítico pela fé. Foi mais pela força, desde os seus primórdios. Entre os séculos XV e XVI o Vaticano chegou a ter seu próprio Exército. Ela cuidou de se aprimorar através dos tempos, principalmente em informações e espionagens para aceitar dissidências e dominar territórios.

Os cristãos Ortodoxos dizem ainda lá nos seus fundamentos:

- A ortodoxia é a corrente doutrinal que declara que representa a visão correta, fundada em princípios sistemáticos (metafísicos) e científicos. O contrário é a heterodoxia.

Os cristãos ortodoxos, por força da denominação, são os que professam toda a doutrina da fé cristã de acordo com o magistério da Igreja. Apoderaram-se, porém, da designação da Igreja bizantina depois do cisma que os opôs a Roma (nos séculos IX e XI) ao se arvorarem em depositários da fé verdadeira em oposição à Igreja latina. Ficaram, por isso, a ser denominados ortodoxos os cristãos da Europa Oriental, que se mantêm separados da Igreja Católica Romana.

A Igreja Ortodoxa se vê como a verdadeira igreja criada por Jesus Cristo, além de não reconhecerem o Papa como autoridade. Para os cristãos ortodoxos, como são chamados, não existe purgatório e não acreditam na virgindade de Maria após a concepção. Na Igreja Ortodoxa, os padres são liberados para o casamento, desde que este tenha ocorrido antes da sua conversão, e apenas os bispos são obrigados a manter o celibato.

Em 1533 o Vaticano viu nascer outra dissidência: dessa vez na Inglaterra com o surgimento da Igreja Anglicana. O Rei Henrique VIII era casado há 24 anos com Catarina de Aragão. Com ela, teve seis filhos, mas só um deles, uma menina, sobreviveu. Preocupado com o futuro do trono, Henrique deixou-se encantar por Ana Bolena – uma dama educada, culta, jovem e louca para subir na vida. O Rei pediu o divórcio. O papa Clemente VII negou. E ainda se recusou a abençoar a sua segunda união. Henrique VIII não pensou duas vezes: cortou relações com Roma e se declarou o chefe de uma nova Igreja – a Igreja Anglicana. Mas fazia tempo que vicejava na sociedade inglesa o desejo e a aspiração de um altar diferente do Vaticano. Pelo menos é o que conta a história repassada pela Igreja Anglicana do Brasil: (1)

-o desejo de separação já estava presente bem antes desse episódio. Desde o século II, para ser mais exato. Naquele tempo, ainda não havia a religião católica. Existia apenas o cristianismo. Onde os apóstolos paravam, construíam uma igreja, que ganhava o nome do povo local. Na Grã-Bretanha, virou Igreja Celta: uma adaptação do cristianismo aos costumes, crenças e tradições da região.

No século VI, já a mando da Igreja Católica, santo Agostinho se estabeleceu na cidade inglesa de Cantuária, com o objetivo de converter os anglo-saxões. Virou o arcebispo de Cantuária e colocou a Inglaterra sob a tutela do Vaticano. A missão de Santo Agostinho deu frutos e durou quase mil anos.

Mas não ficou por aí.

Muitos séculos mais tarde, quase mil anos depois, a Igreja Católica se veria, de novo, diante de outro cisma, seríssimo. Dessa vez era um Frei alemão, de nome Martinho Lutero que se rebelava contra os desígnios do Vaticano. O certo é que no dia 31 de outubro do ano de 1517, Frei Martinho Lutero escreveu, indignado, uma carta de protesto ao arcebispo de sua região e junto um exemplar de suas famosas 95 teses. Lutero faria na Alemanha a mais séria cisão que a Igreja Católica e os reinos europeus veriam em toda a sua história: a criação do protestantismo. Antes disso, porém, havia outro inimigo a combater: o Corão.

Ele ameaçava o norte da Europa, entrando pela Espanha. Sob o pretexto da conquista da cidade de Jerusalém, cada reino queria o seu naco de saques e dos tesouros da cidade que sempre foi Santa, mesmo antes de Cristo. Até que no ano de 1.095 o Papa Urbano II conseguiu convencer todo o continente que a guerra contra Islã não era apenas de um ou outro país, e sim de todo o Continente. Isto porque a ala oriental da Igreja que tinha sua sede em Constantinopla estava em perigo, pronta a sucumbir diante da ameaça e da avalanche islâmica que já dominava grande parte do Oriente Médio e da Ásia Menor.

O Papa Urbano II estava convencido que o objetivo final do Islã era conquistar toda a Europa Ocidental e varrer do mapa a Igreja Católica. Diante desta ameaça se faziam necessárias ações rápidas de conquistas pela força e com planejamento e inteligência.

A Igreja Católica já era uma potencia com sua sede na mesma Roma dos Césares que um dia dominaram o mundo. Esta Igreja tinha nos reis os seus generais e estes, diligentemente, implantavam por convencimento ou pela força a fé em Cristo e a cega obediência dos fiéis ao santo espírito emanado do Vaticano. Esse rebanho era mantido cativo e se embevecia não somente com a ação pastoral do catolicismo que em nome de Cristo acolhia nos seus mosteiros, orfanatos e centros sociais os deserdados da sorte e esquecidos pela realeza. A Igreja nunca socializou tanto. E impunha seu poder também através de esplendorosos templos cujas estruturas monumentais maravilham o homem até hoje e o tornava escravo e respeitoso ao Estado e a Deus.

Por essa época quem dava importância à espionagem e a informação era a Igreja Católica, romana. E tinha sua forma especial de colher informações: o confessionário. Os reinos europeus pouco ligavam para esta nova ciência. E tanto é verdade que no século XIII eles quase foram varridos do mapa por um exército bem informado.

Essa é a parte da história que conhecemos. Uma versão muito simplista, diriam os anglicanos.

(1) Igreja Episcopal Anglicana do Brasil

www.ieab.org.br

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