10 de novembro de 2010

O FURACÃO DIGITAL ASSOLA A MÍDIA

artigo publicado na coluna claudiohumberto.com.br

Sábado, 11 de dezembro de 2010
O FURACÃO DIGITAL ASSOLA A MÍDIA
Por  Aleluia Hildeberto

No mês de julho de 2010 estive em Miami para uma temporada de quatro dias a trabalho. Fui alojado num Holiday Inn, um daqueles hotéis imensos e bem americanos, com corredores longos e uma infinidade de apartamentos por andar. Quando vi a reserva ainda aqui no Brasil julguei que houvera engano, pois o bairro do hotel chamava-se Hollywood e eu pensava que Hollywood só em Los Angeles. Mas é que Miami também tem a sua hollywood.
Todos os dias observava em frente ao elevador, no final do corredor, duas pilhas de mais de um metro de altura. Eram exemplares do jornal US Today, o diário mais vendido na América, com uma tiragem superior a dois milhões de exemplares/dia. Eu saia pela manhã e lá estava a pilha. Voltava no final da tarde ou à noitinha e ela lá continuava. No final de minha estada indaguei aos funcionários do hotel. Disseram-me que todos os dias era assim, ninguém pegava nenhum exemplar do jornal. Afirmaram-me que no começo os empregados do jornal voltavam no final da tarde para pegar as sobras, mas ultimamente nem isso faziam. O próprio hotel cuidava de jogar fora o jornal refugado.
No avião, na hora do voo, em território americano, na sala que antecede o embarque na aeronave esse que vos escreve era o único dos presentes com um livro na mão. Todos os outros passageiros ou estavam com o seu iPad, Kindle ou seu e-book. É uma clara indicação de que o livro, tal qual como o conhecemos, vive também sua odisséia.
Já vimos aqui diversas radiografias do setor midiático americano. Todas estão maculadas quando se trata de olhar o futuro da velha mídia. Mas não é só nos Estados Unidos. Na Europa, na Ásia e por aqui, entre nós também. Alguns aspectos são comprometedores e globais mesmo. Como exemplo a perda de audiência pela TV e a crise dos veículos impressos em função de tiragens cada vez menores são sintomas explícitos. O modelo de negócio dos veículos impressos é uma espiral de problemas que parece não ter mais fim, a começar pela perda de leitores nas assinaturas e nas bancas. Com isso, foge o anunciante privado e na ausência desse cai o faturamento. Em paralelo, cresce verticalmente o número de leitores da versão online dos impressos. Mas muito poucos querem pagar pelo acesso. E nos quatros cantos do mundo, o número de leitores virtuais são centenas de milhões de vezes maior do que o de leitores dos impressos. Sem contar que uma grande maioria dos impressos produz um tipo de conteúdo muito igual e na WEB o sucesso está para aqueles que investem na diferenciação.
Algumas coisas estão claras: cobrar pelo acesso não se mostrou produtivo, mas sem a rentabilidade não dá para se manter na rede. E este modelo ainda não foi encontrado. Todas as experiências tentadas até aqui passam pela combinação com o modelo online, e, neste modelo, investem em várias alternativas, desde acordos com sites de vendas de mercadorias até sites de leitura para que paguem pelo conteúdo usado. Custa crer que vingue este modelo. Quando se comparam os custos de produção dos impressos e sua pirâmide de rentabilidade em seu modelo atual, não dá para imaginar um futuro promissor na WEB. Não há como transferir para a rede o modelo de negócio que deu aos controladores das empresas que produzem impressos muito poder, dinheiro e prestígio. A verdade é que a indústria americana de revistas e jornais impressos está se despedindo dos bons tempos.
E para quem não acredita nesta hipótese, é bom dar uma olhada no mundo da moda nos Estados Unidos. Já não são as TVs, nem as revistas e jornais os mais desejados nos desfiles de lançamentos de moda. E nem tão pouco seus colunistas e paparazzi famosos. As coisas já mudaram no exclusivo mundo fashion. Os personagens mais queridos e requisitados agora são os blogueiros. Em setembro passado, na última semana de moda de Nova York, foram eles que deram o tom na cobertura. Sentados na primeira fila dos desfiles estavam blogueiros de todos os cantos do mundo, desde os das Filipinas até uma americanazinha de apenas 13 anos de idade, chamada Tavi Gevinson que faz o maior sucesso na blogosfera da moda. E o mais cruel, são amadores.
Como não existe um modelo de negócio acabado para a WEB, cada um faz o seu. Ou nem faz. Senta e escreve. Senta e transfere para o computador as fotos da câmera. Sem compromisso com nada. E os custos? Bem, os custos não dão nem para comparar com os outros veículos. Fica difícil de entender esse mundo novo quando paramos para olhar os dados e os números do programa CQC da TV Bandeirantes, por exemplo. Na TV o programa não lidera a audiência, muito embora venha crescendo em público e prestígio comercial. Mas na Internet os oito integrantes do CQC são um arraso. Juntos eles batem a marca de seis milhões de seguidores no Twitter. Isso é mais que a tiragem diária de todos os grandes jornais brasileiros. O líder, no Twitter é o Rafinha Bastos com 1.459.117 seguidores.
Mas a questão é única. Se na TV é fácil e rápido traduzir a audiência em faturamento, pois seu modelo de negócio está pronto, testado e acabado, como fazer dinheiro com essa multidão que os seguem no Twitter? Ainda não sabemos.

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