6 de agosto de 2013

A INTERNET MOBILIZANDO O BRASIL

O mês de junho de 2013 jamais será esquecido na história do Brasil. Se havia dúvidas sobre a eficiência da Internet, de sua capilaridade e sua capacidade de mobilização aqui no nosso país, elas estão desfeitas a partir de agora. E olha que temos um sistema de banda larga, caríssimo, e um dos mais antiquados do mundo. A Bulgária ganha de nós em matéria de velocidade da banda larga.

Isso não foi impedimento e nem criou dificuldades para que os brasileiros se conectassem, de norte a sul, se organizassem e ganhassem as ruas com slogans pré-definidos e uma pauta mais ou menos homogênea de reivindicações das capitais às pequenas cidades do interior.

A REDE está instalada. Mesmo em condições precárias. Da Avenida Paulista aos pequenos lugarejos do nordeste todos sabiam data, hora e locais para soltarem seus gritos. Foi a primeira vez que o país prescindiu da grande Imprensa, especialmente da televisão, para se conectar de norte a sul. Segundo informações da 24a Anual da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, a FGV sobre mercado de Tecnologia e Informação, a TI, no Brasil existem hoje 118 milhões de computadores em mão de brasileiros em pleno uso. São três computadores para cada cinco habitantes e desses 118 milhões, cinco milhões são de tabletes.

O mercado de vendas dos pcs chamados DESK TOP, ou computadores de mesa, mais as aquisições de notebooks, encolheram quatorze por cento. No primeiro trimestre de 2013 o mercado vendeu 27,6 por cento de tabletes, 39,5 de notebooks e 32,9 por cento de desktops de um total de cerca de 13 milhões de aparelhos. Enquanto as vendas no ano de 2011 ficaram no montante de 1,1 milhão de tabletes, apenas nos três primeiro meses deste ano de 2013 foram vendidos 1, 3 milhões de tabletes. Desse total oitenta e nove por cento estão funcionando com o sistema operacional Google. O sistema de navegação IOS, da Apple ficou em 10 por cento e apenas um por cento para os outros diversos sistemas de navegação.

Até dezembro eles esperam a venda de cerca de seis milhões de tabletes. Segundo o coordenador da pesquisa, o professor Fernando Meirelles, um ano atrás, os tabletes formavam um grupo de apenas um milhão de aparelhos em mãos de brasileiros. E ele informa também que até o ano de 2016 será um computador por habitante. Essa afirmação não significa que cada brasileiro venha a ter um. Significa que metade dos brasileiros irão possuir mais de um computador. Mas é um sinal inequívoco de que a sociedade se informatiza cada vez mais. Dificuldades de navegação ainda teremos muitas na próxima década. Os aparelhos portáteis só funcionam a contento com tecnologia de banda com alta velocidade.

Pois é, governos não costumam facilitar a vida da gente, de nós, internautas brasileiros. Mesmo sabendo que a banda larga quanto mais rápida for, maior será o crescimento do econômico de um país. Por arranjos, por dificuldades de investimentos e por mil outras razões continuamos com banda larga cara e lenta. Nem mesmo a 4G, nas horas de pico, funciona. Sem razões claras o governo brasileiro escolheu um sistema operacional europeu que funciona somente em Portugal, na Alemanha e mais uns poucos países, desprezando o sistema norte americano. Isso significa que se você for para os Estados Unidos com seu celular funcionando pela banda larga 4G, lá ele não funcionará. Da mesma forma para os americanos que para cá vierem nas mesmas condições. Considere que os brasileiros vivem, e viajam muito mais os Estados Unidos que para o resto do mundo. E nós não temos tantos portugueses e alemães, só para citar dois países europeus, voando para cá. Nem tampouco os finlandeses. A desproporção não foi considerada.

Em agosto de 2012 a Anatel (Agencia Nacional de Telecomunicações) prometeu passar um pente fino nas empresas de banda larga, fixa e móvel, a partir de novembro daquele ano. Segundo seu presidente de então, João Rezende, seriam instalados 12 mil equipamentos para aferir a velocidade e a estabilidade da Internet em todos os Estados do Brasil. (veja matéria completa no jornal Folha de São Paulo, edição de 8/08/2012, caderno MERCADO, página B4). Ele prometeu também incluir nos leilões seguintes de telefonia móvel a obrigação de as operadoras oferecerem sinal para chamadas e conexão de Internet ao longo das principais rodovias do país. Pelo visto elas não lhe obedeceram. Nem nas principais cidades do país conseguimos esse feito em todos os logradouros.

Isto foi consequência de uma determinação judiciária obtida pela A PROTESTE , Associação de Consumidores que acionou a justiça para anular os termos do compromisso firmados entre o Governo Federal e as concessionárias de telecomunicações para o Plano Nacional da Banda Larga. A Associação argumentou na época, na justiça, “que os consumidores estavam sendo prejudicados porque os termos de compromisso autorizavam (e autorizam) as teles a ofertarem planos extremamente desvantajosos, com limite reduzido de tráfego de dados e sem garantia de manutenção de acesso”.

A PROTESTE denunciou ainda, na mesma época, que a concentração do setor nas mãos das concessionárias de telefonia fixa tem levado à utilização, de forma ilegal, segundo ela, das redes publicas vinculadas aos contratos de concessão para prestarem o serviço de banda larga que está em regime privado, pois as concessionárias usam a receita obtida com a cobrança de tarifa de telefone fixo, a STFC, para implantar redes privadas. Ou seja, temos recursos públicos subsidiando patrimônio privado. 

O Governo federal foi e criou a recriou a TELEBRÀS, a estatal que implantou a telefonia fixa no Brasil, para compensar a falta de serviços das concessionárias. A universalização prometida fiou por conta dela, o governo abriu mão da exigência das teles cumprirem metas de universalização, continuidade e qualidade do serviço. A PROTESTE foi no alvo. De lá para cá pouca coisa mudou. Evoluímos a passos muito lentos. A banda larga deveria ter sido incluída como exigência primordial nos contratos. Enquanto continuamos no rabo da lista de qualidade, nosso preços de banda são os campeões do mundo, em altura.

Enquanto nos Estados Unidos, a média de velocidade de conexão na Internet alcança picos de 32 megabits, MB, por segundo, esta tecnologia é quarenta vezes mais lenta que a capacidade da próxima geração de banda a ser implantada por lá, também conhecida como 802.11ac, pasmem, sem fios. Com essa nova tecnologia eles irão poder baixar toda uma série de TV em apenas dois segundos. Segundo o jornal The Wall Street Journal, em matéria publicada no dia 17 de abril de 2013, essa tecnologia se faz necessária em função das dificuldades encontradas pelas operadoras em buscar novas rotas para cabos de fibra ótica o que vem limitando as velocidades de transmissão de dados. Aqui no Brasil a imensa maioria dos usuários se vale de conexões cuja velocidade é inferior a dois megabytes, MB, por segundo. Humilhante não?

Durante a Copa das Confederações, nos finais das tardes dos jogos nas oito capitais brasileiras onde ela está instalada seu funcionamento foi um fracasso. Era o momento em que os jornalistas mais necessitavam da banda 4G. Naquelas horas nem ela e nem as outras bandas resolviam.

A operadora Claro saiu na frente com a 4G. Está instalada no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Curitiba, Porto Alegre e as cidades de Parati-RJ, Búzios-RJ e Campos do Jordão-SP. Preços e planos variam entre 550 a 940 reais por mês. Ou entre 225 a 470 dólares mensais.

Na Itália, por exemplo, país que não consta no ranking dos melhores em tecnologia digital, no mundo, os italianos navegam com uma média de velocidade dez vezes maior que a nossa e por preços igualmente inferiores. Na acolhedora cidade de Roma, num bairro próximo ao aeroporto Leonardo Da Vinci, da janela do hotel onde me hospedei no mês de junho de 2013, nas noites insones, eu observava um baixo e comprido edifício. De madrugada ele permanecia com suas salas iluminadas e sem uma alma viva transitando por seus corredores e salas. Mais que o desperdício de energia, o que mais me chamou a atenção é que nas salas não se via um armário, uma folha de papel, porta lápis ou canetas. Mesas completamente vazias e algumas com três cadeiras. Em todas elas reinava sozinho um computador. Sinal claro que ali a transição completa para a sociedade digital havia se consumado. Também pudera. O edifício que eu mirava era a sede da Microsoft para a Europa fui saber depois. Sinal de que a banda larga italiana é bem melhor que a nossa.

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