MARATONA DE HACKERS

O ser humano é provido de um rosário de sentimentos nobres e uma penca de outros nada nobres, para não dizer mesquinhos, ultrajantes e sórdidos. Indivíduos são movidos, às vezes, por opiniões e atos estúpidos associados a oportunismo, preconceito, intolerância, estupidez, ganância, inveja, insensatez e vilania. Nada disso impede ou limita a sua capacidade criativa e sua força realizadora. Há um tipo que produz, realiza e dota a humanidade de trunfos sem precedentes na história do homem. E no que diz respeito a tecnologias os exemplos são infinitos e quase diários. Um exército de homens criadores, privilegiados por neurônios férteis, não param de surpreender o mundo e dotar nossas vidas de instrumentos modernos e ágeis na chamada tecnologia da informação.

Enquanto navegamos nesse mar de conhecimentos e novidades que tornou o mundo uma pequena caixa de fósforos, e sem fios, desconhecemos que existe um outro exército criativo produzindo e disseminando o vírus do mal. Dotados de uma inteligência superior, indivíduos jovens, em sua imensa maioria homens, dedicam-se a criar e produzir, e a disseminar na rede uma família de vírus, causando estragos de toda ordem, e sobretudo prejudicando, roubando, atrasando, destruindo e infectando o trabalho de milhões de pessoas e empresas nos quatro cantos do planeta. São eles os hackers ou crackers. Muitas vezes, sem objetivo definido, outras com o declarado intuito de roubar, dedicam-se com maestria a criarem programas perfeitos.

O grande esforço da indústria da tecnologia da informação, hoje, além de criar, é encontrar uma fórmula salvadora, se é que ela existe mesmo, destinada a incorporar os hackers ao mundo legal. Dessa forma, nos Estados Unidos, um grupo de pessoas e empresas se reúne, anualmente, coordenados por um blog, o TechCrunch, numa maratona conhecida como “hackatona”, como se fora um encontro de bandas musicais em local pré-escolhido e ali quem apresentar ou compuser na hora a melhor música leva o prêmio. Só que o troféu pode significar algumas dezenas de milhões de dólares. Em junho de 2010, durante a maratona de hackers, realizada em Nova York, a hackatona, os fundadores da empresa GroupMe, dois jovens, Martocci (Steve) e Hecht (Jared), criaram em apenas 24 horas um serviço para enviar mensagens de textos para grupos. Alguns meses depois, a empresa Skype comprou o projeto pela bagatela de 80 milhões de dólares. Desde então, a Yahoo.com criou o Dia do Hack que é celebrado na hackatona.

Essas maratonas vêm deixando de serem encontros onde jovens se reúnem para fumar e beber, sem censuras, para se tornarem uma competição aberta e criativa entre programadores de computador, os hackers. Nesses encontros, eles criam aplicativos na hora e repassam para empreendedores que irão usar como plataformas em suas empresas iniciantes. As grandes empresas gostaram da ideia e lá plantam seus olheiros nessa forma divertida e barata de inovar. Segundo o editor do site TechCrunch, de cada 100 projetos exibidos no palco da hackatona cerca de 70 costuma evoluir para algo e apenas 30 por cento viram projeto de verdade, e cinco costumam virar empresas.

A ideia não é nova. O site Facebook costuma realizar sua hackatona entre seus próprios funcionários a cada oito semanas em um determinado lugar escolhido pelos jovens empregados. Uma média de 300 funcionários costuma se inscrever para os encontros que levam 8 horas de duração. Já houve encontro que rendeu 50 projetos. Nem todos são aproveitáveis, mas em pelo menos em um nasceu o aplicativo “CURTIR” do Facebook. Os investidores já descobriram este celeiro de oportunidades, assim como os governos das cidades americanas. O primeiro foi o da cidade de Nova York que lançou o concurso ReiventeNY.gov atualizando seu site, coisa que não era feita há cinco anos. O mesmo Facebook recorreu a hackers independentes pagando 40 mil dólares para que um grupo deles localizasse falhas em site. Com este gesto, a empresa pretende institucionalizar um programa de recompensa pela descoberta de vírus em seu site. Botou o ladrão dentro de casa para tomar conta do terreiro. Para o diretor de segurança do Facebook, Joe Sullivan, “há muitos especialistas em segurança, talentosos e bem intencionados, em todas as partes do mundo que não trabalham para o Facebook. Estabelecemos um programa de recompensa à detecção de vírus em um esforço para reconhecer e remunerar esses indivíduos pelo seu bom trabalho e encorajar outros a se unirem a nós”, declarou ao jornal Financial Times, de Londres.

 O Google e o Mozilla também oferecem pagamentos a pessoas de fora que encontram vulnerabilidades em seus softwares. A melhor explicação para definir essa história de vírus em nossos computadores me foi dada pelo sérvio Zivota Nokolic, assistente técnico para problemas em rede do meu escritório e computadores pessoais. Desafiado pela falta de qualidade ampliada dos antivírus, gratuitos, ele com uma resposta sábia e objetiva atesta: - E daí? As ruas estão cheias de policiais e nem por isso os bandidos deixam de agir. Transfira essa sentença para o seu PC. Por mais protegido que ele esteja, convém estar sempre atento à questão dos vírus. O mesmo vale para as grandes e pequenas empresas, visto que estas são as mais vulneráveis para a atuação dos hackers.

 Sem conhecimento do proprietário Joe Angelastri, larápios cibernéticos implantaram softwares nos caixas de suas pequenas lojas de venda de revistas, em Chicago, EUA, que, por sua vez, enviou para a Rússia dados de clientes que pagaram com cartão de crédito. A Mastercard, emissora do cartão, exigiu dele uma investigação por conta própria na qual ele teve de gastar cerca de 22 mil dólares. Em depoimento ao jornal Wall Street Journal, Angelastri se mostrou estupefato diante das evidências concretas de invasão de seu micro sistema de controle de pagamentos. Mas, segundo o jornal, a moda em terras americanas para os hackers é invadir os caixas das pequenas empresas. São mais fáceis em questão de defesa eletrônica e demoram a agir. Com isso os ladrões ficam com tempo de sobra para sumirem com as pegadas. Além disso, seus proprietários não costumam se precaver eletronicamente.


 Nas palavras de Dean Kinsman, agente especial da divisão de crimes cibernéticos do FBI, a polícia federal americana, falando ao mesmo Wall Street, afirma que “a invasão a sistemas de pequenas empresas nos Estados Unidos é um problema fértil”. Revela que existem 400 inquéritos em andamento para esse tipo de crime e que “antes de melhorar, ainda vai ficar muito pior”.

O delegado Carlos Eduardo Miguel Sobral, da Polícia Federal brasileira e chefe da Unidade de Repressão a Crimes Cibernéticos, na mesma reportagem, adverte que as pequenas empresas são mais vulneráveis quando se informatizam. Ele acredita que é uma questão de tempo para que os hackers também comecem a atacar os sistemas de pequenas empresas brasileiras. E deixa uma sugestão: - O ideal é que toda empresa que armazena dados com valor econômico invista em segurança, usando dados criptografados e mais camadas de proteção.

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