1 de junho de 2010

ainda a banda larga no brasil (II)

O governo federal finalmente veio a público e anunciou o projeto do país para a banda larga. Com estardalhaço, a velha mídia emoldurou os números. Dizem e anunciam que serão investidos até 13 bilhões de reais para levar internet rápida a 28 milhões de residências em todo o país, atingindo principalmente, as classes C e D. Isso equivaleria a beneficiar mais de 60 milhões de pessoas em cerca de 5 mil municípios do Brasil. O Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) estaria destinado a reduzir em cerca de 70% o preço médio atualmente cobrado pelas concessionárias por uma assinatura de net rápida de um giga. Sairia por preços módicos, algo a partir de 15 a 20 reais, e assim seria possível levar internet rápida com baixo custo e alta velocidade para mais de 4 mil municípios, atendendo dessa forma a cerca de 80% da população distribuídas nos 26 estados mais o DF até 2014. A meta é elevar o número de domicílios ligados na banda larga de 13,5 milhões para 35 milhões daqui a 3 anos. Ao ser anunciado o plano as ações da velha Telebrás, a quem caberia a execução do projeto, subiram, num só dia, 48% na bolsa de valores de São Paulo. Muita gente ganhou dinheiro com isso. E ninguém ganhou banda larga. A ideia do governo é boa, apesar da grita das teles, e a Telebrás é a única capaz de levar a banda larga ao interior do Brasil, não só por sua infraestrutura e capilaridade, como também pela capacidade de subsidiar aqueles que não poderão pagar. E sem banda larga espalhada por todo o país, o Brasil jamais poderá crescer o que se espera. Entre os aportes do tesouro, BNDES, recursos com origens em fundos e outros créditos, o governo espera aportar na nova empresa 13 bilhões de reais nos próximos 4 anos e assim atender as metas fixadas com ofertas que irão de velocidades de 1 megabit por segundo (Mbps), a provedores de até 230 reais e os provedores repassariam aos usuários acessos a partir de 35 reais por 216 kilobits por segundo (kbps) e acesso de 750 Kbps custaria 50 reais, em média. Essas velocidades são risíveis perto do que existe nos países de primeiro mundo e até na Letônia e Bulgária, no Leste Europeu, com banda larga muito melhor e mais barata que a nossa. Mas, como diz o ditado popular “quem não tem cão, caça como gato” e está muito bom. Um pequeno detalhe, importante, foi omitido, nesse caso. A União Internacional de Telecomunicação, organização mundial que congrega os interesses das empresas de telecomunicações, espécie de FIFA do setor, em seus estatutos diz que a banda larga só é considerada a partir de 2 Mpbs . Não será o caso da nossa Telebrás. E por último temos o grave problema da Amazônia, onde se destaca o caso de Roraima que deverá ficar fora do programa. Nas expectativas mais otimistas do governo o alcance de Roraima pelo PNBL só se dará em 2014. Pensa-se em fornecer o serviço através da Venezuela por meio de sua rede de fibra ótica, já que a Venezuela é quem fornece a energia elétrica que abastece aquele Estado. No país de Hugo Chaves falta de tudo e com pouco se pode contar. Amazônia à parte, não será ela que irá impedir a caminhada do PNBL, apenas irá se juntar a centenas de outras localidades principalmente na zona rural onde a luz elétrica ainda é um sonho. A inclusão digital da região amazônica, sozinha, engole os 13 bilhões de reais previstos no programa. As teles estão chiando, esperneando, gritando aos quatro cantos que o governo está rompendo o compromisso assinado por ocasião do programa de privatização da telefonia. Após o anúncio da criação da Telebrás as teles foram ao mercado e contrataram grandes escritórios de advocacia com o intuito de embarreirar o PNBL. Ora bolas, essas teles vendem banda larga no mercado a preços proibitivos e velocidades horrorosas. A banda larga no Brasil é uma das piores e mais caras do mundo. E mais, elas não têm condições de realizarem os investimentos necessários. Somente a título de ilustração, a OI não tem mais capacidade de endividamento junto ao BNDES, o grande agente financeiro do desenvolvimento nacional. A OI já foi até na China buscar financiamentos, está endividada nos quatros cantos e continua a vender serviços caros e ruins, reconhecidos até pela ANATEL, a agência reguladora do setor. A TIM vende uma assinatura de 7 megas com modem para notebook e quando você vai usar, ela não passa de um mega. Esse logro se sucede em todas as companhias, isso sem contar que elas são as campeãs de reclamações por parte dos usuários em todo o tipo de serviço que vendem. É justo que o governo volte ao setor. Agora o que não se discute, o que a grande mídia e o setor ignoram são os investimentos previstos para a Telebrás levar a banda larga para todo o país. Os 13 bilhões de reais previstos não dão para nada. Com esse dinheiro nunca teremos banda larga boa. Pois saibam que a Itália com menos de um quarto de nossa população e territorialmente 20 vezes menor vai investir nos próximos 10 anos, 10 bilhões de euros para levar a banda larga aos menos favorecidos. Os Estados Unidos irão investir no mesmo período 100 bilhões de dólares, isso mesmo que você leu, 100 BILHÕES DE DÓLARES, para o mesmo fim. Considere que o número de pobres na América é muito menor que o nosso e a banda larga prevista para esses dois países terá uma velocidade mil vezes maior que a nossa. Portanto, por enquanto, o nosso sonho de banda larga boa e barata é uma quimera. *Hildeberto Aleluia é jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário