8 de abril de 2011

PERIGOS E LIMITES NA REDE (parte II)

A Internet é um campo de batalha. Mas um campo de batalha diferente de todos os outros. Suas fronteiras e seu território mudam constantemente, novas armas sofisticadas podem ser fabricadas e utilizadas por programadores amadores de software usando PCs baratos, e seus usos comerciais e sociais estão inesgotavelmente entrelaçados aos usos militares. Ela neutraliza muitas das vantagens tradicionais dos grandes exércitos que usam armas físicas de última geração.
Quem garante isso é o americano, jornalista e escritor, Nicholas Carr, autor do livro A Grande Mudança (Editora Landscape). Não faz muito tempo, li que uma das razões do sistema nuclear iraniano não estar ainda cem por cento em operação é em função dos efeitos da ação de um hacker no centro operacional. Falei dessa informação com um dos maiores empresários brasileiros da área de construção pesada e telefonia. Homem inteligente, bem formado, afeito à leitura e atualizadíssimo. Ele nem me deu bola e arrematou dizendo que não acreditava ser possível tal feito e achava que era fantasia. Com o tempo, descobri que aqueles que não são muito afeitos aos negócios da internet e suas consequências não possuem a menor noção do seu espectro, de seu poder e de sua dimensão. Mas é bom que tomem consciência logo.
Na página 157 de A Grande Mudança, narra o jornalista Carr que, no final de 2006, “as tropas britânicas que haviam ocupado a cidade de Basrra, no Iraque, passaram a sofrer ataques cada vez mais precisos de projéteis lançados por morteiros de combatentes rebeldes escondidos dentro da cidade e de suas vizinhanças. Um soldado foi morto e vários outros ficaram feridos nessas ofensivas. Passado algum tempo, o exército inglês deu início a uma série de ataques às casas e aos esconderijos de suspeitos na esperança de reduzir os bombardeios. Em alguns dos lugares em que entraram, ficaram surpresos ao descobrirem páginas impressas do serviço de mapeamento Google Earth. Mostravam as posições britânicas com detalhes suficientes para identificar tendas individuais e até latrinas. Diz o professor que uma das páginas impressas encontrada pelo pelotão inglês mostrava o quartel general do regimento Staffordshire, de mil membros, e a longitude e a latitude do acampamento estavam anotadas no verso. Os oficiais da área de inteligência logo concluíram que os rebeldes estavam usando as imagens para determinar o alvo de sua artilharia. Foi essa descoberta que possibilitou aos especialistas em tecnologia militar a confirmação do que eles já suspeitavam fazia tempo: os terroristas e guerrilheiros podem obter informações valiosas do Google Earth e de outros mecanismos de mapeamento da internet. Combinadas aos dados de localização de dispositivos GPS (sigla em inglês de Sistema de Posicionamento Global) comuns, as imagens podem ser usadas para definir alvos de bombas e ataques com grande precisão. Oferecem uma alternativa simples, mas eficiente, aos sistemas de tecnologia avançada empregados pelos exércitos modernos.
Diz ainda o jornalista Carr que as tropas que foram alvos dos tiros de morteiro ficaram revoltadas com a notícia de que seus inimigos estavam usando mapas e imagens impressas retirados de um site público da Internet para definir seus alvos. Disseram a um repórter do Daily Telegraph (jornal de Londres) que processariam o Google se fossem feridos em ataques futuros. Queixaram-se de que os combatentes inimigos sabiam por seus mapas onde eles comiam, dormiam e iam ao banheiro até. Lembra Nhicolas Carr que “a raiva do soldado é compreensível. Mas não tem fundamento. O Google Earth é usado por milhões de pessoas diariamente para objetivos absolutamente pacíficos”. Mas admite também que para os terroristas a internet é uma dádiva do céu. Recorda que além de oferecer acesso fácil a mapas, fotografias, descrição de armamentos e outras valiosas informações táticas, funciona como uma rede de comunicações de múltiplas finalidades, instrumento de observação e vigilância, canal de propaganda e meio de recrutamento, tudo gratuito em praticamente todos os lugares do mundo.
Os pesquisadores do Dark Web Portal (Portal Sinistro da Web) um projeto da Universidade do Arizona que acompanha e avalia as atividades on-line de grupos terroristas, conseguiu detectar mais de 325 sites terroristas escondidos na internet no ano de 2006. Os sites tinham cerca de 280 gigabytes de dados que incluíam 706 vídeos (70 eram de decapitações e 22 mostravam ataques suicidas) ,bem como mensagens em áudio e imagens de alvos de ataques futuros e atuais que iam de veículos a pedestres. Com a observação de que a internet oferece uma infraestrutura militar prontinha, ideal para as necessidades de uma força clandestina bem dispersa, ele conclui que o campo de batalha em que se transformou a net, com fronteiras e territórios em constante mutação, é o cenário da guerra do futuro onde programadores amadores desenvolverão suas armas com software e PCs baratos com usos comerciais e sociais entrelaçados aos usos militares e de segurança. No próximo artigo, veremos como os Estados se preparam para a defesa.
Por Aleluia Hildeberto

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